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Assista às versões que Sérgio Cabral já apresentou contra acusações

Ex-governador confessou publicamente por 13 vezes ter recebido propina, mas agora nega e se diz vítima de pressão da Lava Jato

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Rio de Janeiro

"Se há uma pessoa que não vai mudar a versão, sou eu. Porque essa versão é a verdadeira. Nunca pedi propina, sempre pedi apoio para campanha", disse o ex-governador Sérgio Cabral em novembro de 2017, em seu 7º depoimento à Justiça Federal.

"Em nome da minha mulher, dos meus filhos, da minha família e da história que eu decidi falar a verdade e ficar bem comigo mesmo", afirmou em fevereiro de 2019 o mesmo Cabral, em seu 17º interrogatório, ao confessar ter montado um esquema de propinas no Governo do Rio de Janeiro.

O ex-governador Sérgio Cabral em seu apartamento no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli / Folhapress

Após passar seis anos preso e há três meses fora da cadeia, Cabral mudou, de novo, o que classifica como verdade.

"Não é a versão. A verdade foi o que eu disse da primeira vez", disse à Folha no último dia 8.

Acusado de cobrar 5% de propina em grandes obras, Cabral agora retomou como tese de defesa o uso de sobras de caixa dois de campanha eleitoral para fins pessoais. Seria essa a fonte de recursos para a compra de joias e pagamentos pessoais diversos identificados nas investigações do Ministério Público Federal.

Ele confirma relação com os doleiros Renato e Marcelo Chebar, mas nega ser dono dos US$ 100 milhões em contas no exterior entregues pelos dois irmãos como parte do acordo de delação. Diz apenas que a dupla organizava o fluxo do caixa dois de campanha, sem saber como operavam.

Essa foi a versão foi apresentada em 14 dos 29 interrogatórios do ex-governador à Justiça Federal, sendo a última vez em agosto de 2018.

Em fevereiro de 2019, Cabral iniciou a série de 13 depoimentos ao juiz Marcelo Bretas na qual confessou ter recebido propina e liderado uma organização criminosa desde sua ascensão política na década de 1990.

Os 29 depoimentos —dos quais 2 ficou em silêncio— somam mais de 27 horas que muitas vezes se contradizem.

O volume de depoimentos de Cabral se deve ao fatiamento das acusações feitas pelo Ministério Público Federal, à medida que novos casos eram descobertos ao longo dos anos. O ex-governador chama a estratégia de "avalanche de processos massacrante", com o objetivo de impedir sua defesa.

Cabral responde a 36 ações penais sob acusação de organização criminosa, corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e peculato. Já foi condenado em 20 processos a penas que somam 375 anos, 8 meses e 29 dias de prisão. Tribunais superiores anularam outras condenações, o que pode se refletir nas sentenças ainda em vigor.

O ex-governador afirma que confessou e depois tentou se tornar delator em razão do que chama de tortura de procuradores e do juiz Marcelo Bretas.

"Me bota no pau de arara. Agora, não mexe com meu filho, meu irmão, minha mãe, as mães dos meus filhos. Eles fizeram isso de uma maneira fascista, nojenta e covarde", disse à Folha.

Ele se refere à prisão da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo e às acusações contra parentes em meio às 36 ações penais de que foi alvo. A ex-mulher teve condenações confirmadas no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), bem como o irmão, Maurício Cabral. Outra ex-mulher, Susana Neves, foi absolvida na segunda instância após condenação de Bretas.

Algumas frases marcantes dos interrogatórios, porém, indicam reflexões semelhantes do ex-governador.

"Eu não soube me conter diante de tanto poder e tanta força política", disse, quando ainda negava ter recebido propina.

"Apego a dinheiro, a poder... Isso é um vício", afirmou ao confessar pela primeira vez.

Atualmente, ele trata a expressão "vício" como um desabafo. Mas mantém a interpretação de que a ascensão política o impediu de enxergar as irregularidades que ainda confessa.

"Não é que seja um vício, mas o poder e as suas consequências... Tem que medir muito. [...] Eu vivia sempre cercado de gente, puxa saco para cacete. Todo aquele "entourage" de poder. [...] É um processo, você não enxerga."

Em nota, o MPF (Ministério Público Federal) afirmou que sua atuação em todos os casos, incluindo os envolvendo o ex-governador, "se pautou sempre pela elucidação objetiva dos fatos e as providências adotadas pelas provas reunidas e limites do ordenamento jurídico".

"Esclarece ainda que o fato de o Poder Judiciário ter acatado as medidas requeridas pelo MPF prova que as providências e eventuais desmembramentos obedeceram à legislação. O MPF também sempre respondeu de forma técnica, no momento e foro oportunos, às alegações apresentadas pelo ex-governador no decorrer de todas os feitos envolvidos", diz a nota.

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