Lula afaga Dilma em ato em SP e diz que igrejas não podem ter partido

Em comício com Haddad, Alckmin e França, Lula diz que povo paulista absolveu Dilma do impeachment

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afagou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e criticou a participação de igrejas na campanha, numa referência ao apoio de pastores evangélicos ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lula participou de comício no vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, neste sábado (20).

O petista, em seu discurso, afirmou que religião "está na moda". "As igrejas não têm que ter partido político, porque têm que cuidar da fé e da espiritualidade, não da candidatura de falsos profetas e fariseus. Falo isso com a tranquilidade de um homem que crê em Deus", disse.

Lula e Dilma em ato no Anhangabaú, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

"Tem muita fake news religiosa correndo por esse mundo, tem demônio sendo chamado de Deus e tem gente honesta sendo chamada de demônio", afirmou em crítica a Bolsonaro para, em seguida, emendar que estão fazendo "igreja de palanque político ou empresa para ganhar dinheiro".

"Fiquem espertos no zap, não deixem passar nenhuma mentira e não passem nenhuma mentira para frente. [...] Se o pastor estiver falando coisa séria, a gente respeita. Mas se ele tiver mentindo, a gente tem que enfrentá-lo", disse Lula.

"Eu defendo o Estado laico, o Estado não tem que ter religião, todas as religiões têm que ser defendidas pelo Estado", completou, dizendo ainda que não precisa de padre ou pastor quando quer falar com Deus.

Nesta quinta-feira (18), o Datafolha mostrou que Lula tem 47% das intenções de votos contra 32% de Bolsonaro, mas a distância vem encurtando.

Segundo a pesquisa, Bolsonaro ampliou sua vantagem no eleitorado evangélico —tem 49% ante 32% de Lula.

Lula estava acompanhado de seu candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), do ex-prefeito Fernando Haddad, candidato do PT ao Governo de São Paulo, e do ex-governador Márcio França (PSB), candidato ao Senado pela chapa encabeçada por Haddad.

Márcio França (PSB), Lúcia França (PSB), Lula (PT), Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Estavam presentes ainda Lúcia França, mulher de França e vice na chapa de Haddad; Ana Estela Haddad, Lu Alckmin e Janja.

Dilma também compareceu e teve sua fala interrompida por gritos de apoio do público. "Eu não vou conseguir falar, vou começar a chorar, vai ser um vexame. Já estou chorando", disse ela.

"Nós temos a pessoa certa no lugar certo", completou Dilma a respeito de Lula. A ex-presidente foi abraçada por Alckmin, que apoiou o impeachment, e conversou com Janja.

Lula agradeceu o carinho do público com Dilma. "Às vezes a extrema direita condena um dos nossos e nós acreditamos em parte da mentira contada. [...] Inventaram uma mentira contra ela, inventaram uma pedalada. Imagina o que é uma pedalada da Dilma contra as motociatas que esse genocida faz hoje."

Chamando o impeachment de "erro histórico do Congresso", Lula afirmou que o povo de São Paulo absolveu Dilma. "Você foi inocente porque deram um golpe em cima de você", disse ele logo antes de a ex-presidente levantar para abraçá-lo durante o discurso.

Enfileirando uma série de críticas a Bolsonaro, Lula disse que governar "não é fazer fake news" e que o presidente está tentando comprar votos por meio do auxílio e da redução do preço da gasolina. "O PT defende que vocês peguem o dinheiro. Depois de dezembro, o [ministro Paulo] Guedes vai pegar esse dinheiro".

Lula prometeu reajustar a tabela do imposto de renda e aumentar o salário-mínimo acima da inflação. "O governo não tem que cuidar dos ricos e banqueiros, mas do povo trabalhador", disse.

O petista cometeu uma gafe ao condenar a violência contra as mulheres. "Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar, mas não dentro da sua casa ou no Brasil, porque nós não podemos aceitar mais isso."

Bolsonaro foi chamado de tchutchuca diversas vezes em discursos de líderes de movimentos de esquerda e sindicais. É uma referência à briga do presidente, na quinta, com um youtuber que o chamou de "tchutchuca do centrão".

Em seu discurso, França pregou que a eleição seja vencida por Lula no primeiro turno e ironizou Bolsonaro, chamando o de tchutchuca "da braveza, das armas e das coisas infelizes", enquanto ele e os aliados seriam tchutchucas "da razão e da união".

Como mostrou o Painel, a escolha do local está marcada pelo simbolismo. Em abril de 1984, milhares de pessoas ocuparam o espaço para o comício das Diretas Já, movimento que pedia o fim da ditadura militar e a volta de eleições diretas para presidente.

