Juíza nega pedido de ex-agente do Dops contra livro sobre Operação Condor
A juíza Cláudia Maria Hardt, 18ª Vara Cível de Porto Alegre, negou pedido de reparação de danos morais movida pelo ex-agente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) João Augusto da Rosa contra Luiz Cláudio Cunha, autor do livro "Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios".
A obra de Cunha, que é jornalista, relata o sequestro dos ativistas uruguaios Universindo Díaz e Lilian Celiberti e de seus dois filhos menores, em novembro de 1978, em Porto Alegre (RS), por agentes do Dops, entre os quais Rosa.
Rosa, que nega participação no sequestro, pedia na Justiça indenização porque não autorizou o uso de suas fotos e porque a obra não menciona que ele foi absolvido em segunda instância por falta de provas de seu envolvimento no sequestro.
Para a juíza, não se pode esquecer os abusos cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), fatos que foram diversas vezes relatados.
"Só se mostram toleráveis as restrições à liberdade de imprensa quando comprovado o abuso de direito, o que não ocorre no presente caso", diz a juíza na decisão.
Em fevereiro, uma audiência da ação acabou se transformando num acerto de contas entre perseguidos e agentes das ditaduras sul-americanas dos anos 70 e 80.
Rosa foi chamado de "sequestrador" e "mentiroso" diversas vezes ao longo dos 80 minutos da sessão. Na sua inquirição, que durou 13 minutos, o ex-agente do Dops queixou-se da "dor" de seus "filhos e netos" após o ressurgimento da acusação de sequestro.
Um dos momentos de maior tensão ocorreu quando a juíza perguntou a Lilian Celiberti, arrolada como testemunha do autor, se ela conhecia o ex-agente do Dops.
A uruguaia olhou fixamente para Rosa durante alguns segundos e sentenciou: "Ele foi um dos que me sequestraram e me levaram ao Uruguai". O ex-agente permaneceu impassível.
Após o sequestro, Celiberti foi ilegalmente levada ao Uruguai, onde passou cinco anos presa. Ela contou que não pode testemunhar no processo por abuso de autoridade contra o ex-agente, no início dos anos 80, porque estava "isolada num calabouço".
O autor do livro defendeu-se alegando que todas as fotos já haviam sido publicadas pela revista "Veja", que relatou o caso no final dos anos 70.
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