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Parlamentares se organizam em bancada por pautas de Marielle, morta há 5 anos

Grupos são formados por parlamentares de partidos de esquerda na Câmara dos Deputados e em Assembleias

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São Paulo

Defender as propostas que eram encampadas por Marielle Franco e cobrar a conclusão das investigações sobre a morte dela. Esses são os principais objetivos dos deputados para formar a Bancada Marielle.

O grupo é composto por parlamentares de partidos de esquerda eleitos no último pleito, tanto para a Câmara dos Deputados como para as Assembleias Legislativas de diferentes estados.

A primeira agenda foi editada para as eleições municipais de 2020. A intenção era divulgar uma carta de compromissos e ajudar a eleger mais mulheres negras. Em 2022, as pautas foram atualizadas para dialogar com o contexto da eleição nacional. Dos 145 candidatos comprometidos com as propostas, 44 foram eleitos.

Marielle Franco fala em sessão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 2018
Marielle Franco fala em sessão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 2018 - Renan Olaz - 21.fev.18/Câmara Municipal do Rio de Janeiro/AFP

Há cinco anos, na noite de 14 de março de 2018, Marielle e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros em uma emboscada no centro do Rio de Janeiro.

Ela havia sido eleita em 2016 pelo PSOL e foi a vereadora mais bem votada do Rio naquela disputa.

Os ex-policiais militares Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos, e Élcio de Queiroz, acusado de dirigir o carro usado no crime, foram presos em março de 2019 e se tornaram réus pelos homicídios. Desde então, as autoridades tentam identificar possíveis mandantes do crime.

Com o objetivo de manter o legado político de Marielle e lutar por justiça foi criado o Instituto Marielle Franco, que era liderado por sua irmã, Anielle Franco, que deixou o cargo para ser ministra da Igualdade Racial do atual governo Lula.

Em 2020, a organização criou a Agenda Marielle Franco, com um conjunto de práticas antirracistas, feministas, LGBTQIA+ inspiradas no que a vereadora defendia em seu mandato. O documento foi construído com o apoio de mais de cem organizações e conta com oito pautas prioritárias.

Os eixos são justiça econômica e social; justiça racial e segurança pública; gênero, sexualidade e justiça reprodutiva; direito à cidade, à favela e à periferia; saúde pública gratuita de qualidade e integral; educação pública gratuita; cultura e memória e justiça ambiental, climática e direito à terra e ao território.

De acordo com Lígia Batista, nova diretora executiva do instituto, a agenda é uma ferramenta de compromissos políticos dos parlamentares signatários. O seu objetivo é dar continuidade ao legado que Marielle construiu durante a sua atuação política.

"A ideia da agenda é que esses eixos prioritários possam inspirar as parlamentares a produzir reflexão de política pública através de seus mandatos", afirma. Segundo ela, o documento foi elaborado ouvindo movimentos sociais e organizações da sociedade civil.

Deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) no plenário da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro); ela é uma das parlamentares que aderiram à Agenda Marielle Franco - Eduardo Anizelli/ Folhapress

A deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) é uma das parlamentares que compõem a bancada. Para ela, o instituto, além de ser um espaço para preservar o legado, é um lugar de fomento de novas lideranças.

"Na filosofia africana há um pássaro chamado Sankofa que voa para o futuro, mas sua cabeça é virada para o passado. Este é um pouco do trabalho do instituto, construir na conjuntura atual as pautas que Marielle deixou germinando", afirma.

A deputada diz que a política no Brasil sempre foi marcada por violência, mesmo após a redemocratização.

"Quando nós mulheres negras e favelados ocupamos esses espaços de poder e começamos a chegar nas casas legislativas, a reação da estrutura do poder foi violenta, porque eles nunca aceitaram dividir [o espaço]."

Ela afirma ainda que o assassinato da vereadora diz respeito também sobre como é produzida a política pública para a população mais vulnerável. Segundo ela, o recado que fica por trás da morte de Marielle é o de que o corpo de uma mulher negra, favelada e lésbica não poderia ocupar aquele espaço.

"Quem cometeu esse brutal e bárbaro assassinato atacou também a nossa democracia e o nosso direito de existir. A resposta [de quem mandou matar] é necessária. O Estado brasileiro nos deve essa resposta", diz.

Sâmia Bomfim, deputada federal (PSOL-SP), vai na mesma linha e cobra uma solução sobre a existência ou não de mandantes para o crime.

"São cinco anos do assassinato da Marielle. É um crime que ainda choca o Brasil e o mundo e o fato de não haver respostas, coloca urgente a necessidade de dar visibilidade com ainda mais força sobre o que aconteceu."

Na avaliação da parlamentar, que também aderiu à agenda, o ministro da Justiça, Flávio Dino, tem dado declarações e tomado iniciativas importantes no sentido de encaminhar uma resolução para o crime.

A deputada estadual Laura Sito (PT-RS) também é uma das signatárias do documento. Para a parlamentar, fazer parte da bancada significa ajudar a construir uma agenda feminista e antirracista no Brasil.

Entre as ações como membro da bancada, Sito destaca o combate à violência política de gênero. "Nós fizemos articulações junto ao Ministério Público Federal e ao TSE para que pudéssemos avançar em expedientes de fiscalização, controle e punição desse tipo de violência", afirma.

Como signatária da Agenda, a deputada afirma que pretende priorizar na sua atuação parlamentar questões relacionadas a promover vida digna às mulheres e ações de combate à fome.

"Quando falamos em comunidades tradicionais, contra grilagem de terra, arrendamento de terra, povos indígenas, quilombolas, contra o trabalho escravo, nós estamos falando de setores que movimentam milhões de reais no Brasil. E esses são temas do nosso povo, que falam da condição de subcidadania do negro no Brasil", diz.

Outra parlamentar que aderiu a bancada foi a deputada federal Carol Dartora (PT-PR). "A Marielle foi o símbolo dessa luta, que não começou agora", diz.

Para ela, a pauta que pretende priorizar na atuação na Câmara é a de combate à violência política de gênero e raça. "Não é mais possível que a gente sofra tanta violência para chegar e ao chegar a gente fique só pensando em nunca mais voltar", afirma.

Segundo Dartora, é imprescindível a presença de mulheres negras nos espaços de poder para que se tenha o avanço democrático que o país precisa. "Porque as decisões passam por aqui. Se nós não estivermos aqui existe toda uma população que está silenciada junto com a gente", diz.

Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Suplicy (PT-SP), Célia Xakriabá (PSOL-MG), Benedita da Silva (PT-RJ) e Talíria Petrone (PSOL-RJ) são outros parlamentares que formam a Bancada Marielle.

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