Descrição de chapéu Eleições 2022

Doria acumula fama de traidor de prefeitura a Alckmin e de Bolsonaro a PSDB; relembre

Tucano descumpriu promessa de ficar na prefeitura e entrou em conflito com aliados

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São Paulo

João Doria (PSDB) desistiu nesta quinta-feira (31) do plano anunciado a aliados, renunciou ao Governo de São Paulo e manteve sua pré-candidatura à Presidência.

A repentina mudança de rumos se soma a um histórico de controvérsias na trajetória do tucano na política, como promessas não cumpridas e embates com aliados de quem se manteve muito próximo.

João Doria durante anúncio no Palácio dos Bandeirantes - Bruno Santos-31.mar.22/Folhapress

Nos seis anos desde que disputou um cargo público pela primeira vez, o tucano se indispôs, por exemplo, com nomes como o ex-governador Geraldo Alckmin, fiador de sua primeira candidatura.

Dentro do PSDB, consolidou sua liderança nacionalmente a partir de 2019, mas se viu diante de um progressivo racha interno.

Nas prévias de 2021, foi cobrado pela aposta feita em 2018 na aproximação com o então presidenciável Jair Bolsonaro.

Renúncia à prefeitura

"Comprometo-me a cumprir integralmente meu mandato nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020 caso seja eleito prefeito", dizia carta assinada por João Doria em evento de campanha municipal de 2016.

Foi apenas uma das diversas ocasiões em que o tucano rejeitou a hipótese de abreviar o período à frente do município para alçar outros voos políticos.

A promessa durou poucos meses. Ainda como pouco tempo como prefeito, Doria começou a articular sua pré-candidatura a presidente pelo PSDB para 2018. Não decolou nas pesquisas nem conseguiu apoio interno suficiente e decidiu disputar o governo do estado.

Deixou o cargo em 6 de abril de 2018, com pouco mais de 15 meses de mandato. Na disputa estadual, teve proporcionalmente mais votos no interior do que na capital.

Conflito com padrinho

Doria se projetou na política a partir de 2015 como protegido do então governador de São Paulo Geraldo Alckmin, à época em seu quarto mandato no estado. A força política do governador o impulsionou na vitória em prévias do PSDB, em 2016, e contribuiu para a eleição à prefeitura naquele ano.

Ao longo de 2017, porém, os dois entraram em choque por causa de articulação do então prefeito para se lançar candidato a presidente no ano seguinte. Doria passou a percorrer o país para se tornar mais conhecido, rivalizando dentro do PSDB com seu padrinho político.

Alckmin indiciou o rompimento em setembro de 2017. "Uma vez meu pai me falou: 'Lembre-se de santo Antônio do Pádua. Quando não puder falar bem, não diga nada'", disse, sobre o correligionário, em entrevista.

O então governador fez valer sua força dentro do partido, assumiu o comando nacional da legenda e garantiu a condição de presidenciável para 2018. Doria disputou o Governo de São Paulo.

Na reta final da campanha, quando a candidatura Alckmin naufragava nas intenções de voto, Doria tentou manter distância e flertava com o bolsonarismo. A dois dias do primeiro turno, por exemplo, desmarcou em cima da hora agenda com o correligionário em São Paulo.

Confirmada a derrota na eleição presidencial, Alckmin reclamou, dias depois, do aliado em reunião interna. "Traidor eu não sou", disse na ocasião. Ele fez teve apenas 4,8% dos votos válidos e ficou em quarto lugar.

BolsoDoria

Encerrada a votação do primeiro turno em 2018, João Doria se apressou em declarar apoio ao à época presidenciável Jair Bolsonaro (então no PSL), que disputaria a segunda rodada contra o petista Fernando Haddad.

A iniciativa visava se aproximar de um eleitorado que tinha virado à direita naquela eleição e que não tinha um representante claro no segundo turno da eleição estadual. Doria concorria contra Márcio França, do PSB.

A declaração de apoio não teve respaldo no PSDB, que se manteve neutro no segundo turno presidencial. O movimento foi apelidado de voto "BolsoDoria" e virou mote em camisetas e materiais de campanha.

A estratégia de se vincular a Bolsonaro chegou ao ponto de Doria viajar ao Rio, sem agenda marcada, para tentar ser recebido pelo presidenciável e aparecer em fotos. Bolsonaro preferiu não recebê-lo.

Os dois foram eleitos. No início do mandato, em 2019, a convivência parecia que seria amigável, com fotos sorridentes em eventos.

Ainda naquele ano, Bolsonaro, porém, demonstrava contrariedade com a hipótese de o tucano se tornar adversário na eleição de 2022. Uma das razões iniciais para a desavença foi negociação para levar o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 de São Paulo para o Rio de Janeiro, que acabou não concretizada.

Os atritos mudaram de patamar com a eclosão da pandemia do coronavírus, em março de 2020. Doria liderava mobilização de governadores por medidas de restrição e passou a ser alvo do presidente e de seus apoiadores.

"Subiu à sua cabeça a possibilidade de ser presidente do Brasil. Não tem responsabilidade", disse Bolsonaro ao governador, em reunião naquele mês.

Doria passou a chamá-lo de psicopata e a defender o impeachment.

Desistência e crise

Vencedor das prévias do PSDB em novembro passado, Doria não decolou nas pesquisas de intenção de voto à Presidência.

No Datafolha divulgado na semana passada, marcou apenas 2%. Para piorar, seu oponente nas prévias, Eduardo Leite, renunciou ao Governo do Rio Grande do Sul de olho na possibilidade de ainda assumir a candidatura tucana a presidente.

Nesta quarta-feira (30), nas vésperas do prazo para se desligar do governo, Doria avisou seu vice, Rodrigo Garcia, de que pretendia permanecer no posto.

A reviravolta deixou correligionários atônitos e abriu uma nova crise no PSDB. Rodrigo, também do PSDB, tinha acordo para assumir o governo e se lançar à reeleição com o apoio de Doria.

O apresentador de TV José Luiz Datena, que havia se filiado à União Brasil para disputar o Senado em São Paulo, criticou Doria e disse que não teria mais compromisso em aliança.

"Acho um movimento completamente equivocado do Doria se ele fizer isso, porque passa de traído a traidor do Garcia. Implode a candidatura dele [a governador]", afirmou.

Em evento na tarde desta quinta (31), Doria recuou, anunciou sua saída do governo do estado e afirmou que vai manter a pré-candidatura à Presidência.

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