Doria diz que não permitirá ato da oposição no 7 de Setembro, já reservado para grupo pró-Bolsonaro

Oposição ao presidente anunciou um dia antes intenção de transferir seu ato da avenida Paulista para o Anhangabaú

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São Paulo

O governador João Doria (PSDB) disse nesta quinta-feira (26) que a Secretaria da Segurança Pública do Estado vetou a realização no 7 de Setembro de protestos contra Jair Bolsonaro no território estadual. Segundo ele, por razões de segurança, só serão permitidos atos favoráveis ao presidente.

Com isso, a manifestação contrária, prevista para ocorrer no vale do Anhangabaú, na capital, fica impedida de ser realizada pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro, fórum de partidos, movimentos sociais e centrais sindicais que fazem oposição ao governo e promoveram desde março quatro mobilizações.

Bolsonaristas farão ato no dia 7 na avenida Paulista, com a presença anunciada do presidente e de apoiadores. A via também era o local para onde estava previsto inicialmente o protesto da oposição, mas a Polícia Militar decidiu que, pela alternância no uso da avenida, a vez é dos apoiadores do governo.

O governador e o secretário de Segurança Pública em exercício, coronel Alvaro Batista Camilo, incentivaram a transferência do ato contra Bolsonaro para o domingo seguinte (12), quando está previsto na Paulista um protesto contrário ao presidente que é capitaneado por forças políticas à direita.

Doria informou, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, que a SSP (Secretaria da Segurança Pública do Estado) já decidiu por uma resposta negativa à marcha da oposição. Líderes da Campanha Fora Bolsonaro dizem que a PM já foi notificada e que ainda não receberam um posicionamento formal.

"A Secretaria de Segurança Pública tomou a decisão, no Conselho de Segurança Pública, de administrar as duas manifestações, respeitando ambas. As manifestações são democráticas [...]. Só não há conveniência de que grupos antagonistas se manifestem no mesmo dia, ainda que em locais diferentes”, disse o governador.

O tucano, que também faz oposição a Bolsonaro, argumentou que a realização de ações simultâneas "põe em risco a segurança dos manifestantes" e "divide o esforço de segurança pública", já que o aparato da PM teria que ser mobilizado para acompanhar os dois atos, que estão marcados para as 14h.

Doria afirmou que a SSP vetará a utilização de qualquer área, "não só na capital, mas também no estado de São Paulo", para manifestações contrárias a Bolsonaro no dia 7.

Ele voltou a falar que a data para atos de adversários do presidente na avenida Paulista é 12 de setembro, o domingo seguinte. Para esse dia está marcado um protesto articulado por MBL (Movimento Brasil Livre), VPR (Vem Pra Rua) e líderes de partidos como Novo e PSL.

A iniciativa, ligada a setores da direita, também expressará apoio a uma terceira via para as eleições de 2022 —Doria busca se colocar como o presidenciável do PSDB e ocupar esse espaço.

Na entrevista desta quinta, o governador sugeriu que a imprensa, sobretudo as emissoras de televisão, faça imagens que permitam a comparação do tamanho dos atos. Indiretamente, isso reforça a ideia de que se trata de uma competição para ver qual dos lados consegue levar mais pessoas à avenida.

"O que nós desejamos é que as manifestações sejam em ordem, sejam pacíficas, sem nenhum tipo de violência, de nenhuma ordem. Nem entre as pessoas e muito menos sem agressão a patrimônio público ou privado", disse o tucano.

Ao lado de Doria, o secretário de Segurança Pública em exercício afirmou que a diretriz das forças policiais do estado é proteger qualquer uma das manifestações. "Seja a favor, seja contra [Bolsonaro], a polícia vai garantir o direito de manifestação", disse o coronel Camilo.

A Polícia Militar de São Paulo afastou nesta semana o coronel Aleksander Lacerda, punido a pedido de Doria por ter feito uma convocação para o ato bolsonarista de 7 de Setembro e disparado uma série de críticas a políticos e ao Judiciário. O governador disse que não aceita indisciplina na PM.

A corporação também instaurou um procedimento disciplinar para apurar o caso. A conduta do coronel simboliza a percebida politização e bolsonarização das forças policiais do país, um dos elementos que impulsionam o temor de que os atos do dia 7 deem ensejo a algum tipo de ruptura institucional.

A informação de que a SSP não daria aval à realização do ato contra Bolsonaro no Dia da Independência foi repassada informalmente nesta quarta-feira (26) a porta-vozes da Campanha Fora Bolsonaro. No mesmo dia, o grupo anunciou que desistiria de disputar a Paulista e migraria para o Anhangabaú.

