Descrição de chapéu Coronavírus

Cair na estrada ao som de Jorge Ben é sonho de leitora ao fim da pandemia; leia relatos

Leitores da Folha contam qual o primeiro lugar que pretendem visitar quando o coronavírus deixar de ser ameaça

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São Paulo

Tão perto, mas tão longe. Com o avanço da vacinação contra o coronavírus no Brasil —mais de 27 milhões já receberam a primeira dose do imunizante—, o fim da pandemia está cada vez mais próximo. Porém, é cedo para comemorar. O retorno ao "antigo normal" ainda está distante da realidade no nosso país, que já acumula 378.530 mortes por Covid-19 e mais de 14 milhões de casos da doença.

No entanto, o brasileiro ainda tem o direito de sonhar. Pensando nisso, perguntamos aos leitores da Folha qual o primeiro lugar que eles pretendem visitar quando as máscaras e o álcool em gel se tornarem coisa do passado —assim como é, atualmente, o beijo na boca.

Como não poderia deixar de ser, as respostas, enviadas por pessoas de diversas idades, profissões e origens, foram carregadas de saudade. Do espetáculo sensorial que só uma sessão de cinema pode proporcionar, do aconchego do abraço de quem amamos, da estrada ao som de Jorge Ben Jor e até da beleza e da tranquilidade de uma visita ao cemitério.

Confira abaixo uma seleção dos melhores depoimentos recebidos.

Assim que acabar a pandemia quero visitar o Museu do Eclipse que está localizado no ponto de onde foi observado o eclipse de 1919, em Sobral, no Ceará. Sua arquitetura arrojada, com ambientes no subsolo climatizados, não recomendam visitas em tempo de pandemia.

Quero ver as fotos originais do eclipse, a luneta, a edição do The New York Times e todos os registros que comprovaram cientificamente a teoria da relatividade há mais de 100 anos.
Quero ter a certeza de que a Terra não é plana, enfim.

José Osmar Azevedo Carneiro, 68, engenheiro, Recife (PE)

O primeiro lugar que eu irei visitar e voltar a frequentar é o cinema. Saudades do cheiro de pipoca, do barulho do projetor e do espetáculo sensorial que somente a tela branca do cinema proporciona.

Lucas Alegre Castro Siqueira, 27, estudante, Campo Grande (MS)

Depois que a pandemia acabar, ou diminuir bastante, eu gostaria de visitar o cemitério que fica aqui perto de casa. Eu costumava ir sempre lá porque é um lugar tranquilo e muito bonito. Com a pandemia, a prefeitura proibiu as pessoas de ficarem circulando por lá. Dizem que é pra evitar o contágio da Covid e evitar que mais gente acabe indo morar lá no cemitério.

Carlos Alberto Pinheiro, 61, corretor de imóveis, São José dos Campos (SP)


Em 2013 comecei a fotografar as ruas de São Paulo com um grupo de amigos. Andávamos em grupo de 30 pessoas, e quase sempre terminávamos o passeio em um bar ou café. Aos domingos, almoço no Mineiro, na rua Antônio Carlos –recomendo os petiscos.

Meu desejo após a pandemia melhorar é poder rever meus amigos em uma mesa de bar na região da avenida Paulista e poder simplesmente rir, paquerar e colocar o papo em dia, sem medo de não usar máscaras ou álcool em gel ao dividirmos a mesma porção de batatas fritas. Infelizmente, o Scada Café, que ficava no cinema do Conjunto Nacional, não sobreviveu. Boas lembranças, boas conversas e gargalhadas. Uma vez fomos repreendidos por atrapalhar uma sessão na sala ao lado. E neste mesmo local assisti ao filme “Bacurau” durante meu primeiro encontro e primeiro beijo. Agora é só memória.

Calebe Henrique B. de Souza, 23, estudante de jornalismo, Mogi das Cruzes (SP)

Quando a pandemia passar, vou colocar o carro na estrada rumo a Britânia, localizada a 325 km de Goiânia, para visitar dona Eva, avó do meu marido. Não vamos à cidade desde fevereiro de 2020. A ideia é fazer o percurso por Goiás Velho, ouvindo Jorge Ben Jor, e parando naquelas lanchonetes típicas de beira de estrada.

Tomar um café em copo americano, acompanhado de enroladinho de queijo, daqueles bem massudos, pão de queijo e peta. Sem nenhuma pressa. No caminho, visitar a cidade de Cora Coralina (Goiás Velho), quem sabe para o almoço (arroz com pequi). Comprar frutas cristalizadas e limão recheado com doce de leite.

Quando chegar a Britânia, depois de uma passagem rápida à sua vizinha Aruanã, só para observar o rio Araguaia, colocar uma cadeira na calçada pra bater papo com dona Eva e observar os transeuntes. À tardezinha, caminhar na beira do lago dos Tigres e ficar esperando o boto aparecer na superfície das águas. Para fechar o dia, um pastel frito na feirinha, localizada na lateral da igreja da praça central, próxima ao Cristo.

