Indicados pelo centrão e nomeados por Bolsonaro já ocuparam cargos até em gestões da oposição

Presidente tem preenchidos cargos com indicados por partidos para evitar processo de impeachment

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São Paulo

Fernando Marcondes de Araújo Leão tem um histórico recente de serviços prestados ao Governo de Pernambuco, comandado pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), legenda de oposição à gestão de Jair Bolsonaro (sem partido).

Ocupou cargo comissionado no DER (Departamento de Estradas de Rodagem) pernambucano, foi o número dois da Secretaria de Transportes do governador Paulo Câmara e, em 2019, foi nomeado para a chefia do Procon, vinculado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos.

Nas últimas semanas, porém, ele virou o símbolo da aproximação de Bolsonaro com o chamado centrão, composto de aproximadamente 200 dos 513 deputados e conhecido por ser um bloco adepto ao "toma lá, dá cá" —entrega de cargos em troca de apoio no Congresso.

Durante a campanha de 2018, o presidente e os seus aliados demonizaram o grupo de parlamentares, muitos deles investigados na Operação Lava Jato.

No entanto, este ano o presidente passou a oferecer cargos a esses partidos em uma ofensiva para isolar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e formar uma base que lhe garanta vitórias no Congresso e impasse a abertura de um processo de impeachment —hoje há 36 pedidos parados na Câmara.

O histórico dos que têm ocupado esses postos sob Bolsonaro é eclético e inclui trabalhos prestados até à administração do PT no governo federal.

No início de maio, Fernando Leão foi nomeado como diretor de um órgão federal, o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), sob a tutela de integrantes do centrão.

Além de ter uma atuação no semiárido nordestino, o Dnocs tem uma verba prevista para esse ano de R$ 1 bilhão e um baixo controle sobre eventuais desvios e fraudes, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União).

Filiado ao Avante (antigo PT do B) desde março, Leão foi apadrinhado por deputados como Arthur Lira (PP-AL) e Sebastião Oliveira (PL-PE), que comanda extraoficialmente o Avante em Pernambuco.

Assim como o novo diretor-geral do Dnocs, outros apadrinhados pelo centrão que ingressaram no governo federal no último mês também têm a característica de sempre ocuparem cargos sob a tutela de partidos ou de padrinhos políticos.

Nos cargos loteados no governo Bolsonaro, os indicados têm acesso à estrutura e a recursos do governo federal.

Duas mudanças importantes foram feitas no setor de transportes. Nomeado em março como chefe da STU (Superintendência de Transportes Urbanos) do Recife, órgão que faz parte da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), o advogado Tiago Pontes Queiroz deixou o posto e foi promovido à Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional.

Ele havia ocupado um posto na CBTU Recife durante o governo da petista Dilma Rousseff. Segundo a companhia, Queiroz foi Gerente Regional I de Administração e Finanças em 2015 e 2016.

Antes do governo Bolsonaro, Queiroz trabalhou no Ministério da Saúde do governo de Michel Temer (MDB), a época sob o comando de Ricardo Barros.

Deputado federal pelo PP do Paraná, Barros tem se aproximado de Bolsonaro no discurso em defesa do uso da cloroquina em pacientes com Covid-19.

Com a benção do PP, Queiroz largou o comando de um órgão com orçamento previsto de R$ 1,1 bilhão para 2020 e assumirá um que tem verba autorizada de R$ 17,2 bilhões.

No lugar de Queiroz, também foi nomeado para a STU um indicado pelo centrão: Carlos Fernando Ferreira da Silva Filho. Ele é ex-secretário de Habitação do Recife (em gestão de Geraldo Júlio, do PSB) e de Saúde de Jaboatão dos Guararapes (PE), gerida pelo prefeito Anderson Ferreira (PL). O irmão de Anderson é o deputado federal André Ferreira (PSC).

Ainda foi nomeado para a a Diretoria de Ações Educacionais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) Garigham Amarante Pinto. Ele trabalhou como assessor do PL, partido comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, que foi condenado no mensalão.

