Descrição de chapéu Eleições 2020

Covas deve dar espaço ao vice no governo e quer mulheres e negros no 1º escalão

Prefeito reeleito não confirmou se aumentará tarifa de ônibus e defendeu regras da pandemia

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São Paulo

A segunda-feira foi de alívio duplo para os tucanos em São Paulo. Não só porque Bruno Covas (PSDB) venceu a eleição municipal, mas pela vitória com uma margem mais folgada do que o entorno do prefeito esperava.

Covas teve 59,4% dos votos válidos nas urnas no domingo (29). O afunilamento da disputa com Guilherme Boulos (PSOL) nos últimos dias da corrida, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, fez acender o alerta na campanha, mas o resultado final, segundo pessoas próximas ao tucano, deu mais confiança e liberdade para o prefeito atuar.

Nomes do futuro secretariado ainda não foram anunciados, mas há a expectativa de que o vice-prefeito eleito Ricardo Nunes (MDB), que foi motivo de desgate ao tucano durante a campanha, receba alguma secretaria importante, segundo vereadores.

Nesta segunda-feira (30), Covas já afirmou que Nunes será seu braço direito nos próximos quatro anos e uma espécie de "clínico geral", em suas palavras.

O emedebista se tornou o principal calo do prefeito no segundo turno, fustigado pelas denúncias de relações controversas com entidades gestoras de creches e por um boletim de ocorrência registrado por sua esposa por violência doméstica em 2011 (hoje o casal nega qualquer agressão). Nunes não apareceu na campanha do prefeito reeleito, mas esteve no palanque da vitória e foi elogiado por Covas.

​O prefeito pode deixar de fora da distribuição de cargos alguns partidos menores que o apoiaram, na avaliação de pessoas próximas, que ressaltam que nenhuma distribuição de cargos foi definida. Ele foi reeleito em uma coligação com 11 partidos, incluindo MDB, DEM e PP. Além disso, no segundo turno, recebeu apoio do Republicanos, PSD e PSL, entre outros.

Covas deu entrevistas a canais de televisão nesta segunda em que afirmou que vai tentar aumentar o número de mulheres no secretariado, hoje em sete secretárias, e se comprometeu a nomear negros e negras para o posto. Em uma das entrevistas, Covas afirmou que o secretariado permanece o mesmo até 31 de dezembro, mas que em janeiro pode haver nomes novos.

A equipe do prefeito diz que não deve haver anúncio de mudanças nesta semana. A ideia é passar a imagem que os trabalhos continuam ininterruptamente, focados na solução da pandemia da Covid-19, sobretudo para minimizar o desgaste das últimas semanas, em que Covas foi acusado de minimizar uma alta de internações para esconder o repique da doença alertado por médicos.

À imprensa, nesta segunda, novamente descartou a possibilidade de um lockdown —fechamento radical, com proibição de saída às ruas—, dizendo ser inviável numa cidade como São Paulo. Durante a eleição, adversários no primeiro turno afirmaram que o prefeito estaria só esperando o pleito para fechar a capital paulista novamente.

O prefeito reeleito também minimizou as restrições impostas pelo governo estadual no funcionamento de comércios, anunciadas nesta segunda, em que a cidade regrediu uma fase no plano de reabertura.

Na etapa amarela, para a qual a cidade volta, a ocupação dos estabelecimentos fica limitada a 40%, e não mais 60%; o funcionamento volta a ser de dez horas por dia, com limite de horário até as 22h, e não mais de 12 horas; e eventos com público em pé ficam proibidos.

Em entrevista à Band, Covas afirmou que “a cidade de São Paulo não vai ter que fechar nada que foi liberado nesse momento de flexibilização”.

“Aqui não há espaço nem para o discurso alarmista, ‘olha, vai ter um novo lockdown, vai todo mundo ter que ficar em casa’, não é isso, mas também não há espaço para o discurso de que já acabou e que todo mundo pode sair de casa e vida normal, pelo contrário, a pandemia continua a ser um desafio a ser enfrentado”, continuou.

Em uma das falas à imprensa nesta segunda, Covas afirmou que, apesar das diferenças ideológicas que tem com o presidente Jair Bolsonaro, vai “buscar apoio, colaboração, junto com o governo federal".

Na campanha, adversários tentaram ligar o prefeito ao presidente, que tem alta rejeição na cidade e não conseguiu eleger seu candidato, Celso Russomanno (Republicanos), mas Covas buscou se distanciar, inclusive após o resultado das urnas, quando afirmou que a eleição mostra que “é possível fazer política sem ódio”.

Ponto de desgaste em toda gestão, o prefeito não respondeu se vai aumentar a tarifa de ônibus na cidade, hoje em R$ 4,40. Covas disse que está analisando uma possível mudança junto com o governo estadual (que decide o valor cobrado pelo Metrô e pela CPTM), que vai levar em conta a inflação e a crise do país.

Covas já vinha tentando dar sua cara na gestão municipal nos últimos dois anos, quando foi se distanciando de João Doria (PSDB), eleito prefeito em 2016 que deixou a prefeitura para o vice, pouco mais de um ano depois para tentar o governo do estado.

O atual prefeito mudou o plano de metas de Doria, subindo o número de objetivos de 53 para 71, e mexendo em 20 delas. A revisão do plano era permitida, mas não havia sido aplicada nas duas gestões anteriores.

Covas deixou de lado o programa Trabalho Novo, voltado a dar emprego a moradores de rua, reformulou o programa Redenção, de tratamento de dependentes químicos, e criou incentivo para artistas de rua grafitarem empenas pela cidade, na contramão de Doria, que apagou murais pela cidade.

A avaliação na prefeitura é de que, com a margem conquistada nas urnas, Covas faça um mandato ainda mais independente do padrinho.

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