Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Transição de FHC a Lula teve visita a Bush e críticas internas no PT

Em 2002, CPMF era vista como excrescência e Ciro Gomes elogiou recusa do PT em se aliar ao então PMDB

São Paulo

A transição do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para o governo Lula (2003-10) foi marcada pela iniciativa do tucano em liberar nomes de seu ministério para uma passagem de governo programática e sem ruídos, cuidando para que temas como economia, administração pública e políticas sociais fossem compreendidas pelos nomes que viriam a ser indicados pelo recém-eleito líder do Partido dos Trabalhadores. 

A agenda que o governo FHC preparou foi elogiada em editorial pela Folha, na véspera da eleição ("Transição Exemplar") em 26 de outubro de 2002, e no domingo (27 de outubro) de eleição por Kennedy Alencar, no texto "FHC e Lula criam 'ponte para o futuro'". 

Fernando Henrique Cardoso, com a faixa presidencial, cumprimenta Luiz Inácio Lula da Silva, observado pelo vice, José Alencar, na rampa do Palácio do Planalto, durante a cerimônia de transmissão do cargo - Alan Marques - 1º.jan.2003/Folhapress

​Os principais nomes indicados por Lula para darem início a transição foram José Dirceu, Antonio Palocci (que foi indicado a coordenador-geral), Luiz Dulci, Aloizio Mercadante e Luiz Gushiken (coordenador-adjunto). Na pauta, os assuntos que dominaram os primeiros dias da transição foram Orçamento, Banco Central e a relação do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Também estavam na pauta petista o aumento do salário mínimo, a reforma tributária (o partido pretendia retomar projeto aprovado em 1999), a autonomia do BC e o Fome Zero, principal programa de Lula, com gastos previstos em torno de R$ 20 bilhões anuais. 

Quase um mês após ser eleito, Lula confessou a auxiliares que 2003 seria um ano doloroso, mas que pretendia mostrar diferenças na área social [em comparação a seu antecessor] para não frustrar expectativas. 

Em 10 de dezembro de 2002, o presidente eleito se encontrou com George W. Bush, presidente dos EUA. O tema central da conversa foi a luta contra o terrorismo encampada e liderada pelos americanos. Para mostrar a importância do encontro e do tema, estiveram presentes o secretário de Estado, general Colin Powell, e a conselheira para Segurança Nacional, Condoleezza Rice. 

As indicações e as discussões de nomes e cargos começaram a criar atritos e divergências. Petistas e pessedebistas tiveram rusgas no processo de transição, o PMDB discutiu participação no futuro governo e chegou a fechar acordo com José Dirceu, o qual, depois, foi vetado por Lula. A indicação de Henrique Meirelles ao Banco Central gerou briga dentro do PT com a senadora alagoana Heloísa Helena, que criticou a indicação. "É uma personalidade que, ao longo de sua história, serviu aos interesses financeiros internacionais. Não serve aos interesses nacionais", declarou a senadora

Mesmo fora do espectro político, Meirelles, então executivo da área financeira e recém-filiado ao PSDB, havia ressalvas. Para analistas, ele não possuía conhecimento suficiente para executar a política monetária. Além dos atritos de partidos, José de Alencar, empresário e vice de Lula, disparou críticas contra a política de juros do país. Na ocasião, afirmou que a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), em vigor desde janeiro de 1997, era uma "excrescência" e a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) precisava mudar. 

Na edição de véspera de Natal, a Folha informou na primeira página sobre a composição do governo (ministérios e secretarias) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Petistas foram indicados a 16 de 29 cargos de primeiro escalão. Na ocasião Lula declarou: "Meu papel é o de maestro". 

A três dias do fim do governo FHC e apresentando o Relatório Final da Transição de Governo, o futuro ministro da Fazenda e coordenador da transição, Antonio Palocci Filho, abriu a primeira reunião ministerial comandada por Lula e apontou o que ele considerou um dos maiores erros do governo que chegava ao fim. "No que se refere ao planejamento estratégico, o Estado brasileiro vive um prolongado 'apagão'", disse Palocci. 

O jornal também reproduziu a íntegra do Relatório Final da Transição, em que o petista dizia que a política social do governo Fernando Henrique Cardoso era um "adereço". Para Palocci, persistia "uma visão que ainda não incorporou a inclusão social como tema central de uma política de Estado". 

O presidenciável nas eleições de 1998, 2002 e neste ano, Ciro Gomes, à época no PPS, foi indicado por Lula a integrar seu ministério, ficando com a pasta da Integração Nacional. Em meio a disputas por cargos e nos encontros de José Dirceu com o então presidente do PMDB, Michel Temer, Lula se recusou a trabalhar com o partido. Para Ciro, a decisão de deixar o PMDB de fora do ministério "blindou" o governo.

"O presidente Lula fez o ótimo dentro da realidade brasileira. O gesto prático dessa atitude foi como tratou a direção formal do PMDB", afirmou. Com a ressalva de que não pretendia atacar ninguém, Ciro disse acreditar que a distribuição de cargos para a então direção do PMDB —que apoiou o governo Fernando Henrique Cardoso— levaria Lula ao mesmo caminho trilhado pelo tucano.

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