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Ex-mulher de Valdemar pede voto para Lula e segue refugiada nos EUA

Publicitária que fez acusações contra o hoje presidente do partido de Bolsonaro saiu do país relatando ameaças

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São Paulo

"Se você acha que o Brasil vai virar Venezuela, me liga! Sou corretora de imóveis em Miami."

Dezessete anos depois do escândalo que abalou o primeiro mandato do ex-presidente Lula, uma das primeiras testemunhas que vieram a público falar sobre o caso naquela época agora pede nas redes sociais votos para o petista.

A publicitária Maria Christina Mendes Caldeira, 56, vive desde 2017 na Flórida, para onde foi depois de sair do Brasil se dizendo perseguida e ameaçada por pessoas ligadas a seu ex-marido Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, que hoje abriga a candidatura do presidente Jair Bolsonaro.

A publicitária Maria Christina Mendes Caldeira, que hoje vive nos Estados Unidos, em 2014 - Bruno Poletti - 24.set.14/Folhapress

Juntou registros de ocorrência de ameaças, além de compilação de processos contra ela que tramitam na Justiça, contou sua trajetória de acusações feitas e pediu asilo político ao governo americano. De lá, continua torpedando o ex-marido e o atual grupo político dele.

"Ele [Valdemar] faz a política suja, política de Brasil. Mas nunca vi alguém ter um conhecimento de 'real politics' como esse cara", disse ela à Folha.

Recentemente, pediu à Justiça Eleitoral que o ex-marido fosse afastado do comando do partido, que classifica como "uma empresa familiar."

Valdemar foi um dos 25 condenados pelo Supremo Tribunal Federal no mensalão, esquema de compra de apoio parlamentar pelo PT no primeiro governo Lula.

Mandachuva do PL na época do caso, Valdemar renunciou ao mandato parlamentar, foi preso e submergiu, mas se manteve no controle do partido, que voltou a presidir na gestão Bolsonaro. Agora, elegeu a maior bancada da Câmara, com 99 deputados, quase 20% da Casa.

Na época do mensalão, em 2005, Maria Christina ganhou destaque no noticiário ao se dispor a falar na Câmara sobre o caso.

Já separada de Valdemar, relatou episódios que em parte corroboravam as suspeitas sobre ele, como posse de dinheiro vivo e busca por malas.

Desenvolta em frente aos congressistas, dizia que Lula tinha feito um "mau casamento político". Posteriormente, arriscou, com o mote da denúncia do mensalão, uma candidatura a deputada federal pelo PV em São Paulo, que não teve sucesso.

Em 2017, saiu repentinamente do país levando poucos pertences. Dizia que sua vida estava em risco no Brasil e pediu o asilo. Hoje, diz contar com proteção do governo dos Estados Unidos, desde que não saia do território americano.

De conhecida socialite paulistana, herdeira de uma família de empresários do ramo imobiliário, virou motorista de Uber e corretora nos Estados Unidos. Também está trabalhando em uma agência de viagens.

Segundo disse à reportagem, colabora com autoridades americanas em investigações sobre movimentação ilícita de dinheiro de brasileiros fora do país. Tem o status de whistleblower (denunciante).

Resolveu fazer de Miami campanha nas redes para o petista, por entender que o Brasil "passa vergonha todos os dias" com Bolsonaro.

"O país precisa de uma pessoa que componha, e o Lula sabe negociar. Precisa de um cara que tenha experiência. Ele conseguiu aglutinar todos, o Fernando Henrique Cardoso, que eu adoro. O [Geraldo] Alckmin, que é certinho. Está montando um time bom. Tinha que pôr Simone Tebet, Marina Silva em ministérios."

Também afirma: "Gente que eu conheço está zumbi do Bolsonaro. 'Você é comunista!' Querida, não existe isso no mundo'".

Mulher, sentada, fala ao microfone; o fundo é branco
Maria Christina, durante depoimento contra Valdemar no Conselho de Ética da Câmara, em 2005 - Adriano Machado - 20.jul.2006/Folhapress

Maria Christina também organizou uma petição pedindo a cassação da senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), que deu no início do mês declarações não comprovadas sobre venda de crianças no Norte do país. Já levantou quase 800 mil assinaturas.

Também atua em grupos de renovação política e tenta fundar uma plataforma virtual que viabilize reclamações e cobranças aos governos no Brasil.

Nas redes, faz ironias e insinuações sobre segredos que diz conhecer do grupo político. Um dos seus alvos preferidos é justamente Valdemar.

Apesar de o fim da relação ter ocorrido há quase duas décadas, o litígio com o dirigente partidário persiste. O PL ganhou na Justiça do Distrito Federal ação em que cobrava de Maria Christina o ressarcimento pela mobília comprada para o casal com dinheiro do partido em Brasília.

O lote incluía mesa em madeira nobre e artigos comprados em antiquário e lojas de antiguidade. Em 2016, o valor cobrado pelo partido informado pela Justiça já somava R$ 568 mil.

A Folha procurou o ex-deputado e enviou perguntas para o partido nesta semana, mas não obteve resposta.

O partido disse que à Justiça que o mobiliário tinha sido adquirido para compor a sede social do partido e a "residência oficial" do presidente da legenda em Brasília. Valdemar, desde a época do mensalão, tem rechaçado as declarações da ex-mulher e a acusou de mentir.

Maria Christina protocolou agora um pedido de providência ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) falando ser vítima de "violência patrimonial" e mencionando que o partido pediu à Justiça de São Paulo para ficar com parte da herança do pai dela para quitar a dívida.

"Eu não estava casando com um partido. Ele dizia que a minha casa era a 'sede social' do PL. Vai para o inferno, né?", diz a publicitária.

Ela afirma que o episódio só reforça sua afirmação de que é perseguida politicamente no Brasil, tese colocada em uma reclamação encaminhada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Mas fala que não quer ter sua imagem ligada eternamente ao político. "Pelo amor de Deus, não me reduzam a isso."

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