Datafolha: Campanha de Lula aponta resiliência de petista; Planalto vê margem para Bolsonaro crescer

Pesquisa mostra Lula com 45% das intenções de voto e Bolsonaro com 34%

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Brasília e Rio de Janeiro

Apesar da oscilação positiva de Jair Bolsonaro (PL) na nova pesquisa Datafolha, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia que o levantamento expressa resiliência do petista e mostra dificuldade do atual chefe do Executivo de registrar um crescimento significativo até o fim da eleição.

Em outra frente, aliados de Bolsonaro afirmam que a tendência de alta demonstrada ao longo das últimas semanas e as manifestações do 7 de Setembro apontam que há margem para o presidente avançar e se aproximar ainda mais de seu principal adversário no primeiro turno.

A pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (9) mostra o petista estacionado em 45% e Bolsonaro oscilando positivamente dois pontos, dentro da margem de erro, chegando a 34% das intenções de voto. Trata-se da menor distância entre os dois desde maio de 2021.

Montagem com fotos de Lula e Bolsonaro durante participação em debate entre presidenciáveis, em São Paulo
Montagem com fotos de Lula e Bolsonaro durante participação em debate entre presidenciáveis, em São Paulo - Marlene Bergamo - 28.ago.22/Folhapress

O levantamento foi feito depois do 7 de Setembro, quando bolsonaristas realizaram atos na ocasião do Bicentenário da Independência. No feriado, o presidente mobilizou milhares de apoiadores em manifestações, participou de desfiles cívico-militares e realizou comícios em Brasília e no Rio de Janeiro.

A oscilação de Bolsonaro é lida por integrantes da campanha de Lula como fruto de uma sensação de melhora na economia e da superexposição gerada pelos atos desta semana.

Segundo um integrante do comando da campanha petista, embora o ideal fosse que os números não se alterassem, já havia a expectativa de que o chefe do Executivo se beneficiasse eleitoralmente do pacote de medidas que levou à redução de preço dos combustíveis e ao aumento no valor do Auxílio Brasil para R$ 600.

O receio ficou ainda maior depois do ambiente gerado pelas manifestações do 7 de Setembro, com apoiadores de Bolsonaro mobilizados em grande número nas principais cidades do país e com o presidente se beneficiando de uma superexposição.

Para um membro da campanha de Lula, os efeitos das medidas econômicas de Bolsonaro estão chegando ao limite. Mais do que isso, esse aliado do ex-presidente avalia que a eventual melhora na economia não é sentida pela população mais pobre.

A aposta entre conselheiros de Lula é que o voto do segmento de renda mais baixa —hoje favorável ao petista— tende a não variar mais até o dia do pleito.

Aliados do ex-presidente, porém, veem os apoiadores do atual chefe do Executivo mais engajados e temem que o avanço de Bolsonaro, apesar de gradual e lento, desestimule a militância petista.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), enfatizou a resiliência de Lula, mas reconheceu que Bolsonaro soube ativar sua militância.

"Bolsonaro usou a mobilização do 7 de Setembro para fazer campanha. Temos que responder a isso. Colocar nosso time nas ruas", disse Gleisi. "[Mas] Lula está mostrando muita resiliência. Continua firme. Temos que ter calma, sangue frio e persistir no caminho."

O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, disse, por sua vez, que a pesquisa é ruim para Ciro Gomes (PDT) e pode antecipar um movimento de voto útil da população na tentativa de garantir a eleição de Lula no primeiro turno.

"Preocupante para o Ciro a pesquisa. De nossa parte estamos no caminho certo para ganhar no primeiro turno, se puder, se não der, no segundo. E acho que vai começar um movimento de voto útil", afirmou.

No Datafolha, Ciro Gomes (PDT) oscilou negativamente de 9% para 7%. Simone Tebet (MDB) aparece empacada nos mesmos 5% do levantamento anterior.

Apesar do discurso do voto útil, a possibilidade de vitória nesta etapa da eleição para Lula segue mais distante, segundo a pesquisa desta sexta.

O petista manteve o patamar de 48% dos votos válidos, mas o atual presidente tem agora 36% dos válidos —ante 34% no levantamento anterior. Para ganhar no primeiro turno, é preciso ter 50% dos votos válidos mais um.

Já aliados do presidente Bolsonaro insistem na tese apelidada por eles de "Datapovo": contrapor as pesquisas de opinião às manifestações de rua de grande adesão vistas no 7 de Setembro.

Para auxiliares do chefe do Executivo, os atos cumpriram seu propósito. Deram uma demonstração de força política e eleitoral e serviram de fotografia para contestar as sondagens eleitorais.

"A boca do jacaré está se fechando… #medinho", escreveu nas redes sociais o ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Estrategistas da campanha citam ainda levantamentos próprios que, segundo eles, mostram Bolsonaro com melhor desempenho. Dizem acreditar que há tempo para que o mandatário se aproxime de Lula até o primeiro turno.

Um ministro disse à Folha que "já era tempo" de as pesquisas captarem uma melhora do presidente.

Seguindo a estratégia de desacreditar os institutos de pesquisa, Bolsonaro disse, na quinta-feira (8), que a adesão às manifestações indica que ele deve ganhar as eleições no primeiro turno —hipótese não respaldada pelas principais pesquisas de opinião do país.

"Com o que nós vimos pelo Brasil, aqui em Brasília na Esplanada, em São Paulo, na Paulista; em Copacabana, no Rio de Janeiro, olha, eu acho que está decidida a eleição no primeiro turno. Não tem explicação o outro lado ganhar. Porque não foi apenas aqui, foi no Brasil todo", afirmou.

A campanha de Simone Tebet (MDB) minimizou o resultado do Datafolha, que a mostrou estacionada em 5%. O argumento é que esse levantamento refletiu as mobilizações em torno do 7 de Setembro, que teve Bolsonaro como principal protagonista.

Uma das apostas de aliados é que a radicalização entre os dois líderes deve se acirrar daqui para a frente, abrindo espaço para que outro candidato corra por fora.

"Acredito que a radicalização vai crescer nesses próximos dias, esse processo de confronto entre os dois, que vai dar espaço para que a Simone cresça, uma vez que ela tem essa proposta de pacificação", afirma o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, um dos coordenadores da campanha de Tebet.

Procurado para comentar o desempenho de Ciro, o presidente do PDT, Carlos Lupi, não respondeu à reportagem.

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