Integrantes da articulação anti-Bolsonaro disseram que já tinham iniciado tratativas com a Prefeitura de São Paulo para fazer o protesto no vale, espaço cuja gestão foi concedida à iniciativa privada em 2020.

No contato com representantes da gestão Ricardo Nunes (MDB), os ativistas foram avisados que a SSP já havia decidido pelo veto às movimentações rivais na mesma data. O grupo reagiu negativamente, cobrando respeito ao direito de manifestação previsto na Constituição.

Nos bastidores, recordou-se que houve nos últimos anos atos concomitantes na capital paulista que empunhavam bandeiras distintas. A avaliação feita ao longo da quarta era a de que as forças de segurança estaduais já tinham lidado com tensões do tipo e não teriam razão para agir diferente agora.

Em entrevista coletiva na tarde desta quinta, porta-vozes da Campanha Fora Bolsonaro criticaram Doria, reivindicaram o direito de manifestação e disseram que é obrigação do Estado garantir a segurança. Os líderes da mobilização afirmaram manter a convocação e esperar a resposta oficial da PM.

A proposta de união dos atos de oposição dos dias 7 e 12 é rejeitada pelas duas partes, que apontam diferenças políticas profundas. Segundo Raimundo Bonfim, coordenador da CMP (Central de Movimentos Populares) e um dos líderes das marchas, Doria faz um "jogo político" ao sugerir a aglutinação.

O anúncio de desistência da briga pela Paulista e mudança de local do ato embutiu a intenção de sinalizar que não haveria recuo na realização do ato. O plano é que a mobilização seja conjunta com o Grito dos Excluídos, tradicional levante promovido no feriado da Independência por alas da Igreja Católica.

O secretário de Segurança Pública disse nesta quinta que chamará representantes das duas iniciativas para uma conversa e sugeriu que os grupos concentrem as mobilizações no dia 12. "Seria o melhor dia. Aliás, ganharia até mais vulto todos fazendo no dia 12, porque o objetivo é comum", opinou.

O coronel Camilo disse ainda que o deslocamento de grande parte do efetivo da PM para o acompanhamento das duas manifestações "poderia colocar em risco até a população de São Paulo".

O cenário exigiria atenção redobrada das autoridades de segurança, já que seria grande a chance de pessoas com ideologias opostas se encontrarem em deslocamentos pela cidade, no transporte público e em praças utilizadas como ponto de encontro.

A manifestação pró-Bolsonaro virou motivo de apreensão, com a possível presença de pessoas armadas. No início da semana, Doria alertou outros governadores sobre o risco de ações violentas.

Os atos bolsonaristas, com edições em outras capitais, reagrupam a coalizão que ajudou a levar o mandatário ao poder em 2018. A convocação une setores com agendas díspares, incluindo evangélicos, ruralistas, policiais e caminhoneiros, em meio às ameaças ao sistema democrático e às instituições.

Até o início da semana, a estratégia dos articuladores da oposição era a de pressionar politicamente Doria em busca de uma revisão da decisão da PM que deu aval aos bolsonaristas no impasse sobre o uso da Paulista, em detrimento das forças de oposição ao presidente.

A polícia barrou a realização do protesto na avenida-símbolo da cidade com base em decisão judicial de 2020 que proíbe grupos antagônicos de irem à via no mesmo dia e prevê revezamento entre os lados do debate político. O entendimento é o de que, pelo rodízio, a vez no 7 de Setembro cabe aos bolsonaristas.

Diante da sinalização do tucano de que não recuaria, os líderes da oposição resolveram desistir da briga, que já tinha ganhado contornos de imbróglio judicial. A campanha chegou a entrar com uma representação no Ministério Público Estadual, que pediu a intimação da prefeitura e do governo.

A Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital encaminhou o caso ao Tribunal de Justiça, no âmbito do processo que busca evitar conflitos entre grupos opostos na Paulista. Também pediu a intimação da prefeitura e do governo estadual para que se manifestassem sobre o pedido.

Os detratores do presidente rebatem a avaliação da PM que os prejudicou. Eles dizem que a corporação fez uma interpretação equivocada da decisão judicial e que levou em consideração, para determinar a alternância, uma duplicidade de pedidos para o dia 24 de julho que não estaria bem fundamentada.

A gestão Doria já vinha deixando claro o endosso ao encaminhamento da Polícia Militar. No fim de semana, o governo definiu que a Paulista ficaria com os bolsonaristas. No programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (23), o governador reiterou que a oposição poderia usar a via no dia 12.

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