Ex-ajudante de Bolsonaro admite à CPI ida a ato do 8/1 e se diz arrependido

Sargento Luis Marcos dos Reis foi a manifestação em Brasília, mas nega golpismo ou depredação da praça dos Três Poderes

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Brasília

O sargento Luis Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), disse à CPI do 8 de janeiro nesta quinta-feira (24) que acompanhou atos golpistas em Brasília, mas que não promoveu depredação. Ele afirmou que a ida à manifestação foi "um ato impensado".

Reis está preso desde 3 de maio por causa das suspeitas da falsificação do cartão de vacinação do ex-presidente da República.

O militar disse, na declaração inicial e lida à CPI, que não participou de tentativa de fraudar a carteira de vacinação. Ele se recusou, porém, a responder aos questionamentos sobre o suposto esquema envolvendo o cartão de vacina de Bolsonaro.

O sargento Luis Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), na CPI do 8 de janeiro; atrás dele, o senador Flávio Bolsonaro
O sargento Luis Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), na CPI do 8 de janeiro; atrás dele, o senador Flávio Bolsonaro - Gabriela Biló /Folhapress

Reis disse que "subiu a rampa" do Congresso durante os atos golpistas de 8 de janeiro. "Foi um momento impensado. Arrependi. Mas não tinha ninguém ali embaixo dizendo ‘não pode subir"', disse o militar.

Reis também disse que foi ao acampamento golpista montado em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, "para ver como que era".

O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou movimentação atípica na conta do ex-ajudante de Bolsonaro.

Ele negou irregularidades nas movimentações financeiras. Afirmou que recebeu recursos quando foi para a reserva e citou ainda "consórcios" feitos com amigos e empréstimos.

Reis evitou explicar transações com a Cedro Libano Comércio de Madeira e Materiais de Construção, que já recebeu recursos do governo Bolsonaro.

O militar mencionou novamente o "consórcio" que faria entre conhecidos ao responder sobre os pagamentos da Cedro. "No meio militar, isso existe há 20, 30 anos. Se for ilegal, eu não sei."

Reis também disse que as transações financeiras registradas com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe dos ajudantes de ordem de Bolsonaro, têm relação com atividades do trabalho.

Também afirmou que chegou a negociar um carro de Cid e que, em outra ocasião, pagou para consertar um automóvel do colega e foi ressarcido.

Reis disse que não fez depósito nas contas de Bolsonaro ou da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ele afirmou que chegou a pagar a mensalidade da conta de Laura, filha mais nova do ex-presidente.

Ele não quis responder se os ajudantes de ordem usavam dinheiro vivo para pagar despesas ligadas a Bolsonaro.

O sargento disse que recebeu visitas de três generais na prisão, incluindo do comandante do Exército, Tomás Paiva. "Recebi uma visita para ver como eu estava, como estava alojado, se estava bem de saúde", afirmou.

Afirmou ainda que não planejou ou promoveu atos golpistas e que chegou à praça dos Três Poderes, no dia dos ataques, quando as forças de segurança já haviam controlado o local.

"Ali estava tomado por gente, com bandeira do Brasil. Estava eu, de bermuda, subi a rampa, tirei foto, cruzei a N1 [uma via de Brasília] e subi para a minha casa. Esse foi um ato impensado", disse.

"Não entrei dentro de nenhum lugar, não vi quebrando. Na hora que cheguei estava sob controle da polícia", afirmou ainda.

A Polícia Federal encontrou mensagens golpistas no celular de Reis. Em novembro de 2022, o militar enviou mensagens a Cid imagens sobre as manifestações antidemocráticas em frente a um quartel de Goiânia. "Toma uma posição aí! Chama os, os caras da reserva aí", disse Reis ao colega. "Para nós entrar em ação [sic]", afirmou ainda na mensagem.

Ele também compartilhou imagens do 8 de janeiro com contatos. "Eu estou no meio da muvuca! Não sei o que que tá acontecendo! O bicho vai pegar", disse Reis em uma das mensagens.

Relatora da CPI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) disse que vai pedir aprofundamento de investigações contra Reis e novas quebras de sigilo.

Durante a sessão, o deputado Marco Feliciano (PL-SP) reclamou do tratamento dado a parlamentares homens na CPI e disse que mulheres se escondem atrás do "mimimi" e do "sexo frágil". Ele fez referências a uma discussão que teve com Gama em reunião fechada da comissão, na terça (22).

A relatora reagiu e chamou Feliciano de hipócrita. Disse que o parlamentar havia se desculpado após a discussão, mas foi às redes sociais tratar do caso. "Que deus tenha misericórdia das mentiras que o senhor profere", disse ela.

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