Gestão Doria/Rodrigo patina em obras, mas deixa vitrines a Tarcísio e legado da vacina

Levantamento de metas mostra atrasos no metrô e Rodoanel e entregas no ensino integral e na despoluição do rio Pinheiros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A gestão de João Doria (ex-PSDB) e Rodrigo Garcia (PSDB) em São Paulo não conseguiu entregar algumas das metas de campanha e grandes obras, mas deixará promessas em estágio avançado que devem virar vitrines do futuro governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A administração atual foi afetada pela pandemia, que atrapalhou o cumprimento de algumas das propostas. No entanto foi nesse aspecto que a gestão conquistou a principal marca positiva, com a atuação para trazer a primeira vacina contra o coronavírus ao país.

De acordo com levantamento feito pela Folha entre 50 metas importantes da administração, 17 foram cumpridas ou estão em fase avançada, outras 18 seguem em andamento e 15 não foram realizadas ou estão em estágio inicial.

João Doria e Rodrigo Garcia, em março de 2022, quando o então vice assumiu o Governo de São Paulo - Amanda Perobelli - 31.mar.22/Reuters

O governador Rodrigo Garcia, em entrevista à Folha, afirmou que o governo conseguiu desemperrar grandes obras e deixou dinheiro em caixa para Tarcísio. Ele menciona 40 km de obras do metrô em andamento e a despoluição do rio Pinheiros como marcas.

Por outro lado, obras viárias como a do Rodoanel Norte e da ponte Santos-Guarujá emperraram, e o Trem Intercidades não saiu do papel.

Outra vitrine dos tucanos em São Paulo, a das contas públicas no azul, envolveu medidas impopulares, como a reforma da Previdência, o confisco dos aposentados, o fim de benefícios fiscais e a extinção de estatais.

Os feitos da gestão não conseguiram alavancar a carreira pública de Doria e Rodrigo. Pelo contrário, sem um novo mandato, ambos falam em se dedicar à vida pessoal ou atividades no setor privado no próximo ano, num afastamento forçado da política.

Rodrigo tentou a reeleição, mas perdeu no primeiro turno, numa derrota histórica para o PSDB, que governa o estado há quase 30 anos. Já Doria, marcado por uma alta rejeição do eleitorado, não conseguiu viabilizar sua candidatura à Presidência da República.

Em abril passado, Doria deixou o governo com 23% de aprovação e 36% de rejeição —para 39%, sua gestão foi regular. Em setembro, Rodrigo tinha 30% de aprovação, 18% de rejeição e 40% de regular.

Na avaliação dos tucanos, o resultado ruim na eleição tem a ver com a polarização entre bolsonaristas e petistas. Temas como a vacina, por exemplo, não tiveram destaque.

Rodrigo tentou se pautar no legado do PSDB e na sua experiência na gestão pública, mas não tinha uma marca forte. "Acreditei numa eleição que queria discutir São Paulo, e a sociedade discutiu outra coisa, por isso não venci", disse à Folha.

A administração retomou obras paradas do metrô, como as das linhas 6-Laranja, 15-Prata e 17-Ouro, mas não escapou do atraso.

A linha 17-Ouro, que ligará o aeroporto de Congonhas ao Morumbi, por exemplo, deveria operar na Copa do Mundo de 2014. O governo chegou a prever que parte da linha iria operar em 2022, mas a nova previsão é 2023. Já a promessa de uma linha de metrô no ABC foi substituída pela implantação de um BRT.

A duplicação da rodovia dos Tamoios é uma meta realizada, mas não cumpriu o prazo –era prevista para 2020, mas só saiu neste ano.

O governo entregou a privatização de aeroportos, a maior concessão rodoviária do país (Piracicaba-Panorama), a expansão do ensino integral e do Poupatempo, além da reforma do Museu do Ipiranga. Mas patinou em expandir a Rede Lucy Montoro e o Viva Leite.

As medidas de Doria e Rodrigo tiveram oposição na esquerda e na direita.

