'Risco esquerda' vira estratégia bolsonarista na disputa ao Senado em SP

Janaina Paschoal e Marcos Pontes enfrentam favoritismo de Márcio França, beneficiado por racha na direita

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São Paulo

Com o bolsonarismo rachado entre Janaina Paschoal (PRTB) e Marcos Pontes (PL) na briga pela vaga de São Paulo no Senado, eleitores do campo conservador passaram a ouvir mensagens de alerta que dão como certa a vitória do adversário Márcio França (PSB) caso continuem pulverizando os votos.

Apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador é hoje considerado o favorito por estar à frente nas pesquisas de intenção de voto e concentrar os votos da esquerda. Ele não enfrenta competidores de peso dentro desse segmento, unificado em torno dele.

Os candidatos ao Senado Márcio França (PSB), Janaina Paschoal (PRTB) e Marcos Pontes (PL) - Zanone Fraissat/Folhapress, Fernando Moraes/UOL e Raul Spinassé/Folhapress

A preocupação com o "risco esquerda" é vocalizada pela própria Janaina, que destoa de simpatizantes fiéis do presidente ao admitir a possibilidade de derrota de Jair Bolsonaro (PL) na eleição nacional, e por cabos eleitorais de Pontes. O alarme foi soado em ambientes virtuais nos últimos dias.

O temor dessa parcela subiu de nível com a escolha do presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, como suplente de França. Os detratores especulam que o psolista tem chance de assumir o posto de vez caso o titular se afaste para virar ministro em um eventual governo Lula.

Janaina ironizou a situação, em uma rede social, ao perguntar se estaria em curso "um grande acordo para deixar a única cadeira do Senado para a esquerda". A deputada estadual é pressionada a abrir mão da candidatura em nome de Pontes, apoiado oficialmente por Bolsonaro.

Ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações no atual governo, ele concorre com o nome de Astronauta Marcos Pontes e faz uma campanha vinculada ao presidente. Já a adversária, que alterna elogios e críticas ao mandatário, refuta o rótulo de bolsonarista, mas possui eleitores nesse grupo.

Uma mensagem em favor de Pontes direcionada aos "prezados patriotas" correu aplicativos de trocas de mensagens com uma advertência: "Se dividirmos nossos votos em vários candidatos da direita, a vaga fatalmente será do candidato da esquerda".

O texto, sem autor identificado, diz que os apoiadores do ex-ministro têm "que ser inteligentes" e canalizar votos para ele: "Ou a cadeira do Senado por SP irá para o partido da esquerda [sic], infelizmente".

Bolsonaro, que está em segundo lugar na corrida presidencial, conseguiu levar à desistência outros interessados na vaga ao Senado, como Cristiane Brasil (PTB) e Arthur Weintraub (PMB), mas fracassou na tentativa de demover a deputada, que almeja a candidatura desde 2020.

"Eu sou uma pessoa pé no chão", diz à Folha Janaina, celebrizada pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). "A direita está numa divisão muito grande, o que prova que a esquerda é mais inteligente", acrescenta ela, que atribui a Lula o sucesso da convergência no terreno rival.

A parlamentar já afirmou que Bolsonaro lançou o candidato ao Senado apenas para atrapalhá-la. "Ele prefere dar a cadeira de São Paulo à esquerda a ter uma pessoa independente e justa no Senado. Direita dividida elege a esquerda!"

Janaina endossa as posições presidenciais em temas como aborto, drogas e liberdade individual, mas já destoou em relação à pandemia de Covid-19 —chegou a apelar na tribuna da Assembleia Legislativa em 2020 para que o governante saísse do cargo, mas depois amenizou o tom.

O enfrentamento público mais recente foi há alguns dias, também no plenário. Chorando, ela pediu a Michelle Bolsonaro que "não plante a semente da divisão religiosa" no país. A primeira-dama, evangélica, ataca Lula associando o petista ao Demônio e a religiões de matriz africana.

