Descrição de chapéu Entrevista da 2ª

Valdemar diz que Bolsonaro errou na Reforma Tributária, mas é quem dá a palavra final no PL

Ex-presidente, que é máquina de votos, não soube se comunicar sobre projeto, diz mandachuva do partido

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Brasília

Mandachuva do PL há décadas, Valdemar Costa Neto diz que a palavra final no seu partido é do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de "máquina de votos".

Em entrevista à Folha, Valdemar disse que as divisões do partido que vieram à tona por brigas em um grupo de WhatsApp são resultado de uma "explosão" da direita e da entrada de pessoas inexperientes na política.

"Nós temos que preservar o Bolsonaro, porque ele é uma máquina de votos e o partido vive disso", afirma.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, durante entrevista à Folha em sua sala, na sede do PL em Brasília. - Pedro Ladeira/Folhapress

Para ele, o ex-presidente errou "na comunicação" quando se declarou contra a Reforma Tributária, e o partido ainda pode mudar de posição no Senado.

A postura vai na contramão da votação na Câmara, quando o partido e o ex-presidente se posicionaram contra a medida. De 99 deputados da sigla, 20 votaram a favor.

Diante de uma proposta que contou com o apoio massivo na Casa, a derrota caiu no colo do ex-presidente. Que, agora, Valdemar diz acreditar poder mudar de opinião.

"Pode ser. Eles têm que alterar muita coisa lá. Mas vamos ver se ele [Bolsonaro] não muda quando chegar no Senado", disse.

Nos últimos dias, ficou evidente uma divisão dentro do partido, exposta por brigas no grupo de WhatsApp. O sr. está perdendo o controle do partido, ele pode implodir?
Eu acho que vamos chegar a 30 deputados na janela partidária e vamos perder uns 10, 15 [a janela partidária é o período de 2026 em que deputados podem trocar de legenda sem risco de perder o mandato]. O que acontece é o seguinte, esse pessoal nunca fez parte de bancadas grandes. Quando a pauta tratar de assuntos que nós defendemos, como a família, liberdade, vamos ter os 99 votos. Agora, quando se trata de assunto de lei, há essa dissidência, que é normal.

Nenhuma pessoa é igual a outra no mundo, quanto mais em um partido. Tem gente no partido que eu respeito, que está achando que o Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] é de esquerda.

Como é que dá para manter o controle do partido, como o sr. sempre teve, com uma pessoa que acha que o Tarcísio de Freitas é de esquerda e outro que acha outra coisa.
Tudo aconteceu de repente. Essa explosão da direita.[Mas] Temos que ter uma maneira de viver em harmonia. E todos esses deputados trabalharam para o Bolsonaro na eleição. Depois de meados de agosto, vou começar a fazer reuniões em grupos menores para eu explicar isso para o camarada, porque tem camarada que não quer entender.

No caso da tributária, todos são a favor. Eles não foram a favor da forma como foi feito. Ele [o relator, Aguinaldo Ribeiro, do PP], mudou o texto no dia. Tinha que dar um tempo para o pessoal estudar um negócio de tamanha importância.

Mas foi um pedido do Bolsonaro. Ele chamou o projeto de "reforma do PT".
Não, não. O Bolsonaro não é contra [a Reforma Tributária]. [É] contra a forma que eles fizeram.

O presidente do PP, o Ciro Nogueira, disse que ser de direita não significa ser antiesquerda e já pregou uma oposição responsável. No caso, quando o PL deixa de apoiar uma Reforma Tributária que o sr. está um pouco defendendo, o PL toma uma posição irresponsável?
Não, não. Não vamos tomar uma posição irresponsável. Eu já tinha falado para o nosso líder que não tinha cabimento fazer mudanças no dia da votação sem isso ser discutido. Um assunto tão importante tinha que ser discutido com segmentos da sociedade. Nós tínhamos que ver porque tem coisas lá que nós não concordamos, porque eles têm que alterar muita coisa. Imposto sobre herança, isso vai ser uma loucura.