"O governo Doria/Rodrigo termina da forma como começou, desmontando o Estado, desrespeitando servidor público e com promessas não cumpridas. Foi um governo que enfraqueceu o PSDB paulista e que não deixa saudade, nem para seus aliados", afirma a líder do PT na Assembleia Legislativa, deputada Márcia Lia.

Para a deputada bolsonarista Letícia Aguiar (PP), Rodrigo conduziu o estado com mais diálogo, enquanto Doria "foi desastroso com uma série de ações impositivas, ditatoriais e equivocadas".

Ela menciona as medidas contra a pandemia e diz que o funcionalismo público foi prejudicado, sendo que policiais não tiveram o aumento prometido —o reajuste dado ficou aquém.

O secretário de Governo, Marcos Penido, afirma que um balanço próprio da gestão aponta que foram concluídas mais de 80% de 180 metas.

"Alguns pontos de destaque foram a vacina, a reinauguração do Museu do Ipiranga, as escolas de período integral [que eram 300 e hoje já somam mais de 2.000], toda a reformulação da frota e o armamento da polícia, mais de 11 mil quilômetros no programa de vicinais e estradas asfaltadas", disse.

Ele acrescenta que a cereja do bolo é a despoluição do rio Pinheiros, que já conectou mais de 650 mil imóveis à rede de esgoto.

Penido admitiu também que a pandemia atrapalhou obras, diminuiu o ritmo de trabalho nos canteiros e afastou investimentos.

A não realização de parte das promessas em quatro anos deu a oportunidade para que Tarcísio, mesmo antes de assumir, tomasse para si essa vitrine.

Em evento sobre infraestrutura em dezembro, Tarcísio anunciou o leilão do Rodoanel Norte para março e o edital do Trem Intercidades para o primeiro semestre –obras que Doria e Rodrigo prometeram tirar do papel. O futuro governador disse que iria "resolver problemas e passivos que são de muitos anos".

Doria e Rodrigo tinham o objetivo de reverter a imagem de morosidade que marca o PSDB, mas também acumularam entraves no metrô e no rodoanel.

O governo tucano planejou o leilão do Rodoanel para janeiro de 2023, mas a equipe de transição pediu o adiamento para março para atender a um pedido do mercado por mais prazo. Em relação ao trem, a gestão atual fez um projeto e assinou acordo com o governo federal para destravar a obra.

Tarcísio encampou a agenda tucana de controle de gastos, obras de infraestrutura, investimentos privados e concessões —ao mesmo tempo em que excluiu o PSDB do primeiro escalão do seu governo.

Assim como Doria, prometeu ampliar as privatizações (um mirava presídios, o outro a Sabesp) e superar os atrasos tucanos com eficiência (um falava em "acelerar" e o outro em "dar velocidade").

As promessas feitas por Doria se tornaram responsabilidade também de Rodrigo, que, ao assumir a Secretaria de Governo além do cargo de vice-governador, atuou como um gerente dos principais projetos.

Uma vez governador, o então vice tinha que levar a cabo as metas do antecessor, mas buscou uma agenda e um estilo diferentes. O descolamento teve propósito eleitoral, já que a impopularidade de Doria era considerada uma âncora.

Ao contrário de Doria, Rodrigo quis reduzir sua exposição, suspendendo as coletivas em série no Palácio dos Bandeirantes, e apostou na ligação com o interior, algo que o antecessor não tinha. Adotou o mote paulista raiz e implantou um governo itinerante, que despejava verba a cada cidade visitada.

Ao prometer retomar a gratuidade do transporte para maiores de 60 anos e o fim do confisco dos aposentados, Rodrigo se comprometeu, na verdade, a desfazer um pacote de maldades imposto por ele e Doria em 2020.

Entre seus feitos após assumir o posto, Rodrigo elenca a briga para que São Paulo não perdesse recursos devido à mudança da legislação do ICMS dos combustíveis e a contratação de policiais e professores.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.