Descrição de chapéu Junho, 13-23

Ex-líder estudantil de protestos de 2013 hoje trabalha com Haddad

Para Carina Vitral, omissão do Movimento Passe Livre ajudou direita a controlar a pauta das manifestações de junho

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São Paulo

Muito do que 2013 separou 2023 uniu —e vice-versa. Presente nas Jornadas de Junho como líder estudantil, Carina Vitral hoje trabalha com um dos principais alvos das manifestações, o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Dez anos depois, ela avalia que o Movimento Passe Livre, que iniciou os atos, perdeu o comando dos protestos e abriu espaço para que junho se tornasse um marco do fortalecimento da extrema direita no país.

Mulher branca de camiseta branca com nome da UEE, megafone e mão erguida com punho fechado em meio a protesto e outros manifestantes
Carina Vitral, então presidente da UEE-SP, durante protesto em junho de 2013 - Arquivo - jun.2013/UNE

A trajetória da ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) ajuda a ilustrar a reacomodação de forças dentro da esquerda após junho.

Em 2013, Carina era presidente da UEE (União Estadual dos Estudantes) de São Paulo, e Haddad, prefeito da capital paulista.

O petista, que resistiu por mais de duas semanas a recuar do aumento das passagens, foi um dos políticos que saiu mais ferido como saldo dos protestos. Em menos de um mês, sua aprovação despencou. Passou de 34% no início de junho para 18% no final do mês.

Dois anos depois, em 2015, Carina voltou a pressionar aquele que viria a ser seu chefe. Organizou um acampamento em frente à prefeitura para reivindicar a extensão do passe livre estudantil a alunos do ensino superior privado.

Em 2023, por fim, Carina e Haddad tiveram novamente um encontro significativo. Desta vez, no Ministério da Fazenda, onde ela trabalha por convite do atual número 2 da pasta, Gabriel Galípolo.

Jovem branca de cabelo ruivo curto e crespo sorri
Carina Vitral em evento durante a campanha eleitoral de 2022 - Mathilde Missioneiro - 29.set.22/Folhapress

Se 2013 já foi tema de conversa com o ministro? "Ah, a gente já conversou muitas vezes", diz ela, que garante que nunca houve cobrança. "O Haddad respeita muito a autonomia dos movimentos sociais. Ele sempre entendeu qual era o papel dele como prefeito e o meu como liderança estudantil."

Para convencer que a relação com o atual ministro sempre foi de diálogo, Carina elenca uma série de medidas que a gestão do petista tomou em São Paulo como parte, segundo ela, do diálogo com o movimento estudantil.

Entre elas, estão o próprio passe livre para estudantes e medidas para melhorar a circulação em corredores universitários como o da avenida Vergueiro.

Carina afirma que sua participação nos protestos de 2013 foi coerente, pois todos os anos o movimento estudantil integrava mobilizações contra o aumento da tarifa de transporte público.

Também como já ocorria antes, naquele momento eram grandes as diferenças de visão entre as entidades tradicionais e o MPL.

Em organizações como a UEE e a UNE, que Carina viria a presidir entre 2015 e 2017, predominava uma forma de organização hierárquica, ainda que com instâncias de decisão coletiva como assembleias. Já movimentos autonomistas como o MPL atuam sob o princípio da horizontalidade, sem lideranças.

Para Carina, a característica abriu espaço para a direita tomar a frente dos atos. "Faltou comando, gente experiente capaz de dirigir a manifestação", diz.

Outro erro, em sua avaliação, foi a decisão do MPL de não convocar mais protestos após a revogação do aumento da tarifa. "A direita ficou sozinha nas ruas e disse ‘baixou a tarifa? Queremos então a queda da Dilma, subverter a política'", além de bandeiras conservadoras.

Ela não culpa apenas o movimento pela ascensão da direita após 2013. Fala também do papel das redes sociais e do que avalia ser responsabilidade da mídia tradicional por dar projeção a representantes desse campo.

Sobre seu papel e o das entidades estudantis, Carina diz que qualquer avaliação agora seria de engenheiro de obra pronta.

"Nossos instrumentos eram uma massa de pessoas nas ruas e um megafone na mão. A gente não sabia ainda como operavam as redes sociais, que hoje já se sabe que privilegiam a extrema direita", diz.

"Hoje, eu teria feito muitas coisas diferentes, mas, para ser justa comigo mesma e com a nossa geração, a gente não sabia o que ia dar."

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