Alckmin afirmou que estava ao lado de Lula nas Diretas Já. "E voltamos aqui porque o Brasil precisa, a democracia está em risco".

O ex-tucano também fez acenos com falas religiosas e recomendou o que disse ser um hit da culinária, o prato lula com chuchu.

Haddad afirmou ter o melhor time e que o futuro do país está em jogo. "Comece a virar voto agora. Não vamos deixar para segundo turno e nem para a véspera da eleição. [...] Chega de trevas no Brasil e em São Paulo."

O evento petista, que na prática marca o lançamento da campanha de Lula em São Paulo, foi chamado de ato pela democracia. Uma grande bandeira do Brasil, usada em comícios no Piauí e Minas Gerais, voltou a ser lançada sobre o público em São Paulo.

Ali foi lançada uma nova versão do jingle de Lula, produzida por Janja e em ritmo de forró. A mulher do ex-presidente, que tem sido criticada pela exposição e participação na campanha, dançou em todos os clipes que foram exibidos no ato, mas poucos a acompanharam no palco.

Fernando Haddad, Lula e Janja em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Mais cedo, o ex-presidente convocou apoiadores a participarem do ato —mesmo diante do frio que assolava a capital paulista. "Venha com o seu casaco, sua toalha e vamos esquentar o Vale do Anhangabaú", escreveu.

Para acessar o local, o público teve que passar por detectores de metal portáteis.

"Aqui, em 1984, o Vale do Anhangabaú sediou um grande comício pelas Diretas Já. Hoje, 38 anos depois, também em uma encruzilhada da democracia brasileira, o vale solta sua voz nesta manhã fria. O inverno está chegando ao fim, o inverno do autoritarismo, da miséria, da indiferença representado pelo Bolsonaro", disse Guilherme Boulos (PSOL).

Ele mencionou a notícia de que empresários declararam apoio a golpe num grupo de WhatsApp e disse ser preciso taxar grandes fortunas.

Gleisi Hoffmann, presidente do PT, afirmou que essas eleições "são as mais importantes na história recente da democracia". "Para enfrentar esse processo, construímos uma grande aliança com 10 partidos. Pela primeira vez, no primeiro turno, temos o apoio de todas as centrais sindicais", disse.

"Pela primeira vez em São Paulo temos condições de ganhar as eleições para governador com Haddad e eleger França senador", completou.

Subiram também no palco os apoiadores de Lula, como André Janones (Avante-MG), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Juliano Medeiros (PSOL), Luciana Santos (PC do B), Aloysio Nunes (PSDB), Celso Amorim, Gabriel Chalita, Edinho Silva (PT), Juca Kfouri e Walter Casagrande. O jornalista Chico Pinheiro foi o apresentador do evento.

O secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto minimizou o crescimento do presidente na pesquisa. "Ela não teve o efeito esperado pelo Bolsonaro. Lula conseguiu se manter e isso estava dentro do nosso planejamento", disse. "Acho difícil que o Bolsonaro tenha chances de ganhar as eleições."

Tatto afirmou ainda que a campanha seguirá abordando questões "da vida do povo" como desemprego e fome, sem abordar pautas de costume. "Vamos dialogar com o povo sobre a vida deles."

Ao ser questionado sobre o crescimento de Bolsonaro na pesquisa no segmento evangélico, Tatto afirmou que a campanha falará "diretamente com os evangélicos e não com lideranças de algumas igrejas".

"A maneira de tratar esse público é falar da vida e do cotidiano deles. Vamos respeitar todas as religiões como Lula fez quando era presidente."

Em entrevista à imprensa na sexta-feira (19), Lula disse que não fará sua campanha pautada por questões religiosas, algo que os bolsonaristas têm explorado para desgastar o petista —inclusive com afirmação falsa de que ele fecharia igrejas.

"Questão religiosa não entrará na minha pauta política", disse Lula, após seguidos acenos ao segmento evangélico e um dia após ter dito que a Bíblia tem que ser cumprida.

O pastor pentecostal Paulo Marcelo, recrutado para ajudar a legenda com o setor evangélico, afirma que crescimento de Bolsonaro nesse setor pode ser explicado pelas fake news disseminadas em redes sociais.

"Tem essa dúvida sobre entrar no debate da pauta de costumes e fugir das pautas econômicas. É preciso que Lula dê um aceno ao setor e comece a falar com evangélicos, mas sem entrar no jogo de Bolsonaro", diz.

Ele está organizando um evento neste domingo (21) com lideranças evangélicas para falar sobre a campanha. Segundo ele, cerca de 300 líderes devem participar. Alckmin gravou um vídeo que será exibido no evento.

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