Descrição de chapéu Legislativo Paulista

Dobradinha entre PSDB e PT vira arma do PSL na corrida pela Assembleia de SP

Partido de Janaina Paschoal ataca aliança entre os dois rivais contra reeleição de Cauê Macris

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São Paulo

Um tradicional acordo para a distribuição de cargos na Assembleia Legislativa de São Paulo acabou virando um trunfo do PSL, que estreia na Casa com a maior bancada e tenta eleger Janaina Paschoal para a presidência.

Numa estratégia para chamar atenção para a disputa e pressionar os parlamentares, a legenda do presidente Jair Bolsonaro mira suas armas contra a aliança que PSDB e PT historicamente fazem para ocupar os dois principais postos da mesa diretora.

A deputada estadual eleita Janaina Paschoal (PSL), que disputará a presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo
A deputada estadual eleita Janaina Paschoal (PSL), que disputará a presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo - Marlene Bergamo - 2.nov.2018

Nos discursos do PSL, propagados via redes sociais, a dobradinha é tratada como um exemplo dos acordos de conveniência que as duas siglas fazem para se manter no poder. A nova força da Assembleia diz que quer combater conchavos de bastidores —e que expor essa parceria é só o primeiro passo.

A nova legislatura toma posse no dia 15, mesma data em que será feita a eleição interna.

O favorito hoje para a presidência é o atual titular do posto, Cauê Macris (PSDB), com o apoio do PT devidamente acertado. Pelo acordo, os petistas ficam com a 1ª secretaria e entregam dez votos para a eleição do tucano.

Com a cadeira, o PT exerce poder sobre a administração da Casa e sobre a pauta, além de poder nomear 64 cargos.

A dobradinha acontece porque há um acordo tácito para que a formação da mesa obedeça ao critério de proporcionalidade, de acordo com o tamanho das bancadas. Como o PSDB costumava ter o maior número de parlamentares e o PT, o segundo, a aliança contemplava as duas legendas.

O terceiro elemento nos últimos anos foi o DEM, ao qual ficava reservada a 2ª secretaria.

Mas o jogo se embaralhou com a chegada do PSL, que elegeu 15 nomes e será a maior legenda da Casa. O PT vem a seguir, com 10, e o PSDB foi parar no terceiro lugar, com 8 deputados, empatado com o PSB, também com 8.

As conversas das principais forças políticas da Assembleia nas últimas semanas têm como objetivo manter o quadro, isolando o PSL na disputa.

O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), que tentará se reeleger presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo
O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), que tentará se reeleger presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

"A cultura do acordo está tão internalizada que os deputados não acreditam que alguém possa estar falando a verdade, e não simplesmente blefando", diz Janaina, que manteve a candidatura apesar da pressão de adversários.

A novata confirma que emissários do PSDB propuseram que ela abrisse mão da campanha para ganhar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça. Recusou. "Eu lá sou prostituta?", reage.

"Eu sinto que os deputados estão tendo dificuldades em lidar com uma eleição de verdade", segue a deputada, que diz contar hoje só com os 15 votos de seu partido e um de Arthur do Val (DEM).

Aliados de Cauê propagandeiam ter 60 votos certos para ele, de um total de 94 deputados estaduais —para se eleger, é preciso 48 votos.

No Twitter, Janaina já fez ironias com o que chamou de irmandade entre PT e PSDB. "Considero-me vitoriosa só por conseguir dar visibilidade a isso", afirma ela, famosa por ter sido autora do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

As críticas são compartilhadas pelos colegas de PSL. De forma geral, eles dizem que os dois partidos estão passando por cima de uma suposta rivalidade só para manter o controle da Casa e impedir um novo ator, o PSL, de emergir.

"Pela primeira vez em décadas temos a chance de quebrar essa hegemonia", diz Gil Diniz, o líder da bancada.

O PT, em sua defesa, diz que age pragmaticamente, para garantir influência na Casa e evitar que o poder fique concentrado nas mãos do PSDB, que governa o estado desde 1995 e conta com um Legislativo historicamente dócil.

"Estando na mesa, a gente ajuda a garantir a democracia na Casa", afirma José Américo (PT). A bancada petista fala que, assim que for encerrada a eleição, migra automaticamente para a oposição ao governador João Doria (PSDB), que foi eleito com forte discurso anti-PT e anti-esquerda.

No PSDB, a aliança também é tratada com naturalidade. "O bloco não é só com o PT, são vários partidos da Casa para a formação da mesa diretora, e o que interessa para o PSDB é a presidência", diz Carlão Pignatari, líder tucano.

"Ela [Janaina] se lançou à presidência sem conversar com ninguém. Fomos procurados pelos nossos parceiros."

No acordo deste ano, a previsão é que, depois de Cauê, Ênio Tatto (PT) se eleja como 1º secretário da Casa e Milton Leite Filho (DEM) como 2º. Outras siglas, como PR e PRB, devem ocupar os demais postos. O mandato é de dois anos.

A última vez em que o acordo desandou foi em 2005, quando o PSDB rompeu com o PT e perdeu a eleição para a presidência da Assembleia.

Foi um baque para o então governador Geraldo Alckmin (PSDB), que viu seu candidato, Edson Aparecido (PSDB), ser derrotado por Rodrigo Garcia (então no PFL, hoje DEM), que angariou o apoio dos petistas.

 

CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA ASSEMBLEIA

Cauê Macris (PSDB)
Tenta a reeleição amparado por uma aliança que combina PT, DEM, PTB e outros partidos. É próximo do governador João Doria (PSDB), para quem fez campanha em 2018

Janaina Paschoal (PSL)
Estreante, disputará o cargo para, segundo ela, promover uma verdadeira renovação na Casa. Eleita com 2 milhões de votos, tem 16 votos certos na Assembleia, insuficientes para se eleger

Daniel José (Novo)
Também novato na política, recusou aliança com o PSL. Faz campanha também com ataques ao acordo do PT com o PSDB e promessa de resgatar o protagonismo do Legislativo

Mônica da Bancada (PSOL)
Porta-voz de um gabinete coletivo que conta com outros oito "codeputados", a parlamentar de primeiro mandato se apresenta como a única candidata de oposição

 
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