Segovia diz a Barroso que não falará mais sobre inquérito de Temer

Diretor da PF foi ouvido pelo ministro em audiência a portas fechadas no STF

Letícia Casado Rubens Valente
Brasília

O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que vai se abster de fazer novos comentários a respeito do inquérito que investiga o presidente Michel Temer na edição de um decreto para o setor portuário.

A posição de Segovia foi passada pessoalmente ao ministro em audiência a portas fechadas no STF nesta segunda-feira (19). A informação consta de despacho assinado no início da noite pelo ministro Barroso.

No entender da PF, ao agir assim, Segovia atende a uma observação feita pelo próprio ministro em despacho proferido no sábado retrasado (10), após uma entrevista concedida por Segovia à agência de notícias Reuters, na qual ele afirma que não há provas contra Temer no inquérito que investiga o presidente e que tramita no Supremo.

Segundo Barroso, Segovia "se compromete a não fazer qualquer manifestação a respeito dos fatos objeto da apuração".

Na conversa, segundo o ministro, o diretor-geral da PF também disse que suas declarações à Reuters "foram distorcidas e mal interpretadas", que "em momento algum pretendeu interferir no andamento do inquérito, antecipar conclusões ou induzir o arquivamento" do caso e que também "não teve a intenção de ameaçar com sanções o delegado encarregado, tendo também aqui sido mal interpretado".

Segundo a PF, Segovia considera ter esclarecido todos os pontos levantados pelo ministro em seu primeiro despacho.

Na Polícia Federal há 22 anos, Segovia foi indicado pela cúpula do MDB e escolhido por Temer para assumir o cargo em novembro de 2018. Ele substituiu Leandro Daiello, que havia sido nomeado pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2011.

ENTENDA O CASO

Temer é alvo de inquérito que apura se houve irregularidade em um decreto da área portuária que beneficiou a empresa Rodrimar, assinado em maio de 2017.

No começo de fevereiro, Segovia disse em entrevista à agência Reuters que a tendência é arquivar a investigação sobre o presidente porque não há provas de crime contra Temer.

Ele disse ainda que, se a Presidência acionar formalmente a PF a propósito do tom de perguntas feitas por escrito pelo delegado responsável pelo inquérito, poderá ser aberto um procedimento administrativo disciplinar contra ele.

Relator do inquérito no STF, Barroso intimou Segovia a esclarecer a declaração, considerada pelo magistrado "manifestamente imprópria". De acordo com o ministro, o ato pode mesmo "caracterizar infração administrativa e até mesmo penal".

Ao intimar o diretor-geral, Barroso afirmou que era necessário que ele confirmasse as declarações que foram publicadas, além de prestar os "esclarecimentos que lhe pareçam próprios e se abstenha de novas manifestações a respeito".

Ele determinou que o diretor-geral se abstenha de fazer comentários sobre o inquérito e também pediu que a Procuradoria-Geral da República tome as providências cabíveis.

O delegado que conduz o inquérito dos portos, Cleyber Malta, é um antigo desafeto de Segovia —o diretor-geral tem negado, nos bastidores da PF, ter qualquer problema pessoal com Malta.

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