Além desses quatro, Bolsonaro também reeconduziu o ex-ministro Carlos Marun (MDB), um dos mais fiéis aliados do ex-presidente Michel Temer, para o cargo de conselheiro da Itaipu Binacional.

Marun, que no governo Temer comandou a Secretaria-Geral da Presidência, foi indicado para Itaipu no último dia do mandato do emedebista. O mandato na Itaipu Binacional terminava no último dia 16 e, com a renovação decidida por Bolsonaro, o ex-ministro tem assento na usina até 2024.

Também foi reconduzido o ex-deputado José Carlos Aleluia (DEM) para o conselho da usina, cacique do partido e antigo fiel escudeiro do senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007).

O filho de Aleluia, o vereador de Salvador Alexandre Aleluia (DEM), é um dos responsáveis por organizar a criação na Bahia da Aliança Pelo Brasil, que pode se tornar o futuro partido de Bolsonaro.

O centrão emplacou mais um nome no governo Bolsonaro nesta segunda-feira (25), com Paulo Roberto Aragão Ramalho assumindo a Diretoria de Tecnologia e Inovação do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). A área é responsável, por exemplo, por especificações técnicas em licitações para compra de computadores. Trata-se de mais uma indicação do PL.

Integrantes de partidos do bloco, como PP e PL, esperam que seja concretizada nesta semana a negociação para definir quem ocupará espaços importantes no Ministério da Saúde. A Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério foi oferecida ao PL há cerca de um mês. Wellington Roberto, líder do partido, tenta emplacar no cargo um aliado da Paraíba.

Nomeações ligadas ao centrão feitas por Bolsonaro

Fernando Leão (Avante)
Nomeado para a direção-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), indicado pelo Progressistas.

Vinculada ao MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), a autarquia é responsável pela construção de barragens e açudes nas regiões áridas do país, tem forte caráter assistencial no interior do Nordeste.
Apesar da indicação do Progressistas, Marcondes é filiado ao Avante.

A costura fez parte da estratégia de partidos maiores de atraírem siglas menores para a base do governo.

  • Orçamento do Dnocs autorizado para 2020: R$ 998,5 milhões

Carlos da Silva Filho
Nomeado para a Superintendência de Trens Urbanos do Recife por indicação do PSC. A superintendência faz parte da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), que é vinculada ao MDR. A nomeação teve a chancela de caciques do centrão da Câmara com o objetivo de levar o PSC, que tem nove deputados, para a base de Bolsonaro.

  • Orçamento da CBTU autorizado para 2020: R$ 1,1 bilhão

Tiago Pontes Queiroz
Nomeado para a Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional por indicação do Republicanos. Advogado, Queiroz entrou no lugar de Adriana Melo Alves, funcionária de carreira do MDR.

  • Orçamento do Ministério do Desenvolvimento Regional autorizado para 2020: R$ 17,2 bilhões.

Garigham Amarante Pinto
Nomeado para a Diretoria de Ações Educacionais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) por indicação do PL.

A diretoria é responsável pela gestão de alguns dos programas mais importantes do fundo, que tem orçamento bilionário, como os de livro didático, transporte escolar e de transferências diretas para as escolas. Garigham é nome de confiança de Valdemar Costa Neto, que comanda o partido.​

  • Orçamento do FNDE autorizado para 2020: R$ 29,9 bilhões

Paulo Roberto Ramalho
Nomeado para a Diretoria de Tecnologia e Inovação do FNDE por indicação do PL

Carlos Marun (MDB)
Aliado fiel do ex-presidente Michel Temer (MDB), o ex-ministro foi nomeado para o cargo de conselheiro da Itaipu Binacional. A indicação teria partido do próprio ex-presidente.

José Carlos Aleluia (DEM)
Reconduzido ao conselho da Itaipu Binacional, é indicação do DEM. ​Antigo cacique do partido, o ex-deputado foi sugerido para o cargo pelo presidente da legenda, ACM Neto (BA), segundo congressistas.

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