Denize Daudt Bandeira, 54, professora universitária, Goiânia (GO)


Quero cantar junto com meus amigos em qualquer bar no Beco do Cotovelo, em Sobral (CE), aquela do Aldir Blanc: “Amigo é pra essas coisas”; sem máscaras. Tanto as da Covid como as que teimamos, hipocritamente, em usar na alma.

Osmar Carneiro, engenheiro, Recife (PE)


A primeira coisa que farei, após a situação se normalizar, já vacinado, é entrar em uma aeronave, afivelar o cinto, atravessar o Atlântico e descer bem longe.

Vinha em uma maratona de viagens pelo mundo. Em dez anos, pisei, com minhas muletas, em 143 países. De 2020 para cá estou em casa, vendo o mundo pela TV, Internet e livros.

Hoje sou o brasileiro mais viajado do mundo com mobilidade reduzida. A meta é ser o homem mais viajado do mundo.

Só quem viaja pelo mundo, agora, é o coronavírus, sem pagar passagem, sem passaporte.
Saúde, sucesso, sorte e boas viagens para todos nós.

Luiz Thadeu Nunes e Silva, 62, engenheiro agrônomo, São Luís (MA)

Como dizia Mário Quintana: “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”. Realmente, desde que a pandemia começou o que mais sinto é a saudade de lugares e pessoas. Quando essa pandemia acabar eu não vou mais precisar relembrar e parar no tempo. Sendo assim, o primeiro lugar que vou visitar será a casa da minha avó com toda família reunida.

Primeiramente, eu confesso que não seria necessariamente pelo lugar, mas sim pelas pessoas daquele ambiente. Afinal, eu me reuniria com avós, tios, tias, primos, namorado… toda a família! Passaria horas conversando sem nenhum receio, sem falar que poderia aproveitar para comer aquele churrasco de domingo com o arroz branco da minha avó.

Eu finalmente poderia abraçar as pessoas que eu amo, principalmente, os meus avós, o que não faço mais há mais de um ano. Iria surtar de tanta alegria! Relembrando a frase de Anne Frank, a adolescente vítima do holocausto: “Os abraços foram feitos para expressar o que as palavras deixam a desejar”. É exatamente isso que eu acredito, tem sentimentos que só o toque humano pode transmitir!

Ana Carolina Arenso Barbosa, 17, estudante, Maringá (PR)


Há uma ano, em 15 de abril de 2020, enquanto eu, assustado pelo vírus, me escondia em um sítio no interior, recebi uma mensagem que me havia sido enviada no dia anterior. Era estranho receber qualquer notícia do mundo pelo 4G no sítio, mas o fato é que vi na tela do meu celular um borrão colorido --como são as imagens não carregadas no Whatsapp-- com um pequeno texto: "Gui te Felicito, yá nacio Camilo todo bien un gran cariño".

Meu filho havia nascido e sua avó me informava que estavam todos bem. Corri emocionado até onde conseguiria o mínimo sinal e lá fiquei por vários minutos baixando a foto dele, a primeira de muitas outras que recebi ao longo do último ano. Ainda não pude ver meu filho ao vivo, semana passada foi seu aniversário de 1 ano, tudo que tenho é uma coleção de printscreen salvos na minha galeria e tudo que posso oferecer é a presença virtual.

Um dia o governo brasileiro fará o que precisa ser feito, um dia as vacinas chegarão em mim e eu poderei ir para a Argentina, estar junto do meu filho, meu primeiro destino pós pandemia.

Guilherme R. S. Maia, 38, ator, São Paulo (SP)


Andar na rua dos Pinheiros, visitar suas lojinhas e ir na rua Fradique Coutinho no Tan Tan comer um delicioso lámen. Voltar na rua dos Pinheiros e tomar um café delicioso no Coffee, depois um cinema no Cine Sabesp na Fradique. Depois tomar um belo chopp no Genial da rua Girassol e matar as saudades dos garçons queridos. Enfim curtir novamente o bairro de Pinheiros e Vila Madalena, de muitas lembranças queridas.

Regina Maria Baratho, 60, estatística, São Paulo (SP)

O primeiro lugar que gostaria de ir é no Santuário de Aparecida. E também voltar à hidroginástica. Para quem não teve onde ir e nem com quem ficar está muito bom! Está ótimo! Qualquer oportunidade a mais saio correndo pra fazer as malas.

Em tempo:

1. Já tomei duas doses de vacina, mas não tenho confiança de estar imunizada.
2. Reduzir a quantidade de depressivos será desejado.
3. Ir lanchar na Padaria Roma com as amigas e tomar cerveja após assistir à missa na Paróquia Paróquia São Pedro Apóstolo será adorável.

Tanta coisa… Mas o básico será surpreendente!

