PSDB cogita trocar app, e Eduardo Leite diz que prévias perdem credibilidade

Partido anuncia acordo, negado por gaúcho e elogiado por Doria, e afirma que concluirá votação para definir candidato até domingo

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Brasília

O PSDB anunciou que concluirá a votação das prévias presidenciais entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) até domingo (28) e afirmou que, se o aplicativo contratado não oferecer garantias de viabilidade, poderá adotar tecnologia privada para finalizar o processo.

A decisão foi tomada em reunião nesta segunda (22) na sede do partido em Brasília e, após ter sido anunciada como um "acordo" entre as campanhas, acabou sendo contestada pelo governador gaúcho.

"A cada dia que passa esse processo vai perdendo a sua credibilidade", afirmou Eduardo Leite. Já Doria confirmou "apoio às soluções anunciadas pelo presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo".

Evento de prévias do PSDB, em Brasília
Evento de prévias do PSDB, em Brasília - Divulgação/Eduardo Leite

Em nota, o PSDB afirmou que aguarda manifestação da Faurgs (Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul), empresa contratada para desenvolver o app.

"Se, até esta terça (23), ela não oferecer garantias concretas de viabilidade e robustez da solução contratada, o PSDB adotará tecnologia privada para concluir o processo de prévias", disse.

A sigla disse que "até o momento a Faurgs não apresentou conclusões sobre as razões das dificuldades" na votação, mas reiterou que "todos os votos registrados estão válidos e serão computados".

No fiasco da votação no domingo, o aplicativo que chegou a ser questionado durante a campanha ficou travado das 8h30 até o fim do dia.

A inconclusão da votação agravou a divisão interna entre Doria e Leite. A disputa está acirrada, e o resultado está em aberto. O terceiro concorrente, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, não tem chances de vencer e, na prática, se alia a Doria.

De acordo com o comunicado do PSDB, a decisão desta segunda em busca de uma solução "foi tomada em conjunto pela direção do partido e pelos três pré-candidatos".

Pouco após a divulgação da nota, no entanto, o governador do Rio Grande do Sul negou haver acordo.

"Nossa equipe técnica não pôde avaliar a ferramenta [de uma empresa privada que poderia ser contratada no lugar da fundação]. A avaliação dessa ferramenta leva tempo. Estamos diante de uma situação totalmente nova no meio de um processo", criticou Leite.

O governador gaúcho voltou a defender a conclusão do processo até esta terça alegando risco de "ferir a legitimidade" das prévias. "E agora não só não se vai concluir até amanhã [terça] como se está querendo trocar a empresa e o modelo de votação por um outro sistema", criticou.

Leite disse que a nota enviada pelo PSDB estava equivocada e afirmou não ter dado condição para qualquer tipo de acordo no sentido de trocar o aplicativo por outro de uma empresa privada.

Em nota, a campanha do governador afirmou continuar aguardando respostas sobre o processo de votação e disse que o candidato foi o único que permaneceu na tarde desta segunda no partido aguardando os laudos técnicos prometidos.

Em entrevista após a saída de Leite, o presidente do partido, Bruno Araújo, rebateu Leite e afirmou que o governador do Rio Grande do Sul estava ciente da possibilidade de trocar o aplicativo da Faurgs.

Doria, por sua vez, elogiou o anúncio do PSDB e disse que "a democracia interna exige respeito aos filiados que se cadastraram para votar".

"Existem soluções para garantir as manifestações de todos os filiados que se inscreveram nas prévias. É preciso concluir o processo eleitoral de consulta interna. Qualquer alternativa que não seja a rápida conclusão da votação é um desrespeito à vontade da maioria partidária. É violentar as prévias. É negar a democracia", afirmou.

Segundo Bruno Araújo, há conversas com duas empresas, entre elas uma que atuou na eleição para a direção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Ele também afirmou que, se a Executiva do partido decidir cancelar as prévias, vai se submeter à medida. "Mas, claro, manifestando minha posição de desaconselhar esse encaminhamento sob pena de descrença do PSDB e o conjunto de quem o faz."

Uma vez escolhido o app, a ideia seria fatiar a votação em mais de um dia —separando a votação de políticos com mandato e, em seguida, de filiados. A retomada da votação poderia ocorrer em até 48 horas.

A causa das falhas no aplicativo não foi identificada ainda —uma das questões é o fluxo de acessos maior do que a ferramenta comporta. A hipótese de um ataque hacker não está descartada.

Neste cenário, as campanhas pressionam por ritmos diferentes. Enquanto Doria e Virgílio propõem retomar a votação no próximo domingo, a campanha de Leite quer a retomada mais imediata. Mas tudo depende da decisão técnica a respeito de qual aplicativo usar.

A avaliação de aliados de Leite é a de que o tempo conta contra o gaúcho, já que a capacidade de mobilização do PSDB de São Paulo é maior. Ou seja, Doria poderia virar mais votos até domingo.

No domingo, Araújo afirmou que a viabilidade técnica do app, ou seja, o prazo para a correção dos problemas é que será central na definição de novas datas —e não a vontade de cada candidato.

Para estabelecer esse prazo, várias reuniões entre o partido e as empresas de TI foram marcadas nesta segunda.

Ao chegar para a reunião, à tarde, Leite defendeu que as prévias sejam retomadas o mais rápido possível e voltou a afirmar haver acusações de que a campanha de Doria comprou votos e pressionou por votos, inclusive com demissões.

A ideia de utilizar urnas eletrônicas, defendida por Doria, voltou a ser aventada após o problema com o app, mas é vetada por Leite.

No domingo, o PSDB fez uma votação híbrida. Num evento grandioso em Brasília, feito para anunciar o vencedor, mas que terminou de forma melancólica sem conclusão, puderam votar por meio de urnas eletrônicas os prefeitos e vices, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e vices e os ex-presidentes do partido.

Os filiados sem mandato e os vereadores deveriam votar pelo aplicativo, que não funcionou. A votação, que seria das 7h às 15h, foi ampliada para 18h e acabou suspensa. Outros tucanos do alto clero que não viajaram a Brasília e preferiram votar pela ferramenta online tampouco conseguiram votar.

Ao todo, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação indireta, em que cada grupo representa 25% da pontuação: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.

São Paulo, pela concentração de mandatários e filiados cadastrados, larga com 35% de peso nas prévias. Além do Rio Grande do Sul, Leite tem o apoio de estados chave no tucanato, como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

O saldo de domingo para o PSDB foi de vexame e mais tensão entre Doria e Leite, que trocaram acusações. Como mostrou o Painel, líderes de partidos da chamada terceira via veem o PSDB em frangalhos —uma união da sigla em torno do vencedor das prévias parece cada vez mais distante.

Araújo informou que de 62% a 65% dos votos, considerando os pesos desiguais dos grupos de votação, foram dados neste domingo, pela urna e aplicativo. Os resultados estão blindados e não serão apurados até que haja a votação complementar.

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