Cláudio Castro cancela viagem e revê planos em meio a desgaste com operação da PF

Governador do RJ consulta advogados, e aliados citam abalo; estado diz que acusações são infundadas, velhas e requentadas

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Rio de Janeiro

Após ser alvo de uma ação da Polícia Federal, no âmbito de uma investigação sobre desvios da assistência social do Rio de Janeiro, o governador do estado, Cláudio Castro (PL), precisou recalcular a rota neste final do ano.

Na quarta-feira (20), o STJ (Superior Tribunal de Justiça) autorizou a quebra de sigilos bancários, fiscais e telemáticos do chefe do Executivo fluminense. Na mesma investigação, seu irmão de criação, o presidente do conselho administrativo da AgeRio, Vinícius Sarciá Rocha, foi alvo de busca e apreensão pela PF, junto com outros dois suspeitos.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, durante entrevista em abril, no Palácio Guanabara, zona sul do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 6.abr.2023/Folhapress

O caso ligou um sinal de alerta ao governador, que cancelou uma viagem marcada que faria à China, agendada para o dia 3 de janeiro. Após a visita de caráter oficial ao país asiático, Castro iria passar férias com a família nos Estados Unidos e voltaria só no fim do mês. Segundo aliados, porém, ele preferiu adiar os planos.

O motivo é justamente as investigações. Aliados do governador ouvidos pela Folha afirmam que a operação contra Sarciá Rocha (que é filho da madrasta de Castro) foi sentida como um golpe duro pelo governador, devido à proximidade entre os dois.

A investigação da PF apura um esquema de desvio de dinheiro de programas da assistência social do estado, entre os anos 2017 e 2020 —época em que Castro era vereador e, depois, vice-governador.

O chefe do Palácio Guanabara é investigado sob suspeita de ter recebido propina de empresários ligados aos projetos sociais, conforme apontam as delações do empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva, ex-assessor de Castro, e de Bruno Selem, funcionário da Servlog, empresa envolvida no esquema.

De acordo com as investigações, Sarciá é um dos operadores do desvio de verba pública. Ele e Castro negam as acusações.

No dia da operação, o governador soltou uma nota dizendo que o desdobramento do caso por meio de medidas cautelares, quatro anos depois das acusações virem à tona, mostra que "não há nada contra ele".

Essa calma, no entanto, não é o que Castro tem transparecido para seu entorno. De acordo com aliados, o governador tem pensado em mudar sua estratégia de defesa e passou a ouvir outros criminalistas importantes do Rio.

Hoje, o responsável pela defesa é Carlo Luchione, que inclusive fez os primeiros atendimentos a Sarciá após a operação de quarta. O advogado, porém, deve passar a contar com o apoio de Rodrigo Mudrovitsch, de Brasília, já que o caso está no STJ.

O escritório de Mudrovitsch também é um dos cotados para assumir a defesa de Sarciá.

Na casa do irmão de Castro foram apreendidos R$ 128 mil e US$ 7.535 em dinheiro vivo. Na operação, os agentes também levaram o celular de Sarciá, além de anotações, planilhas e diversos documentos. Um dos principais pontos de tensão do governador, segundo uma pessoa próxima a ele, é o conteúdo dessas anotações.

A avaliação no entorno do chefe do Executivo do Rio é de que ele está enfraquecido politicamente, e a operação abre mais um ponto de fragilidade.

Castro vive às turras com o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Rodrigo Bacellar (União Brasil), que mesmo assim tem peso nas indicações a cargos do estado. Um exemplo disso foi o caso da escolha do atual secretário de Polícia Civil, Marcus Amim, que é mais próximo do parlamentar e tomou posse no lugar de José Renato Torres, nomeado havia menos de um mês.

Quando as investigações do desvio de verba da assistência social começaram, em 2020, Castro também era investigado no mesmo inquérito que derrubou seu colega de chapa e então governador à época, Wilson Witzel.

Segundo aliados de Castro, ele conseguiu passar incólume das investigações sobre desvios da saúde por ter feito alianças e promessas aos políticos da Alerj, que foram capazes de blindá-lo —diferentemente de Witzel, que teve o mandato cassado. Desta vez, porém, os parlamentares já deram o recado de que o cenário é diferente.

Os deputados estão insatisfeitos com o governador e alegam que ele não tem cumprido as promessas que fez sobre as indicações a cargos públicos nem de repasse de emendas.

Como mostrou a Folha, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal afirmam haver indícios de que Castro tenha usado parte do salário de um funcionário fantasma na Câmara Municipal para pagar, em esquema de "rachadinha", parcelas de um carro negociado no final de 2016, após a eleição daquele ano.

A suspeita é narrada na decisão do ministro Raul Araújo, do STJ, que autorizou as buscas e apreensões na última quarta.

Em sua decisão, Araújo reproduziu menção do Ministério Público segundo o qual há indícios de que "a figura do Cláudio Castro passa de acessória a central no esquema criminoso".

Em nota, o Governo do Rio disse que as informações são "infundadas, velhas e requentadas", que não há nenhum fato novo desde o início das investigações, em 2019, e que causa "estranheza e profunda indignação" a operação da última quarta, já que o caso se resumiria a uma delação criminosa de um réu confesso.

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