Nunes tem coligação instável para 2024 com incertezas e divisões em partidos da base

PL, União Brasil, Republicanos, PSDB e outras legendas consideram alternativas; Boulos e Tabata buscam alianças

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São Paulo

Em busca de uma coligação robusta para disputar a reeleição à Prefeitura de São Paulo no ano que vem, Ricardo Nunes (MDB) enfrenta divisões e incertezas no grupo de partidos que formam sua base, sem a garantia plena do embarque das siglas aliadas em sua campanha.

A situação tende a ficar mais instável até a definição do xadrez eleitoral, com as investidas de outras candidaturas por apoios. Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB) podem avançar sobre agremiações hoje ligadas a Nunes.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que deve disputar a reeleição em 2024 para a Prefeitura de São Paulo - Governo do Estado de SP - 5.jan.23/Divulgação

Partidos como PL, União Brasil, Republicanos, PSDB e outros ponderam questões como a viabilidade eleitoral de Nunes, seu conhecimento entre o eleitorado e a qualidade da gestão na cidade —temas que preocupam dirigentes. Além disso, reivindicam a vaga de vice na chapa em troca da adesão.

O caso mais notável é o do PL, de Valdemar Costa Neto, dono da maior bancada na Câmara e, portanto, sigla com mais verba eleitoral e tempo de TV. A ala bolsonarista do partido estimula a candidatura de Salles, deputado federal e ex-ministro que tem o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os dirigentes do PL resistem à ideia. O partido domina a Secretaria do Meio Ambiente na gestão Nunes —o secretário Eduardo de Castro (PL) deixou a pasta, mas foi substituído pelo seu chefe de gabinete, Rodrigo Ravena.

"Hoje o PL é Ricardo Nunes", diz o presidente municipal, vereador Isac Félix. Questionado sobre Salles, responde que "o PL tem ética" e que o deputado não pode impor uma candidatura "goela abaixo".

A divisão no PL antecipou a corrida e desenhou uma disputa paralela entre Nunes e Salles. Aliados de ambos veem Boulos como favorito e, por isso, brigam para ocupar a segunda vaga no segundo turno.

Nunes tenta manter o PL sob sua alçada, o que depende de conseguir que Bolsonaro passe a apoiá-lo ou ao menos fique neutro –quadro que poderia levar Salles a desistir da disputa. Além disso, aliados do prefeito cogitam oferecer a cadeira de vice para o partido, na tentativa de garantir a adesão.

Os dois postulantes obtiveram gestos de Bolsonaro nos últimos dias. Salles e o ex-presidente estiveram jutos em Ribeirão Preto (SP), ocasião em que Bolsonaro disse a aliados que não aceita apoiar o prefeito.

Mas Nunes e Bolsonaro almoçaram juntos no último dia 6, e o prefeito apareceu ao lado do ex-presidente num evento do PL na capital paulista, onde foi prestigiado por Michelle Bolsonaro.

Na União Brasil, o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, defende que o partido apoie a reeleição de Nunes, que é seu aliado. A legenda pleiteia indicar um nome para vice. "O partido está fechado com Ricardo Nunes, pois temos um acordo firmado na eleição de 2022", diz Leite.

Porém o MBL (Movimento Brasil Livre) ensaia lançar a candidatura do deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP). Se o partido não embarcar nessa ideia, não está descartada uma candidatura por outra sigla, caso Kataguiri consiga se desfiliar sem perder o mandato.

O parlamentar, contudo, diz que nada está definido, nem que o MBL lançará alguém.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, há um estranhamento entre Leite e Nunes, o que fomenta a possibilidade de uma candidatura própria da União Brasil. O nome cogitado é o do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), considerando que ele deve deixar o tucanato e regressar à sua antiga sigla.

Rodrigo, no entanto, tem dito que não será candidato na eleição municipal e que apoia a reeleição de Nunes.

