Descrição de chapéu STF Folhajus

O que se sabe, as versões e dúvidas no episódio de hostilidade a Moraes

Ministro foi alvo em aeroporto na Itália; advogado de família na mira da PF nega envolvimento

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São Paulo

A hostilidade ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e sua família no aeroporto internacional de Roma, na Itália, resultou em abertura de inquérito pela Polícia Federal.

Um grupo de brasileiros do interior de São Paulo, suspeitos de envolvimento nas agressões ao magistrado, foi abordado por agentes policiais na chegada ao Brasil e convocado a prestar depoimentos.

A PF investiga o empresário Roberto Mantovani Filho, 71, que estava junto de Andreia Munarão, sua esposa, de Alex Zanata Bignotto, seu genro, e de Giovanni Mantovani, seu filho. O inquérito indica que a mão de Mantovani atingiu o rosto de Alexandre Barci, filho do magistrado.

Em reconstituição feita no inquérito, conforme as imagens do circuito interno do aeroporto, a PF diz que Mantovani e Munarão aparentemente discutiram e gritaram com o filho de Moraes.

Imagem do relatório da Polícia Federal com o suposto tapa do empresário Roberto Mantovani no advogado Alexandre Barci de Moraes, filho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes
Imagem do relatório da Polícia Federal com o suposto tapa do empresário Roberto Mantovani no advogado Alexandre Barci de Moraes, filho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes - Reprodução - 4.out.23/Polícia Federal

Segundo investigadores, um grupo proferiu expressões como "bandido", "comunista" e "comprado" contra Moraes.

A defesa dos suspeitos citados nega que eles tenham ofendido o magistrado e dizem ter havido apenas um entrevero. Também afirma que o empresário disse ter reagido a ofensas e "afastado" uma pessoa que seria filho do magistrado.

Entenda o que se sabe sobre caso:

Xingamentos a Moraes

Moraes participou na Itália de um fórum internacional de direito realizado na Universidade de Siena. Ele compôs mesa no painel Justiça Constitucional e Democracia, da qual participou ainda o ministro André Ramos Tavares, integrante também do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na área de embarque do aeroporto internacional de Roma, os responsáveis pelas hostilidades se aproximaram e dirigiram ofensas ao ministro, chamando-o de "bandido", "comunista" e "comprado", segundo investigadores.

Também teriam agredido o filho de Moraes, o advogado Alexandre Barci de Moraes, 27, com um empurrão. Os óculos caíram no chão devido ao impacto de um golpe no rosto.

Alvos da PF

A PF apontou Mantovani Filho, Andreia Munarão, Alex Zanata Bignotto e Giovanni Mantovani como envolvidos no episódio com o magistrado. Mantovani Filho foi citado como suspeito pelo golpe no rosto do filho de Moraes.

Bignotto prestou depoimento por duas horas à PF em Piracicaba (SP) e negou a acusação de ofensas ao ministro.

No mesmo dia em que Mantovani Filho e Andreia Munarão prestaram depoimento sobre a confusão, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na residência do casal. Segundo a defesa, o empresário disse na oitiva ter reagido a ofensas e "afastado" uma pessoa que seria filho do magistrado.

"Ele nega que tenha havido o empurrão. Ele disse que em razão de ofensas que eram proferidas à sua esposa, ele afastou essa pessoa, que ele sequer sabia quem era, mas era uma pessoa que fazia ofensas bastante pesadas, muito desrespeitosas a sua mulher. Posteriormente, teria sido dito a eles se tratar do filho do ministro Alexandre de Moraes, mas é algo que não sei dizer se de fato é filho dele", disse o advogado de Mantovani.

O empresário Roberto Mantovani Filho (direita), esposa e genro são abordados pela PF ao desembarcar no Brasil, em São Paulo
O empresário Roberto Mantovani Filho (direita), esposa e genro são abordados pela PF ao desembarcar no Brasil, em São Paulo - Arquivo pessoal

Versão da família

O advogado da família de Mantovani Filho afirmou que seus clientes não estavam no aeroporto para hostilizar o ministro e que estavam "apenas passando e houve um encontro fortuito".

