Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Saiba quem é Cláudio Castro, que assumiu o Governo do RJ após impeachment de Witzel

Cantor católico, novo governador é visto como conciliador, mas sem voz de comando; alvo de delação, ele se aproximou da família Bolsonaro

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Rio de Janeiro

Após o afastamento definitivo de Wilson Witzel (PSC) do Governo do Rio de Janeiro por ordem do Tribunal Especial Misto, o comando do estado passou oficialmente para o seu vice, Cláudio Castro (PSC), que atuou durante oito meses como governador interino.

Aos 42 anos de idade, Castro tomou posse no sábado (1º), um dia após a decisão do tribunal. O afastamento definitivo de Witzel tira do limbo jurídico as acusações contra Castro, que é alvo de ao menos dois acordos de delação premiada —um relacionado a desvio de recursos na área da saúde e outro sobre envolvimento em pagamento de propina em projetos sociais.

Havia dúvidas se, como interino, ele deveria ser investigado pelo foro definido para governadores ou pelo foro destinado a vice-governadores. Com o encerramento do processo de impeachment, Castro será investigado pela PGR no STJ.

O governador recém-empossado foi alvo de delação do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, pivô da investigação contra Witzel.

Na época, Santos afirmou que o então governador Witzel participou da organização de um esquema criminoso para desviar recursos da saúde a determinados municípios e garantir o apoio de deputados estaduais ao governo. O ex-secretário, contudo, não relatou encontros diretos com Castro. Também não há informações sobre movimentações financeiras suspeitas do governador.

Além do esquema na saúde, Castro é alvo de delação premiada do empresário Bruno Selem sobre pagamentos de propina em projetos sociais para atendimento médico gratuito em unidades móveis.

Selem afirmou à Promotoria que o governador interino “recebia propinas e auferia vantagens políticas com o projeto Qualimóvel municipal”. Ele disse ainda que participou de reuniões com o governador e outros investigados em que “falavam também de acertos de propinas, faziam contas”.

Segundo Selem, o pagamento da propina pela empresa Servlog ocorreu quando Castro era vereador e se estendeu até ao menos 2019, quando ele já era vice-governador.

Essa investigação contra Castro era conduzida pela Procuradoria-Geral de Justiça, no Rio de Janeiro. Ela contava, inclusive, com vídeos nos quais o agora governador aparecia com uma mochila que, segundo Selem, levava R$ 100 mil em propina.

O novo governador foi alvo de busca e apreensão da Operação Tris In Idem, a mesma que levou ao afastamento de Witzel.

O advogado Carlo Luchione, que defende o governador, diz que as delações de Edmar e Bruno são "ilações desprovidas do mínimo elemento indiciário". "Foram tomadas as devidas providências legais, com propositura de queixa e notícia-crime contra ambos", disse Luchione.

A defesa também tenta a anulação do acordo de Bruno. O argumento é que a lei anticrime obriga o delator a prestar o depoimento em vídeo. No caso, a gravação foi feita, mas o delator apenas lê o depoimento escrito.

O fato de assumir fragilizado politicamente em razão da busca e apreensão fez com que a gestão interina de Castro fosse vista como dependente da relação com a família do presidente Jair Bolsonaro, que não compareceu à cerimônia de posse.

De estilo discreto, Castro chegou a usar o termo "gestão parlamentarista" com deputados para demonstrar a disposição em ouvi-los e ceder-lhes espaço.

Castro sempre se apresentou como um primeiro assessor de Witzel, sem protagonismo nas ações governamentais. Ao longo de um ano e meio de mandato, por diversas vezes buscou apaziguar os ânimos entre os palácios Guanabara e Tiradentes nas sucessivas crises entre Executivo e Legislativo.

Após a aprovação da abertura do processo de impeachment, contudo, o vice não se pronunciou em defesa do titular do cargo.

No último sábado (1º), ao tomar posse, Castro afirmou que fará um "governo de diálogo" e que é preciso inaugurar uma estrada baseada em "retidão e ética”.

Mais tarde, em pronunciamento, o governador afirmou que hoje o Rio é considerado a "Geni do Brasil" — referência à personagem da música de Chico Buarque que fala em "joga pedra na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir".

“O nosso estado infelizmente hoje ainda é a Geni do Brasil. Ainda é um estado visto com desconfiança."

Antes do afastamento de Witzel, Castro se comunicou com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a fim de criar pontes com o governo federal caso assumisse.

Cantor católico membro da Renovação Carismática, Castro é visto como um político conciliador, mas sem voz de comando.

Ex-vereador do Rio de Janeiro, ele tem a carreira atrelada ao deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ), com quem iniciou na política no Detran-RJ, e ao deputado estadual Márcio Pacheco (PSC), ex-líder de Witzel na Assembleia Legislativa do Rio, de quem foi chefe de gabinete e dividiu o palco em shows gospel.

Até meados de 2018 Castro tinha como principal meta de curto prazo renovar seu mandato na Câmara Municipal, para o qual foi eleito com 10.262 votos.

Os planos mudaram quando o ex-juiz Wilson Witzel não encontrou partidos para se aliar na disputa pelo governo do estado. Ao se recusar a abrir mão de sua candidatura, apesar de figurar com 1% de intenção de voto nas primeiras pesquisas, teve de encontrar na própria sigla um companheiro de chapa.

“Uma ala defendia uma vereadora de Quissamã e outra o meu nome. Como ela não podia, porque era servidora da prefeitura e não havia se desincompatibilizado, o partido me convidou”, contou Castro.

O cantor teve de cancelar sua participação no festival Halleluya —espécie de Rock’n Rio católico—, marcado para o fim de semana anterior do primeiro turno.

Já no início do governo, Castro recebeu a incumbência de tocar dois órgãos alvos de investigação da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Tanto o Detran como o DER (Departamento de Estradas e Rodagem) foram objeto de acusações de corrupção na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

Castro é cantor desde 1996, quando era o vocalista da banda “Em nome do Pai”. Em carreira solo, lançou dois CDs —o último em 2015. Ele também foi por sete anos coordenador do Ministério de Fé e Política da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

O vice-governador rejeita se apresentar como um representante da Igreja Católica no governo fluminense. Nem sequer demonstra preocupação com o avanço de evangélicos tanto sobre os fiéis católicos como na representação política.

“Eles entendem essa questão da representatividade de forma mais forte, de defender os valores nos meios públicos. A Igreja Católica tem uma visão mais para a sociedade toda”, disse ele em 2019.

Para ele, sua função no cargo não é resgatar um protagonismo político ou confessional da Igreja Católica.

“A Igreja sempre esteve mais preocupada com os seus, e não com o crescimento do outro. Sempre nos preocupamos em ter gente de qualidade, e não aquele católico de IBGE. A pessoa tem que se sentir bem. E a Renovação Carismática é isso, ela quer que a pessoa se sinta bem”, afirmou.

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