Descrição de chapéu Congresso Nacional

Ex-senador suspeito de mandar matar mãe da filha lidera em 'emenda Pix'

Transferências especiais de autoria de Telmário Mota ultrapassaram R$ 27 milhões neste ano

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São Paulo

Preso sob suspeita de mandar matar a mãe de sua filha, o ex-senador por Roraima Telmário Mota (Solidariedade) é o líder nos repasses de transferências especiais em 2023, conhecidas como "emendas Pix".

Esse tipo de emenda permite acelerar o repasse de verbas federais para estados e municípios, sem vínculo com projetos específicos, o que dificulta a fiscalização pelos órgãos de controle.

De acordo com o site Siga Brasil, do Senado, as indicações dessa espécie de autoria de Telmário já chegam a R$ 27,4 milhões neste ano, no recorte de valores pagos pelo governo federal somados a restos a pagar (despesas que foram assumidas no ano anterior, mas que não tinham sido ainda quitadas).

Telmário Mota durante pronunciamento no Senado
Telmário Mota durante pronunciamento no Senado - Roque de Sá/Agência Senado

O ex-senador foi preso pela Polícia Militar em Nerópolis (GO) na noite de segunda-feira (30) após ser considerado foragido pela Polícia Civil. Ele é suspeito de ser o mandante do assassinato de Antônia Araújo Souza, 52, mãe de uma de suas filhas.

O mandato de Telmário foi até o fim de janeiro, após ele não se reeleger para o Senado —concorreu pelo Pros (partido que foi incorporado ao Solidariedade) em 2022 e perdeu a disputa para Hiran Gonçalves (PP). A direção estadual do Solidariedade diz que o ex-parlamentar pediu desfiliação no último dia 10 —no sistema da Justiça Eleitoral ele ainda permanece como regularmente filiado.

As transferências especiais indicadas por Telmário se destacam, sendo a maior delas, de R$ 20 milhões, para a pequena cidade de São Luiz (RR). O município tem cerca de 8.000 habitantes.

Um levantamento feito pela ONG Transparência Brasil mostrou que a cidade, mesmo sendo a menor do estado, é a que mais teve empenhos via "emendas Pix" per capta no país.

O município, com sérios problemas de infraestrutura, ganhou os holofotes após contratar em 2022 um show do cantor sertanejo Gusttavo Lima por R$ 800 mil, evento que acabou cancelado pela Justiça.

Outras cidades beneficiadas pelo ex-senador foram Normandia, Caroebe, Iracema e Boa Vista.

Logo atrás de Telmário nos repasses via "emendas Pix", sempre no recorte de valores pagos e restos a pagar, está a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), seguida pela ex-senadora Eliane Nogueira (PP-PI), mãe do senador Ciro Nogueira (PP-PI) —elas fizeram indicações de R$ 27,3 milhões e R$ 26,7 milhões, respectivamente.

A quase totalidade dos pagamentos de Telmário foi feita neste ano, uma vez que desde 2020 ele acumula pouco mais de R$ 30 milhões em "emendas Pix". No período total, quem liderou esses repasses foi Jayme Campos (União Brasil-MT), com um total de R$ 47 milhões.

Neste ano, o governo Lula (PT) já pagou R$ 6,47 bilhões, segundo o Siga Brasil.

Antes da prisão, Telmário Mota era conhecido por uma atuação pró-garimpo em seu mandato.

CRIME

A prisão do ex-senador, de acordo com PM de Goiás, foi possível graças a uma denúncia anônima recebida na noite de segunda, indicando o possível local onde estava o ex-parlamentar.

Após a detenção, o ex-senador foi apresentado à Delegacia de Investigação de Homicídios para o cumprimento de mandado de prisão por suspeita de mandar matar a ex-companheira, mãe de sua filha.

A vítima foi morta com um tiro na cabeça em Boa Vista, no dia 29 de setembro. A morte ocorreu um ano após ela acusar Mota de importunação e assédio sexual contra a filha adolescente deles, em meio à campanha de reeleição ao Senado no ano passado.

A defesa do ex-senador não foi localizada na ocasião.

Em entrevista no ano passado, Antônia Souza afirmou que queria justiça para o que havia ocorrido com a filha, se referindo a assédio sexual. Na ocasião, em nota, a assessoria do senador negou a acusação afirmando que queriam "a todo custo prejudicar a campanha dele".

Erramos: o texto foi alterado

O nome do deputado Jayme Campos (União Brasil-MT) foi grafado incorretamente como Jayme Nogueira em versão anterior deste texto.

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