Descrição de chapéu Governo Lula

Lula confirma Sabino no Ministério do Turismo e prevê nomeação nos próximos dias

Convite faz parte da estratégia de petista para melhorar relação com centrão e ampliar base na Câmara

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente Lula (PT) se reuniu nesta quinta-feira (13) com o deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA) e confirmou que ele assumirá o Ministério do Turismo no lugar de Daniela Carneiro.

A escolha faz parte da estratégia do mandatário para melhorar sua relação com a União Brasil e garantir os votos do partido na Câmara dos Deputados.

Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, o convite já foi aceito, e a nomeação sairá no Diário Oficial da União nos próximos dias.

O governador do Pará, Hélder Barbalho (MDB), o presidente Lula (PT) e o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) tiram foto segurando camiseta do Remo presenteada pelo parlamentar
O governador do Pará, Hélder Barbalho (MDB), o presidente Lula (PT) e o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) tiram foto segurando camiseta do Remo presenteada pelo parlamentar - Divulgação

Sabino divulgou um vídeo após a reunião para agradecer a Lula pelo convite e à bancada da União Brasil na Câmara pelo apoio para ser indicado ao cargo.

"Assumo com responsabilidade, muita disposição e vontade, vontade de fazer com que o turismo no nosso país signifique aquilo que significa em outras nações, com mais emprego, mais renda e mais desenvolvimento, trazendo divisas para favorecer a construção do Brasil que todos nós queremos", disse.

Trata-se da segunda troca na equipe ministerial de Lula. A primeira ocorreu em abril, com o pedido de demissão do general Gonçalves Dias, que ocupava o GSI (Gabinete de Segurança Institucional). A situação do militar no cargo ficou insustentável após vídeos colocarem em xeque a atuação do então ministro em 8 de janeiro deste ano, quando houve ataques às sedes dos três Poderes.

A depender de outras possíveis mudanças, a saída de Daniela poderá representar uma baixa para a representatividade feminina no ministério de Lula, que foi montado com 11 mulheres titulares, dentre as 37 pastas.

Na quarta (12), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, defendeu que o governo mantenha proporcionalidade de mulheres no primeiro escalão.

A novela da troca no Turismo já dura mais de um mês e chegou até mesmo a ameaçar a votação da Reforma Tributária na Câmara, quando se esperava a saída de Daniela, mas o governo optou por mantê-la temporariamente enquanto negociava as condições das mudanças.

Lula também negocia outros cargos com partidos ligados ao centrão, mas, em entrevista à TV Record, disse que o Ministério do Desenvolvimento Social, que cuida do Bolsa Família, é "seu", afastando as pressões por mudanças na pasta. Ele afirmou ainda que deixará claro para a imprensa "o que foi ofertado para a participação do governo e o que o governo quer estabelecer de relação com o Congresso".

Aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reforçam que, para Lula conseguir ampliar a base parlamentar, é necessário abrir espaço no governo para partidos como PP e Republicanos –e que seja entregue um ministério de elevado orçamento.

Há também um embate entre o centrão a Casa Civil a respeito do futuro da Funasa (Fundação Nacional da Saúde). Uma portaria que cria um grupo composto integrantes do governo e deputados para debater o modelo de recriação do órgão deve ser publicada nesta sexta (14).

O ministro Rui Costa (Casa Civil) e aliados defendem que seja enxuta e vinculada ao Ministério das Cidades. Já o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), e dirigentes do PT recomendam que seja mantida no porte atual, em sinal de respeito ao Congresso Nacional.

O centrão, que pediu ao Palácio do Planalto o controle da fundação, quer que a Funasa fique com o Ministério da Saúde. Na visão do grupo político liderado pelo presidente da Câmara, a pasta conseguiria executar emendas parlamentares com mais celeridade, uma vez que, na Saúde, a execução segue um rito diferenciado.

A confirmação do deputado na pasta representa o ingresso prático de Arthur Lira no primeiro escalão do governo Lula.

A mudança no Turismo também visa minimizar o descontentamento de congressistas e solucionar uma crise na articulação política do governo, que quase resultou numa derrota na votação da MP (medida provisória) que redesenhou a Esplanada dos Ministérios, em maio.

Em troca pela saída do cargo, Daniela deverá ser nomeada vice-líder do governo no Congresso ou na Câmara dos Deputados.

Daniela é casada com o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (Republicanos), que é próximo de Lula e teve atuação relevante na campanha presidencial.

O Palácio do Planalto afirmava que a ministra foi indicada como cota da União Brasil, mas uma parte da bancada do partido na Câmara não a considerava como escolha da legenda, e sim de Lula.

A situação piorou, porém, depois que Daniela pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para se desfiliar da União Brasil. Ele pretende deixar a sigla e migrar para o Republicanos.

Também estão na cota da União Brasil o ministro Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Goés (Integração Nacional). Embora este último seja filiado e esteja licenciado do PDT, ele foi indicado pelo senador Davi Alcolumbre.

A União Brasil tem 59 deputados, dos quais cerca de 30 são mais alinhados ao governo. Embora tenham votado para aprovar o arcabouço fiscal, a maior parte da bancada apoiou a derrubada de decretos do saneamento básico, de interesse do governo.

Membros do governo afirmam que Lula afirmou a Waguinho que irá atender a suas demandas para compensar a demissão de sua mulher. Uma das negociações é para que o grupo político ganhe o direito de indicar nomes para cargos a Secretaria do Patrimônio da União e hospitais federais no Rio de Janeiro.

Lula havia escolhido Daniela para o posto devido ao apoio que recebeu do prefeito nas eleições do ano passado em uma região de maioria bolsonarista. Waguinho chegou a afirmar que o chefe do Executivo chorou em uma das conversas em que foi negociada a demissão dela.

Correligionários de Sabino ouvidos pela Folha o descrevem como um deputado muito mais alinhado a Lira do que a seu partido, tendo sido um "cumpridor de missões" dadas pelo presidente da Casa nos últimos anos.

Sabino foi um dos entusiastas da campanha de Lira à presidência da Câmara em 2021, tendo contrariado seu próprio partido à época, o PSDB, que embarcou na candidatura de Baleia Rossi (MDB).

Desde então, ganhou papéis de projeção pelas mãos de Lira, como a relatoria da reforma das regras do Imposto de Renda, em 2021, e a presidência da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, em 2022.

Neste último posto, foi um dos principais auxiliares de Lira na gerência e distribuição das chamadas emendas de relator, principal instrumento usado pelo presidente da Câmara para assegurar apoio ao seu entorno e ao então governo Jair Bolsonaro (PL).

Entre colegas de Congresso, Sabino também é descrito como dono de um perfil conciliador e de traquejo político suficiente tanto para ser um bolsonarista durante o governo do ex-presidente como um lulista na gestão Lula.

Nas principais votações deste ano, Sabino apoiou o novo arcabouço fiscal e a medida provisória que reestruturou a Esplanada, mas foi contra o governo nas duas derrotas aplicadas sob o comando de Lira e do centrão.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.