Izabel Tostes Giannini, 72, Belo Horizonte (MG)


Mesmo com a facilidade de comunicação, o distanciamento físico de avós, pais, filhos e netos deixa um vazio, gera ansiedade e aos pouco afeta o nosso sono. E é nos momentos de insônia que eu viajo do litoral ao sertão. Trata-se de um trajeto de 500 Km, que liga o Recife à pequena Carnaubeira da Penha. Foi lá que eu nasci e onde vivem os meus pais.

Impossibilitado de visitá-los, faço uma viagem imaginária, motivado pela saudade de envolvê-los num longo e caloroso abraço, como sempre acontecia nos nossos encontros quando tínhamos a liberdade de visitá-los.

Além da falta desse aconchego familiar que me inquieta, vem na mente lembranças do cenário maravilhoso que é uma noite de céu estrelado, ou o clarão de uma noite de lua cheia no sertão. Fico roteirizando mentalmente como se fosse filmar, os caminhos estreitos, a casa de taipa, o fogão de lenha feito com três pedras que chamávamos de trem.

Visito através das lembranças esses lugares e tenho esperança de que a pandemia passe logo para que eu e minha companheira botemos o pé na estrada para realizar o que é hoje para mim um sonho.

Artur Gomes dos Santos, 66, Recife (PE)

O primeiro lugar que eu gostaria de visitar após o fim da pandemia, sem dúvidas, é a Disney. Após estar em isolamento por mais de um ano, percebi que a vida é curta demais para só ficarmos preocupados com o futuro e não vivermos, de fato, os momentos preciosos dela.

Em primeiro lugar, considero que a Disney é um lugar mágico, onde todos os nossos sonhos podem se tornar realidade, onde podemos deixar todos os problemas de lado e viver um dia intenso como se não houvesse o amanhã, por isso quero ir para lá.

Durante toda a pandemia fiquei completamente isolada e poucos foram os dias em que esqueci dos meus problemas da escola e de minhas preocupações com o futuro. Portanto, no momento em que esse período pandêmico acabar, quero ter a oportunidade de fazer isso e deixar tudo para trás para realmente descontrair.

Andar nas montanhas russas, se aventurar nos brinquedos temáticos e ainda conhecer alguns personagens emblemáticos da Disney tirará esse sentimento de preocupação e estresse que permanece em mim durante a pandemia.

Como já dizia Walt Disney: “Se você pode sonhar, você pode fazer”. É isso o que farei, sonharei com um futuro pós-pandêmico de muita alegria.

Luisa Rolli, 18, estudante, Maringá (PR)

O primeiro lugar que quero visitar assim que estiver imunizada é a Tirolesa do Gigante, na cidade de Pardinho (SP). Adoro tirolesas, conheço várias e vinha planejando visitar essa no início do ano passado, quando veio a pandemia. Em breve, vou lá me pendurar na corda e voar.

Lúcia Helena de Camargo, 54, microempreendedora, São Paulo (SP)

Com tantos planos postergados pela pandemia, passo a maior parte de meus dias em um quarto no interior de Minas Gerais. Experimento o ensino a distância guiada por gratidão combinada à impaciência. Assim, há mais de um ano, encontro motivação quando a porta está fechada. Isso acontece porque é nela que tenho pôsteres colados de meus destinos dos sonhos. Amazonas, Florença, Marrocos, Maranhão, Jalapão, etc.

Contudo, ressurge em minha consciência, atual e mais frequentemente, cartões postais cariocas. Imagino o momento em que poderei pisar nas águas de Copacabana cantarolando melodias da Bossa Nova. O instante em que chegarei no Arpoador e sentir-me-ei apaixonada pelo meu país e suas belezas na mesma intensidade de Policarpo Quaresma.

Idealizo a minha passagem pelas portas da Biblioteca Nacional ou o segundo em que fecharei os olhos e imagens de “O Cortiço” encherão meus sentidos. E acima de tudo, quando abrirei os olhos e julgarei a abrangência de cada argumento sobre desigualdade social utilizado em minhas redações do Ensino Médio.

Finalmente, sentarei-me ao lado de Clarice Lispector e afirmarei não ter medo só de acabar, mas também de ficar presa em um looping de notícias dos últimos 13 meses.

Ana Clara Silvério Souza, 16, estudante, Patos de Minas (MG)

O aconchego do abraço de meu neto de 8 anos. São 13 meses que não faço cafuné, não damos beijinhos, não nos apertamos, não brincamos de festa do pijama, não jogamos buraco --em que ele sempre vence--, não leio seus livrinhos, não montamos lego, não brincamos de pique-esconde, não balançamos na rede, não dormimos na barraca feito escoteiros (minhas costas agradecem essa), não jogamos Seekers Notes e Club Penguim.

Lenira Vicari, 64, aposentada, Campo Grande (MS)

Uma biblioteca!

Entrar lá, colocar o celular na função não perturbe e poder passar uma tarde toda sentindo a vida passar enquanto se passa pelas páginas de um novo mundo.

Angelica Leite, 33, advogada, São Paulo (SP)

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