Bolsonaro divulgou um posicionamento se declarando contra a reforma em si. Foi um erro essa ter sido a sua primeira bandeira de oposição?
Não. Ele não se explicou bem, foi erro de comunicação.

A derrota caiu na conta dele.
Mas não devia ter caído, é uma bobagem.

O sr. acha que dá para apoiar a Reforma Tributária no Senado?
Acho. Eles vão ter que mudar muita coisa, e eu acho que o Senado está disposto a isso, porque eles querem aprovar.

Bolsonaro pode ser favorável?
Pode ser. Eles têm que alterar muita coisa lá. Mas vamos ver se ele não muda quando chegar no Senado.

A palavra final no partido é sua ou do Bolsonaro?
Do Bolsonaro, porque ele é o dono dos votos. Ele colocou esse pessoal aqui, ele que tem prestígio. Quem elegeu o Tarcísio e o Marcos Pontes [senador] foi o Bolsonaro.

A gente tem notícia de negociações de integrantes do PL por cargos no governo. Não há incongruência em ser oposição e ter cargos?
Lógico, não vai ter cargo no governo. Às vezes o pessoal fala que o Altineu [Cortês, líder do PL], está conversando, mas está vendo de liberar as emendas impositivas. É isso que o Altineu está atrás. Se eu souber de algum parlamentar que indicou alguém no governo, tem que estar fora.

Há comparações dessas negociações do governo Lula com o centrão com o começo do segundo mandato dele. O sr. vê similaridade?
Vejo. Ele tem um estilo diferente de administrar do estilo do Bolsonaro, totalmente diferente.

E é positivo?
Olha, eu não posso dizer que ele não teve sucesso no passado. Ele teve, porque elegeu a Dilma [Rousseff], e ela tinha zero de voto.

Esse estilo é de trazer a política para dentro do governo? Facilita a gestão?
Não tenha dúvida. O Bolsonaro, quando entrou no governo, não queria acertar com o Congresso de jeito nenhum. Depois ele começou [a se acertar]. Mas a pandemia foi um desastre. Bolsonaro era para ganhar a eleição no primeiro turno, fácil. Não ganhou por causa da falha da comunicação na pandemia. O fato de ele falar aquelas coisas.

Por exemplo, falar que ele não era coveiro.
Aquilo foi um desastre. Nós tínhamos pesquisas em toda eleição, ele sempre na frente com os homens. Com as mulheres, não tinha jeito.

Ele mudou?
Mudou. Mas ele falhou no começo e isso aí foi mortal.

Bolsonaro falou que se fosse tornado inelegível pelo TSE, ia perder um pouquinho do gás. Como ele vai continuar? Ele está a 100 km por hora. Teve aqui de manhã, hoje [terça, dia 18], só discutindo política. Eu falei: São Paulo, ninguém vai discutir com você, Bolsonaro. Nós temos um problema, se [Guilherme] Boulos ganhar a eleição, estamos perdidos, vai explodir o país.

O Ricardo [Nunes, prefeito de São Paulo, do MDB] está indo bem, já está começando a crescer nas pesquisas. Nós temos que acertar a melhor maneira de apoiá-lo.

Nunes pode ir para o PL? Não. Acho que o Ricardo está bem no MDB. [Bolsonaro] Não falou que apoia, mas eu vejo que ele tem simpatia.


Raio-X | Valdemar Costa Neto, 73

É presidente do PL há 23 anos. Natural de Mogi das Cruzes (SP), é formado em administração pela Universidade Braz Cubas (UBC). Filho de Waldemar Costa Filho, ex-prefeito de Mogi das Cruzes, ocupou cargos públicos no município. Posteriormente, foi eleito seis vezes para uma vaga na Câmara dos Deputados. Em 2013, renunciou ao mandato de deputado após a Justiça determinar sua prisão, depois de ele ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do mensalão. Recebeu o perdão da pena em 2016.

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