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Atos golpistas impulsionaram violência física contra jornalistas em 2022, diz relatório

Levantamento da Abert sobre violações à liberdade de expressão também destaca assassinato de Dom Phillips

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Brasília

Impulsionados por manifestações golpistas contrárias à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) na disputa para presidente, os casos de violência física contra jornalistas subiram 38% em 2022 no Brasil.

O ano também ficou marcado por assassinatos dos jornalistas Dom Phillips, na região do Vale do Javari, e de Givanildo Oliveira da Silva, comunicador que atuava em Fortaleza.

Os dados fazem parte do relatório anual de "Violações à Liberdade de Expressão", divulgado nesta quarta-feira (10) pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).

Apoiadores do ex-presidente Bolsonaro em acampamento em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, em dezembro de 2022 - Pedro Ladeira/Folhapress

O documento mostra queda de 6% em casos de violência não letal contra a imprensa de 2021 para 2022. O número de registros de agressões físicas, porém, avançou de 34 para 47.

Esse tipo de violência é a mais frequente entre as registradas pelo relatório de 2022. No ano anterior, os episódios de ofensas ocuparam esse posto.

O documento afirma que a maior parte dos ataques ocorreu após o segundo turno, durante a cobertura de atos golpistas mobilizados por apoiadores do então presidente Bolsonaro em frente a quartéis, contra o resultado das eleições.

Quase 64% das agressões físicas ocorreram em estados do Sudeste e Sul. Os profissionais de televisão e da cobertura de temas ligados à política foram os principais alvos.

"Socos, chutes, empurrões, tapas, arranhões" foram as formas de agressões em 18 casos. Jornalistas ainda levaram pedradas em 4 ocasiões, e 18 casos foram classificados como "outros" tipos de violência.

No total, foram registrados 137 casos de violência não letal, com pelo menos 212 profissionais e veículos de comunicação envolvidos.

Além da violência física, o relatório aponta episódios de ofensas (28 casos), intimidações (25), ameaças (19), ataques/vandalismo (5), importunação sexual (4), injúria (3), atentados (2), censura (2), sequestro (1) e roubo/furto (1).

"Mais uma vez os dados registrados pelo relatório são alarmantes", diz o presidente da Abert, Flávio Lara Resende durante o lançamento do relatório.

No mesmo evento, a diretora da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, disse que é dever da sociedade garantir a segurança dos jornalistas.

Em 2022, políticos e ocupantes de cargos públicos foram os principais autores de ofensas à imprensa.

Das 12 ocorrências ofensas contra jornalistas mulheres, quatro foram direcionadas a Vera Magalhães, apresentadora da TV Cultura. Ela foi chamada de "vergonha para o jornalismo brasileiro" por Bolsonaro, durante debate exibido na Band em agosto de 2022.

"Ao todo, foram registrados 28 casos de ofensas e, apesar da redução de 47% em relação a 2021 no número de registros e de 46% no de vítimas —caiu de 89 para 48— , não há motivos para comemorar", afirma o relatório.

O Brasil voltou a registrar assassinatos de jornalistas pelo exercício da profissão em 2022.

"As mortes do jornalista britânico e colaborador do jornal The Guardian, Dom Phillips, durante reportagem com depoimentos sobre os constantes conflitos de indígenas com garimpeiros e madeireiros que atuam ilegalmente no Vale do Javari, em Atalaia do Norte (AM), e de Givanildo Oliveira da Silva, morto após noticiar a prisão de um suspeito de duplo homicídio em Fortaleza (CE), entraram para as estatísticas que confirmam o Brasil como um dos países mais perigosos para o exercício do jornalismo", afirma o relatório.

O levantamento afirma que 42 jornalistas foram mortos no Brasil desde 2003. "Ao lado de México, Colômbia e Honduras, o Brasil figura entre os 15 países da América Latina que registaram o maior número de casos de assassinatos nas últimas duas décadas."

Casos de importunação sexual voltaram a aparecer no documento sobre 2022. Foram quatro registros, sendo três deles contra jornalistas mulheres que faziam coberturas esportivas no Sudeste.

Além de beijos sem consentimento, mensagens anônimas e vídeos de cunho sexual foram enviados para as comunicadoras, mostra o relatório.

Segundo o documento, o ex-presidente Bolsonaro e seus apoiadores foram novamente protagonistas em ataques contra jornalistas nas redes sociais.

"Em 2022, os ataques à imprensa, partindo de aliados do então presidente Jair Bolsonaro, chegaram a 1,32 milhão de posts, uma redução de 6% em relação ao ano anterior, quando chegaram a 1,4 milhão de críticas publicadas no Facebook, Twitter e Instagram", afirma o documento.

"Ainda assim, em 2022, a imprensa brasileira sofreu 3,6 mil ataques por dia, 150,7 por hora ou 2,51 ataques por minuto, com palavras pejorativas e de baixo calão contra os profissionais e veículos de comunicação", diz ainda o texto.

Segundo o relatório, parte da queda dos ataques virtuais à imprensa ocorreu por causa da "reação da sociedade" em defesa do papel do jornalismo para a democracia. Outro fator foi a migração dos ataques bolsonaristas para grupos privados de mensagens, "difíceis de serem mapeados em larga escala como as redes sociais".

O documento também soma 20 decisões judiciais relacionadas à imprensa, sendo 11 delas favoráveis aos jornalistas.

Representantes de empresas de mídia, além da diretora da Unesco, disseram durante o evento que é preciso regulamentar a atividade das redes sociais para frear o avanço da desinformação.

O presidente da Abert defendeu a aprovação do PL das Fake News. "Precisa haver responsabilização das plataformas pelo conteúdo que veiculam", disse Resende.

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