MBL ensaia lançar Kim Kataguiri candidato a prefeito de São Paulo

Deputado é da União Brasil, que apoia Nunes; movimento quer manter capital obtido com Mamãe Falei

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São Paulo

O MBL (Movimento Brasil Livre) quer lançar à Prefeitura de São Paulo o deputado federal Kim Kataguiri, um de seus principais rostos, numa articulação que esbarra nos planos de seu partido, a União Brasil, hoje integrante da base do prefeito Ricardo Nunes (MDB) —que busca a reeleição.

Kim confirmou à Folha a existência da movimentação, mas diz que o movimento deverá fechar questão sobre o assunto no segundo semestre e que ele ainda não conversou com a legenda.

"Sou um ferrenho defensor de que o MBL tenha um candidato à prefeitura. Se o único nome viável for eu, posso pensar em ser candidato, sim. E eu não tenho a menor intenção de disputar a eleição para perder", afirma. "Hoje, a tendência é mais não [concorrer] do que sim", completa.

O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) em seu gabinete na Câmara dos Deputados - Gabriela Biló - 29.mar.23/Folhapress

O movimento, que foi um dos agitadores do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e tem integrantes em vários partidos, busca manter o capital político atingido na cidade com a candidatura em 2020 de Arthur do Val, que surpreendeu e ficou em quinto lugar, com 9,78% dos votos válidos.

Mamãe Falei, como se tornou conhecido, perdeu o mandato de deputado estadual após virem a público no ano passado falas machistas relacionadas às mulheres ucranianas vítimas da guerra. Ele segue como membro do MBL, mas ficou inelegível por oito anos após a cassação.

Kim, fundador e um dos nomes de maior projeção do grupo, teria uma vitrine com a eventual candidatura em 2024 e se juntaria a um grupo de outros deputados federais que já figuram como pré-candidatos: Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB).

"A disputa que está colocada, para mim, é saber quem da direita vai para o segundo turno contra o Boulos. Quem tem força hoje é o Boulos", diz o membro do MBL sobre o psolista, que chegou ao segundo turno contra Bruno Covas (PSDB) em 2020 e perdeu, com 40,6% dos votos válidos, ante 59,3% do tucano.

"Não acho que a gente tenha que disputar a eleição só para marcar posição. Tem que lançar candidatura competitiva. Qualquer nome que a gente lance tem que ter uma boa base em pesquisa", afirma ele, que descarta apoiar algum dos postulantes que já se apresentaram, inclusive Nunes.

Apesar da hesitação, Kim tem sido incentivado por colegas do MBL, que consideram uma candidatura na capital paulista importante para manter e talvez ampliar o resultado de 2020, consolidando a importância política do movimento e até catapultando novos nomes para o Legislativo.

A avaliação de integrantes do MBL é a de que o campo da direita ainda não tem candidato na disputa municipal. Na definição deles, Salles representa a extrema direita, Nunes joga no centro, e Boulos e Tabata navegam à esquerda.

A hipótese de Kim ser candidato tem sido ventilada nas redes sociais do grupo. Até semanas atrás, ele negava em público a possibilidade, enquanto disparava críticas principalmente a Nunes e Boulos.

Agora diz que, embora tenha "mais apreço pelo Legislativo", aceitaria a empreitada, mas cita outros membros que poderiam representar o movimento na corrida, como o deputado estadual Guto Zacarias e Cristiano Beraldo, que concorreu a deputado federal em 2022 e não se elegeu.

Ambos, contudo, também pertencem à União Brasil, o que mantém o risco de imbróglio. Para sair da legenda sem perder o mandato, um parlamentar precisa ser expulso ou recorrer à Justiça alegando perseguição, por exemplo. O passo seguinte seria achar uma sigla disposta a abrigar a candidatura.

Kim considera precipitado discutir a sua situação no partido, já que a decisão do MBL sobre a candidatura e o nome que irá para as urnas ainda não foi tomada. Em seu segundo mandato, o parlamentar obteve 295 mil votos em 2022, ficando em oitavo lugar entre os federais mais votados no estado.

Em São Paulo, a União Brasil está sob influência de Milton Leite, presidente da Câmara Municipal e aliado de Nunes. Já existe, inclusive, um acordo entre o partido e o prefeito para garantir o apoio à reeleição.

Questionado pela Folha, Leite afirma que "todo filiado da União Brasil tem o direito de pleitear ser candidato". "Respeitamos nossos filiados, mas essa matéria será decidida na convenção municipal", diz, sem deixar de mencionar o acerto com Nunes.

Nesse contexto, membros do MBL já admitem deixar a União Brasil e filiar Kim a uma legenda menor, que tope lançá-lo candidato. Em 2020, o grupo teve que deixar o DEM e se filiou ao Patriota para viabilizar a candidatura de Arthur.

O envolvimento de Arthur na campanha do MBL à prefeitura em 2024 é provável. Segundo Kim, os problemas de imagem associados ao ex-deputado são contornáveis. "É uma coisa que passou. Ele se desculpou, foi cassado, está inelegível. Foi punido pelo seu erro, e o candidato não será ele."

O ex-deputado federal Júnior Bozzella (União Brasil-SP) avalia a candidatura de Kim como viável e afirma ver nele envergadura e capilaridade.

"Mas deve ser um obstáculo o fato de que o MBL não é um grupo orgânico ao partido, é independente. Se tivesse identidade partidária, a candidatura seria mais palatável", diz o vice-presidente da legenda no estado.

Um dos principais entusiastas da candidatura é Renan Santos, coordenador nacional do MBL, que vê a chance de o deputado se firmar como uma das estrelas da oposição no Brasil, no momento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sofre reveses e corre o risco de ficar inelegível.

"Ele quer [ser candidato]. Ele nunca quis nada para o Executivo, e pela primeira vez eu vi o Kim querendo", afirmou Santos aos seguidores em um vídeo recente. Segundo ele, Kim já foi convidado por três partidos para ser candidato à prefeitura.

"Se ele perde [a eleição em São Paulo], ele volta e vai continuar sendo o seu grande nome aí no Congresso, mas, se ele ganha, ele se torna, justamente, um dos quatro [ou] cinco nomes principais da política e da direita brasileira", disse o coordenador.

Com sua popularidade forjada nas redes sociais, o MBL tem usado seus perfis para espalhar a ideia de lançar Kim a prefeito. Líderes da organização dizem que o alcance do deputado no ambiente digital é crescente. No YouTube, por exemplo, seu canal tem mais de 1,2 milhão de inscritos.

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