A aliança entre o Republicanos e Nunes é dada como certa tanto pelo presidente municipal da legenda, vereador André Santos, como pelo nacional, Marcos Pereira —mas há um impasse envolvendo o principal nome do partido, o governador Tarcísio de Freitas.

Por enquanto, aliados de Tarcísio dizem que ele não decidiu se apoiará Nunes, com quem tem boa relação e que deve ser a escolha do seu partido, ou Salles, com quem divide vínculos bolsonaristas e que deve ter a bênção de seu padrinho, Bolsonaro.

Bolsonaristas afirmam que o governador deve seguir o ex-presidente. Nesse sentido, especulam até que Tarcísio deixe o Republicanos, algo que seu entorno diz estar fora de cogitação no momento.

O Republicanos também está na fila pela vice de Nunes. "Nem cogitamos outro nome que não seja o prefeito. Se ele for correto e mantiver a palavra, nossa tendência é estar com ele", afirma Santos.

No PSDB, de quem Nunes herdou a administração municipal após a morte de Bruno Covas (PSDB), a direção municipal diz estar fechada com o prefeito, mas as instâncias estadual e federal afirmam que não, e a sigla ainda fará consultas internas para decidir.

"O Ricardo Nunes foi uma escolha pessoal do Bruno, ele seria o candidato à reeleição do Bruno, não faz sentido não apoiá-lo. E vamos fazer força para que o partido indique a vice", diz o presidente municipal, Fernando Alfredo. A sigla considera que seria um gesto de retribuição do prefeito escolher um tucano.

Nos bastidores, no entanto, integrantes do PSDB abriram conversas com Tabata. Como mostrou a Folha, a procura de alternativas tem como pano de fundo a insatisfação de quadros alijados de postos de comando na prefeitura e que consideram Nunes alinhado ao bolsonarismo.

O PSD, segundo o presidente nacional, Gilberto Kassab, deve escolher a partir de agosto se lançará um nome ou fará aliança. No segundo caso, provavelmente o apoio será a Nunes.

Já PP e Podemos devem caminhar com o prefeito. "Agora é que vai começar a movimentação dos partidos. Nunes está fazendo um trabalho que tem alavancado a gestão dele e tem uma previsão de investimentos em obras e infraestrutura que, tenho certeza, dará ainda mais notoriedade ao seu mandato", diz o presidente estadual do Podemos, deputado federal Rodrigo Gambale.

Uma das primeiras rupturas na base de Nunes deve ocorrer com o anúncio de apoio do Solidariedade a Boulos, que está previsto para os próximos dias, de acordo com o presidente nacional, o deputado federal Paulinho da Força.

O prefeito chegou a se gabar do apoio da legenda a seu governo em entrevista à Folha em março. Na época, ele usou o Solidariedade como exemplo de interlocução com a esquerda —a sigla integrou a coligação de Lula (PT).

"Devemos ter uma conversa com o Boulos nesta semana. Quase que, podemos dizer, [será] definitiva", afirma Paulinho.

O deputado federal do PSOL tem o compromisso de apoio do PT, que pela primeira vez deverá ficar sem candidato majoritário na cidade. Como as duas siglas compõem federações, o líder de movimentos de moradia já conta, automaticamente, também com o endosso de Rede, PC do B e PV.

Aliados de Tabata também têm expectativa de atrair apoios que passam pela base de Nunes. Além do PSDB, já houve acenos a Solidariedade, ao PSD e ao Podemos.

"Já procuramos representantes de outros partidos, mas são conversas ainda preliminares e reservadas. As costuras dependem também do cenário nacional", diz o deputado estadual Caio França (PSB-SP).

Auxiliares do prefeito minimizam a possível debandada de aliados e contam com o pragmatismo das siglas, que têm cargos na gestão e não querem concorrer contra a máquina. Além disso, a orientação é concentrar esforços em melhorias para a cidade, especialmente na zeladoria, para fortalecer Nunes eleitoralmente.

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