Segundo a defesa, a família chegou ao aeroporto da capital italiana, para embarque ao Brasil, cinco horas antes do voo e procurou uma sala VIP. Em um primeiro espaço, afirmou o advogado, o grupo foi informado que estava cheio. Assim, decidiram buscar outro.

A família seguiu adiante e teria cruzado com Moraes e seus familiares enquanto buscavam outro local para ficar. Nesse momento, uma das pessoas que acompanhavam o ministro teria entrado em atrito com Andreia Munarão.

Essa discussão teria evoluído para uma agressão ao filho de Moraes, atribuída ao empresário do interior de São Paulo. A família nega que tenha havido qualquer menção ou ofensas ao ministro. "Eles reconhecem que houve um entrevero entre parte do grupo deles e parte do grupo do ministro Alexandre. Ofensas em relação ao ministro, não", afirmou o advogado.

A defesa da família chegou a lançar nota, afirmando que os depoentes reiteraram não ter feito nenhuma ofensa a Moraes nem durante o caminho até a sala VIP, e nem na área de embarque do aeroporto. Por fim, declara que as imagens do aeroporto confirmarão o que foi dito no interrogatório.

Os defensores da família disseram ainda avaliar um pedido de revisão da competência do caso, apostando em vídeo entregue à Polícia Federal para contrapor a versão do magistrado. Segundo Ralph Tórtima Filho, o material audiovisual foi gravado pela família e mostra Moraes chamando Alex Zanata Bignotto de "bandido" ao retirar seu filho da confusão.

Motivação política

Em depoimento na segunda-feira (24), Moraes e seus familiares reiteraram uma motivação política e o desejo de constrangimento com as hostilidades. O ministro afirmou que Andreia Munarão o abordou enquanto fazia o credenciamento para entrar em uma sala VIP do aeroporto e o xingou.

Depois da família do magistrado ingressar na sala de espera, ela passou a gravar a situação e gritar que Moraes havia fraudado as urnas e roubado as eleições —ilação comum ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus seguidores.

Os filhos do ministro, segundo o depoimento, a avisaram que, se ela não parasse, seria processada, e nesse momento teria ocorrido a agressão a Alexandre Barci de Moraes.

Quem é

Roberto Mantovani Filho é um empresário de Santa Bárbara d'Oeste, no interior de SP, influente na política, nos negócios e no futebol do município. Já foi candidato a prefeito em 2004 pelo PL, em chapa com o PT de vice. Atualmente, é filiado ao PSD.

Mantovani Filho também tem fotos ao lado de Lula (PT), apoiado por ele na candidatura ao Executivo de Santa Bárbara d'Oeste. O santinho com a imagem dizia "Com Mantovani, o presidente Lula apoia Santa Bárbara"

Ele também é conhecido há décadas pela atuação como presidente do clube de futebol União Barbarense durante um período tido como áureo do time, no fim da década de 1990 e começo dos anos 2000.

O empresário fez carreira no comando da Helifab, do ramo de bombas, que distribuía produtos da Netzsch —fundada na Alemanha, que afirma ter adquirido a empresa no ano passado e que buscou se distanciar do antigo parceiro. Segundo o grupo, Mantovani não representa mais a Netzsch.

Bolsonaristas contra Moraes

Moraes se tornou nos últimos anos o principal algoz do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Judiciário, comandando inquéritos que atingem o ex-presidente no STF. Também comandou o TSE nas eleições de 2022 e no julgamento do mês passado que decidiu pela inelegibilidade de Bolsonaro até 2030.

Moraes já foi alvo de xingamentos por parte de Bolsonaro, que, nos últimos dois anos, já chegou a se referir ao ministro como "vagabundo" e como "canalha". O comportamento do ex-chefe do Executivo se replicou a outros membros do Supremo, que passaram a ser alvo de hostilidades com mais frequência.

O caso mais emblemático envolvendo Moraes e outros ministros foi em Nova York, nos Estados Unidos, onde estavam para participar de um evento do grupo Lide, em novembro de 2022.

Um grupo de apoiadores de Bolsonaro passou a hostilizar, além do presidente do TSE, os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Luís Roberto Barroso nos momentos em que circulavam pela cidade e saíam de restaurantes e hotéis. Foi neste contexto que Barroso disse a expressão "perdeu, mané, não amola", em resposta a um dos manifestantes.

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