Descrição de chapéu Folhajus STF

Rosa Weber critica falta de mais mulheres no STF em dia de indicação de Zanin

Declarações da presidente do tribunal ocorrem durante reunião com presidente da Finlândia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília e São Paulo

Presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), a ministra Rosa Weber criticou a falta de mulheres na corte nesta quinta-feira (1º), dia em que o presidente Lula (PT) anunciou ter escolhido seu advogado, Cristiano Zanin, para preencher uma vaga no tribunal.

As declarações de Rosa ocorreram durante reunião no Supremo com o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, que realiza visita oficial ao Brasil.

Rosa Weber com o presidente da Finlândia - Fellipe Sampaio/SCO/STF

Rosa abordou o tema ao perguntar ao finlandês como era a representação de mulheres no Judiciário do país. Disse que ela era a primeira magistrada de carreira no STF. Afirmou ainda que o número de mulheres nos tribunais superiores é ínfimo.

"Aqui no Brasil nós temos muitas mulheres na base da magistratura, na Justiça em primeiro grau, mas o número decresce no intermediário. Na cúpula, nos tribunais superiores, o número é ínfimo", disse a ministra.

O presidente da Finlândia afirmou que era muito interessante o fenômeno que Rosa acabara de dizer e que, em seu país, nos anos 1980, quando ele mesmo ingressou para a carreira da magistratura, entravam muitas mulheres jovens e que agora a Finlândia tem mulheres "em todos os níveis".

Entre os 10 atuais ministros do STF, apenas Rosa e Cármen Lúcia são mulheres. Além das duas, o STF teve apenas outra mulher entre seus integrantes: Ellen Gracie, que foi citada pela ministra no encontro.

Até o horário da reunião com o finlandês, Rosa ainda não havia se manifestado sobre a indicação de Zanin. Outros ministros da corte, como Luiz Fux, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, elogiaram a escolha de Lula. Os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça, indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para compor a corte, também se mostraram favoráveis ao nome.

Já movimentos da sociedade civil questionaram a indicação de Zanin e reforçaram a cobrança pela nomeação de uma mulher negra na corte.

"Hoje, temos grandes nomes validados e impulsionados por dezenas de movimentos, coletivos e organizações. Eis a lista tríplice do povo: Lívia Santana e Sant’Anna Vaz, Adriana Alves dos Santos Cruz e Soraia da Rosa Mendes", disse em nota a organização Mulheres Negras Decidem.

Para a entidade, a indicação de um ministro do STF é um ato político, e a presença de juristas negras repararia um dano histórico. "Desde a redemocratização, há 130 anos, não houve uma única jurista negra que tenha exercido o cargo de ministra da Suprema Corte."

A aceleradora de mulheres na política Conecta também repudiou a indicação de Lula. "Na história brasileira, dentre 170 ministros, tivemos apenas 3 mulheres e 3 negros no STF, o que é constrangedor", afirma nota.

Ao confirmar a indicação de Zanin, Lula afirmou que, se aprovado no Senado, o advogado será um "excepcional ministro do STF".

"Eu acho que todo mundo esperava que eu fosse indicar o Zanin não só pelo papel que teve na minha defesa, mas simplesmente porque eu acho que Zanin se transformará num grande ministro da Suprema Corte desse país", disse o presidente.

Lula havia se encontrado com o advogado na noite desta quarta-feira (31), no Palácio do Planalto, e avisou autoridades, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que anunciaria a escolha para a vaga.

Paulista de 47 anos, Zanin tornou-se advogado de Lula em 2013 e ficou conhecido por defender o petista nos processos da Lava Jato.

Caso aprovado pelo Senado, Zanin assumirá a cadeira deixada por Ricardo Lewandowski, que completou a idade limite para atuar na corte em 11 de maio, mas antecipou a aposentadoria para abril.

A interlocutores Rosa Weber também lamentou a escolha de dois homens para integrar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por Lula. A ministra avalia que as duas mulheres que estavam na lista elaborada pelo STF, as advogadas Daniela Borges e Edilene Lôbo, eram "ótimos quadros". Daniela é presidente da seccional da OAB na Bahia e Edilene Lobo é de Minas Gerais e já advogou para o PT.

O advogado Floriano de Azevedo Marques e o ministro substituto André Ramos Tavares tomaram posse na corte eleitoral na terça (30). Eles são próximos ao presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes. Rosa também tem dito que espera que uma mulher a suceda quando ela deixar a corte, em outubro deste ano.

Durante o encontro com o presidente finlandês, a ministra falou que houve uma invasão criminosa na corte, referindo-se aos ataques de 8 de janeiro. Ela afirmou que o tribunal foi reconstruído, mas que nem todos os bens materiais foram recuperados.

"Mas já houve condições de recebê-lo aqui e isso nos dá uma imensa alegria. O importante é que nossa democracia permanece inabalável e o nosso Estado democrático de Direito saiu fortalecido, com união de todos os poderes", afirmou.

Em quase 40 anos de redemocratização no Brasil, a cúpula da República contou com 66 homens e só 4 mulheres —uma proporção de 16,5 para 1— e continua até hoje comandada majoritariamente por representantes do sexo masculino.

Nesse período, apenas Dilma Rousseff (PT) foi eleita presidente da República, enquanto sete homens passaram pelo comando do Poder Executivo. A petista ainda acabou sendo destituída do cargo em 2016, após sofrer um processo de impeachment mais de dois anos antes do fim de seu segundo mandato.

O Legislativo nunca teve desde a redemocratização uma mulher como presidente da Câmara dos Deputados ou do Senado —foram 18 e 15 ocupantes do posto, respectivamente, nesse período, todos homens.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.