Bolsonaro nomeia almirante, enfraquece ala ideológica e reforça núcleo militar no Planalto

Flávio Augusto Viana Rocha assumirá SAE, que será responsável pelo assessoramento de assuntos internacionais da Presidência

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Brasília

Num movimento de militarizar o Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou um almirante para chefiar a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). Entre as atribuições do almirante Flávio Augusto Viana Rocha está o assessoramento do presidente para assuntos internacionais.

A escolha de Rocha foi publicada em um decreto no Diário Oficial da União desta sexta-feira (14). No mesmo documento, Bolsonaro transferiu a SAE da Secretaria-Geral para a Presidência e vinculou a ela Filipe Martins, assessor especial para assuntos internacionais.

O almirante é atualmente comandante do 1º Distrito Naval, que abriga os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Antes, foi diretor de Comunicação Social da Marinha e chefe de gabinete do comandante da Marinha.

Jair Bolsonaro participa de formatura de novos cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ) - Tércio Teixeira - 1.dez.2018/Folhapress

A mudança é vista nos bastidores do governo como uma perda de força da ala ideológica. Filipe Martins é discípulo do escritor Olavo de Carvalho e sua atuação no assessoramento do presidente para assuntos estrangeiros desagradava os militares.

Ele é defensor, por exemplo, de que o Brasil adote uma postura mais pró-Israel e Estados Unidos e de um maior afastamento de países latinoamericanos governados por partidos de esquerda. 

Desde o início do governo, Bolsonaro foi desaconselhado por generais, como Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, a nomeá-lo para o posto. Os militares argumentavam que a postura de Martins poderia trazer problemas para a política externa do Brasil. 

O decreto publicado nesta sexta traz como atribuições da SAE: assistir o presidente na realização de estudos e contatos que subsidiem a coordenação de ações com organizações estrangeiras; na preparação de material de informação e de apoio, de encontros e audiências com autoridades e personalidades estrangeiras; na preparação de correspondência do presidente da República com autoridades e personalidades estrangeiras; na preparação e na execução das viagens internacionais no presidente e no encaminhamento de proposições da área diplomática. 

Com a escolha do almirante, Bolsonaro faz nova mudança na composição de forças de seu governo e fortalece os militares na chamada "cozinha do Planalto". Ainda que Martins continue à frente da elaboração de assuntos internacionais, ele terá de submeter seu trabalho à chefia de um militar. 

Na quinta-feira (13), o presidente substituiu Onyx Lorenzoni na Casa Civil por um general, Walter Souza Braga Netto. Com isso, as quatro pastas com status de ministério que ficam no Planalto são comandadas por militares. Além de Heleno no GSI, o presidente tem o major reformado da Polícia Militar à frente da Secretaria-Geral e o general Luiz Eduardo Ramos no comando da Secretaria de Governo.

O governo tem atualmente 9 militares no primeiro escalão de um total de 22 ministros. Além disso, o Palácio do Planalto conta com cargos de destaque ocupados por egressos das Forças Armadas, como o próprio presidente, que é capitão reformado do Exército, o vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva, além do porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, também general da reserva.

Braga Netto se reuniu na manhã desta sexta com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Este foi o primeiro encontro entre eles após sua nomeação, publicada no Diário Oficial pela manhã. 

Na próxima terça (18), Bolsonaro dará posse a Braga Netto na Casa Civil e a Onyx na Cidadania.

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