Descrição de chapéu Eleições 2018

Em crítica a Bolsonaro, Alckmin combate ódio e pancadaria na eleição

Em convenção, tucano diz que não precisa de pimenta para ser presidente

Daniel Carvalho Thais Bilenky
Brasília

Oficializado neste sábado (4) candidato a presidente, Geraldo Alckmin (PSDB) o adversário Jair Bolsonaro (PSL) sem citá-lo nominalmente em um discurso contra o ódio e a pancadaria.

 

"Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças, que não busca resolver tudo na pancadaria nem usa o ódio como combustível da manipulação eleitoral", afirmou, na convenção do PSDB, em Brasília.

Simpático à ditadura militar (1964-1985), Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército, insuflou nos últimos meses um discurso duro como forma de resolver a crise nacional. Alckmin se contrapôs.

"Ainda hoje, na América Latina, vemos em que degeneraram regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que 'faz e acontece', que pode governar sozinho ou acompanhado apenas de um grupo de fanáticos. Gente assim quer é ditadura. E é ditadura que implantam quando chegam ao poder. Ditadura que logo degenera em anarquia", atacou.

O tucano disputa com Bolsonaro uma vaga no segundo turno e precisa recuperar votos do campo da centro-direita. A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice reforça a estratégia de acenar ao eleitorado que flerta com o capitão reformado.

Sua indicação desmontou o palanque de Bolsonaro no Rio Grande do Sul e azeitou a relação com o agronegócio, setor com o qual a senadora tem forte ligação.


Agora candidata a ocupar o cargo que teve Michel Temer (MDB), vice que assumiu a Presidência com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), Ana Amélia exaltou a importância da lealdade na política. 
"Serei absolutamente leal ao presidente Geraldo Alckmin", discursou. "Sou uma mulher de palavra e continuarei sendo."


Ana Amélia foi escolhida vice de Alckmin somente na última quinta-feira (2), depois de uma longa negociação entre o tucano e partidos do bloco conhecido como centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD). Inicialmente, o escolhido era o empresário Josué Alencar (PR), que recusou o convite.

Líderes do centrão defenderam a unidade em torno da senadora gaúcha, apesar de ela sustentar discurso de independência da cúpula do próprio partido.


Prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto minimizou a importância da composição da chapa não ter um representante nordestino.


"O nosso candidato a presidente não precisa ser do Nordeste. A nossa candidata a vice não precisa ser do Nordeste. O propósito do Geraldo é olhar para o Nordeste com atenção. Na Presidência, ele vai liderar todo o trabalho de crescimento da nossa região", disse Neto.


Não apenas na chapa tucana como nas demais, a negociação com vices foi tumultuada. Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e Bolsonaro foram às suas convenções com o palanque incompleto.


Na saída do ato, Ana Amélia disse que será transparente na relação com o cabeça da chapa. "Quando tiver alguma coisa com que não concorde, direi para ele corrigir o rumo, se for o caso, com a franqueza que precisa ter", afirmou.

Para elogiá-la, Alckmin repetiu que ela era a "vice dos sonhos" e lançou uma indireta a Bolsonaro e também a João Doria (PSDB), que se elegeu prefeito negando ser político, mas um gestor.


"Em seu primeiro mandato, ela já fez muito mais do que muitos que fingem há décadas não serem políticos", alfinetou o candidato. Doria se sentou na primeira fila do palco, mas distante do ex-governador paulista que o lançou na política eleitoral.


O senador José Serra (PSDB-SP), depois de encerrar sua fala, retornou ao microfone "para fazer uma reclamação, viu, Geraldo? Por levar Ana Amélia embora. Minha parceira no Senado".


Alckmin ironizou sua fama de ser sem sal. "Alguns dizem que eu serei um bom presidente, mas que não sou um candidato com a dose necessária de pimenta. Mas esta não é eleição para candidato. É a eleição para presidente", respondeu.


Prevendo nova polarização com o PT no segundo turno, o candidato tucano responsabilizou o partido adversário pelo desemprego que assola o país, em trecho antecipado pela Folha


"Foram as bravatas e o radicalismo que criaram a coincidência que sintetiza a herança trágica que o governo petista nos deixou: 13, o número do partido que lá esteve por 13 anos; pois bem, são hoje 13 milhões o número de famílias brasileiras atiradas ao desemprego", disse.


Alckmin teve sua candidatura homologada por 288 votos a favor, uma abstenção e um voto contra, após formar o maior arco de aliança entre os presidenciáveis. Terá cerca de 40% do tempo de propaganda na TV.


Dos comandantes dos partidos aliados, apenas ACM Neto (DEM), Gilberto Kassab (PSD) e Roberto Freire (PPS) compareceram. Nomes envolvidos em casos de corrupção, como o chefe do PR, Valdemar Costa Neto, não apareceram no evento.


Os tucanos fizeram discursos buscando justificar a composição com as legendas, desgastadas com investigações.


"Aliança é fundamental para governabilidade e antecipa a vitória", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


"Buscamos uma ampla aliança com vários partidos que nos dará os votos que precisamos para aprovar as reformas no Congresso", afirmou Alckmin.


Figura presente em todos os eventos do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) não foi à convenção deste sábado nem foi mencionado nos discursos. Ele foi a estrela da última convenção nacional do partido, há quatro anos.


Réu no Supremo, Aécio foi citado na delação da JBS e tentará uma vaga de deputado federal em vez de disputar a reeleição ao Senado.

VICE

Considerada um ganho para a chapa do tucano, Ana Amélia despertou declarações inspiradas. Foi saudada com um vídeo em que foi chamada de "parceira perfeita". Ao chegar à convenção, Alckmin voltou a chamá-la de vice dos sonhos

Candidato a governador de Minas e seu colega no Senado, Antonio Anastasia (PSDB) foi direto. “Eu sou apaixonado pela Ana Amélia”, declarou, olhando-a. A candidata lhe mostrou um coração de pelúcia do PSDB Mulher.

Dois discursos depois, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) também fez seu flerte. Dirigindo-se a Anastasia, disse: “Desculpe a concorrência, mas eu também sou apaixonado pela Ana Amélia”.

O senador José Serra (PSDB-SP), depois de encerrar sua fala, retornou o microfone “para fazer uma reclamação, viu, Geraldo? Por levar Ana Amélia embora. Minha parceira no Senado”.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, chamou-a de “cereja do bolo, essa querida e brilhante mulher”. O seu colega do DEM, ACM Neto, disse que torceu “muito para que fosse ela, uma mulher de fibra”.

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