Janaina questiona a competência de Pontes para ser senador e se julga mais preparada. "O problema é que o pessoal do Bolsonaro vota no astronauta acreditando que o presidente vai ser reeleito, mas precisa pensar qual é o melhor candidato para qualquer cenário, inclusive se o eleito for o Lula", diz.

Pontes evita rebater e declara que faz uma campanha sem ataques aos demais candidatos, baseada em propostas. Segundo ele, seus focos são educação, ciência, tecnologia e oportunidades para jovens.

"Eu não acho que o Márcio França seja o favorito. Ele é o candidato do Lula, ligado às pautas do Lula; eu sou o candidato do Bolsonaro, ligado às pautas que nós defendemos, como família, proteção dos nossos filhos, toda a parte de valores que são extremamente importantes", diz.

Pontes não reitera a estratégia dos apoiadores que consideram inevitável a vitória do pessebista caso a cisão da direita permaneça. O ex-astronauta afirma que respeita a candidatura de Janaina, mas espera que naturalmente os votos hoje declarados nela migrem para ele.

Isso acontecerá, prevê, à medida que mais paulistas souberem que ele está concorrendo e tem o aval de Bolsonaro. "Aqueles eleitores que apoiam realmente a direita e têm lealdade às pautas do presidente vão estar comigo. Prefiro, em vez de atacar os adversários, mostrar a minha competência."

Pesquisa Genial/Quaest publicada no último dia 11 mostrou França com 29%, seguido por Pontes, com 12%, e Janaina, com 10%. Como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, os dois últimos estão tecnicamente empatados em segundo lugar.

França atribui sua liderança ao seu perfil e ao fato de ser mais conhecido. "No Senado o eleitor espera uma pessoa experiente, ponderada", diz o ex-governador, que em 2020 concorreu a prefeito da capital.

Articulador das campanhas de Lula e Haddad, ele reconhece ser beneficiado pelo racha na direita, mas relativiza a pecha de esquerdista ao afirmar que atinge um eleitorado que não é o tradicional do PT. "Tenho votos de evangélicos, policiais, maçons. Eu ajudo a trazer um pedacinho a mais."

O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, em ato da campanha de Lula à Presidência Diadema, na Grande São Paulo - Marlene Bergamo - 9.jul.2022/Folhapress

Tanto o candidato do PSB quanto o primeiro suplente negam existir acordo prévio para que o presidente do PSOL assuma a cadeira se Lula vencer. França tem dito que sempre cumpriu mandatos até o fim.

"Nunca foi discutido nada nesse sentido, até porque Lula não está fazendo tratativas sobre ministério. Primeiro precisamos ganhar", afirma Medeiros. Segundo ele, sua participação na chapa do Senado é fruto da negociação do PSOL por espaço nas candidaturas majoritárias da coligação.

A insinuação de que o psolista pode virar o titular é intensamente usada pelos bolsonaristas, que exploram o apoio do partido a medidas mais permissivas sobre aborto e drogas.

Janaina já descreveu Medeiros como "esquerdista raiz" e disse que o PSOL é a sigla que mais defende as pautas contrárias ao conservadorismo. Nas redes sociais, lança provocações: "Vamos entregar nossa única cadeira à esquerda? Não é possível que apenas Lula raciocine neste país!".

Segundo o suplente, as bandeiras defendidas por França na campanha giram em torno de combate à desigualdade e à fome. "Não estou nem um pouco desconfortável nesse lugar. Pouco a pouco, a militância do PSOL vai entendendo que eleger Márcio França é interditar a extrema direita."

Candidatos ao Senado por São Paulo

  • Aldo Rebelo (PDT)
  • Antônio Carlos (PCO)
  • Astronauta Marcos Pontes (PL)
  • Dr. Azkoul (DC)
  • Edson Aparecido (MDB)
  • Janaina Paschoal (PRTB)
  • Mancha Coletivo Socialista (PSTU)
  • Márcio França (PSB)
  • Prof. Tito Bellini (PCB)
  • Ricardo Mellão (Novo)
  • Vivian Mendes (UP)
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