Descrição de chapéu Folhajus

Advogado ligado a Flávio desiste, e chefe de gabinete de Toffoli concorre a vaga no CNJ

Willer Tomaz advoga para Arthur Lira e era um dos principais cotados para a vaga por indicação da Câmara

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Brasília

Em meio à tumultuada discussão sobre a reforma tributária, a Câmara dos Deputados prevê votar nesta quinta-feira (6) a indicação a uma vaga no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que chegou a ter como um dos principais cotados um advogado conhecido pela ligação com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e que já foi preso com base na delação de Joesley Batista, da JBS.

O nome de Willer Tomaz de Souza já era cogitado para o CNJ desde o ano passado pelos deputados e por setores do Judiciário, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vinha dizendo que não havia decisão a respeito da indicação do advogado.

Em meio à repercussão das discussões sobre o seu nome, ele acabou desistindo de concorrer ao cargo.

O advogado Willer Tomaz de Souza
O advogado Willer Tomaz de Souza - Divulgação

Procurado pela Folha sobre a candidatura, Willer Tomaz não se manifestou inicialmente e, depois, agradeceu "à imprensa e aos deputados" e afirmou que nunca postulou a cadeira do CNJ —deputados e integrantes do Judiciário afirmam, porém, que ele articula para se tornar conselheiro ao menos desde novembro do ano passado.

Willer afirma que, apesar das articulações, "rechaçou de plano [a possibilidade de concorrer], em razão do impedimento para advogar".

A denúncia que levou Willer à prisão foi rejeitada pela Justiça, e ele nega ter cometido irregularidades. "O próprio Joesley se retratou", afirma.

Com sua desistência, quem concorre à vaga no CNJ é a chefe de gabinete do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli, Daiane Nogueira de Lira.

Toffoli é um dos ministros que garantiu a rejeição, de forma inusitada, de uma denúncia que já havia sido aceita contra Arthur Lira no Supremo.

A formalização da candidatura foi feita até as 12h desta quinta por indicação dos blocos parlamentares. Após aprovação na Câmara, a indicada ainda tem que ser sabatinada e aprovada pelo Senado.

O mandato no conselho é de dois anos, com possibilidade de recondução por igual período. A Câmara tem direito a uma indicação de "cidadão de notável saber jurídico e reputação ilibada".

Willer advoga para o presidente da Câmara, além de ter proximidade com parlamentares dos mais diversos espectros políticos. Por isso, não tem entraves na Casa. No ano passado, sua nomeação vinha sendo defendida por integrantes do próprio centrão, composto por siglas como PP, PL e Republicanos.

Além disso, embora seja próximo de setores do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Willer também tem ligações com aliados do presidente Lula (PT). O advogado é sócio de Eugênio Aragão, que defendeu a campanha de Lula.

Presidido pela ministra Rosa Weber, do Supremo, o CNJ é composto por 15 conselheiros e tem como atribuição atuar no controle e transparência do Judiciário, além de julgar processos disciplinares e reclamações contra membros da Justiça de todo o país.

As articulações pela indicação de Willer tinha, apoio de parte do CNJ. Outra ala, formada principalmente por juízes de carreira, se opunham à ideia e achavam que ele é um nome questionável para o conselho.

Atualmente, o representante do CNJ indicado pela Câmara é o advogado Mário Henrique Goulart, que recentemente desistiu da recondução.

Entre outras pessoas, Willer advogou para o próprio Lira em tribunais superiores. Ele é conhecido por se gabar das suas influências políticas e entre ministros de altas cortes do país. Costuma dar festas em Brasília que tem como convidados integrantes das cúpulas dos três Poderes.

Willer foi preso pela Polícia Federal em 2017, na operação relacionada à JBS. A suspeita da PGR (Procuradoria-Geral da República) era a de ele que teria atuado como intermediário em vazamento de informações do Ministério Público Federal.

A denúncia contra ele foi rejeitada pela Justiça, e ele afirma que atuou nos autos como advogado e que isso ficou comprovado.

"Fui denunciado. Os delatores se retrataram. A denúncia foi rejeitada. Foi um erro do Judiciário e recebo indenizações", afirmou.

Em 2021, a Folha revelou que o então ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), usou a filial de sua empresa de venda de motos no Piauí para alugar uma mansão no Lago Sul em Brasília comprada meses antes por Willer.

À época, o advogado tinha sido blindado pela CPI da Covid em uma atuação feita pelo próprio Ciro Nogueira —que é senador e se licenciou do cargo para se tornar ministro. A comissão pretendia quebrar o sigilo do advogado quando ganharam força investigações sobre suspeitas de corrupção na negociação de vacinas.

O nome dele acabou retirado do requerimento de quebra de sigilo pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL). À época, ele disse à Folha que o negócio com Ciro Nogueira era regular.

"Eu alugo casas a ministros do STJ [Superior Tribunal de Justiça]. Meu escritório faturou R$ 100 milhões em 2020", disse o advogado, segundo a reportagem. À época, a reportagem diz ainda que ele afirmou que sua empresa, a WT, tem mais de 50 imóveis alugados.

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