Descrição de chapéu Governo Lula

Ministro diz que eleitor de Bolsonaro acorda aos poucos e já reflete sobre avanços de Lula

Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral, afirma que ter oposição ao governo é bom para fiscalizar e apontar erros

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São Paulo

O ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) diz apostar no avanço de políticas sociais e econômicas do governo Lula (PT) para quebrar resistências de eleitores de Jair Bolsonaro (PL) que, para ele, ficaram adormecidos na disputa eleitoral e agora estão acordando.

"As pessoas estão vendo que não tem discriminação contra ninguém, não tem perseguição a ninguém, que as políticas públicas estão sendo direcionadas para resolver os problemas da população, que a economia está sendo cuidada de forma muito eficiente", afirmou em entrevista à Folha.

Dando como exemplos os números do PIB, o controle da inflação e a aprovação da reforma tributária, Macêdo afirmou que "uma série de coisas está acontecendo e é natural que as pessoas vão assimilando [as mudanças]", tendo "acesso às informações" e "sentindo na pele" os resultados.

Para o ministro, "ter oposição é saudável" e a defesa da democracia pressupõe debate com adversários. "É bom que tenha oposição, é assim que se constrói a democracia. Nós respeitamos as posições contrárias. E é importante que elas existam, nos fiscalizem e apontem possíveis erros para fazermos correção de rumos. O que combatemos é o ódio, a intolerância, o autoritarismo."

O ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) durante o 3º Fórum Interconselhos, realizado no Palácio do Planalto em agosto - Pedro Ladeira - 30.ago.23/Folhapress

O petista, que despacha do Planalto e tem acesso direto a Lula, destaca a reabertura à participação social no governo e a presença em fóruns internacionais no balanço da Secretaria-Geral em 2023.

Segundo o ministro, o enraizamento da extrema direita no país promoveu durante quatro anos uma onda de fake news e incentivo à divisão social, que Lula busca combater com "uma postura republicana no sentido de unir o Brasil" e dialogando com instituições e governantes sem vetos ideológicos.

"É natural que haja um processo de retomada disso, e às vezes não acontece na velocidade que a gente deseja. É como se uma parte da sociedade tivesse adormecido e estivesse voltando do sono. Uma parte que votou no Bolsonaro, por diversas razões, tem refletido", disse Macêdo.

O discurso para "restaurar a paz e a união" foi repetido por Lula em seu pronunciamento de Natal —na contramão de outros discursos ao longo do mandato, no qual manteve ataques a Bolsonaro e apoiadores.

Pesquisa Datafolha feita em dezembro mostrou estabilidade na avaliação de Lula, com 38% de aprovação dos brasileiros, enquanto 30% consideram seu trabalho regular, e o mesmo percentual, ruim ou péssimo.

O instituto expôs também que a polarização está nos mesmos níveis da época da eleição, com um quadro em que 30% se dizem petistas convictos e 25% se consideram bolsonaristas. Outro indicativo é que 90% das pessoas dizem não se arrepender do voto em Lula ou em Bolsonaro no segundo turno.

Enquanto discorria sobre os eventos internacionais do presidente e do ministério, Macêdo respondeu com uma tirada de inspiração bíblica a uma indagação sobre os críticos das viagens de Lula ao exterior no primeiro ano de mandato: "Deus, perdoe-os. Eles não sabem o que dizem".

O ministro defendeu os deslocamentos, dizendo que "foram fundamentais para o Brasil voltar a ter o protagonismo que tem" e significaram investimento estrangeiro e abertura de mercados.

"Foi corretíssimo. É assim que um estadista que tem compreensão da sua importância e da importância do Brasil para o mundo tem que fazer, e ele [Lula] fez", completou Macêdo, mencionando também a busca de protagonismo nas discussões ambientais e nos esforços de combate à fome.

Responsável pela interlocução do governo com movimentos sociais, o ministro afirmou que o nível de participação nas consultas e conferências indica que o segmento está "mobilizado e efervescente".

Disse também ter cumprido o objetivo, expresso por ele em entrevista à Folha poucos dias antes de assumir o cargo, de que "nem os movimentos sociais vão ser correia de transmissão de governo nem o governo vai ser aparelhado pelos movimentos sociais".

O ministro afirmou que hoje a relação com os grupos, em sua maioria atrelados ao PT e a outros partidos de esquerda e apoiadores da candidatura de Lula em reação ao isolamento imposto por Bolsonaro, é "democrática, respeitosa e sincera".

Como mostrou a Folha, em meio às pressões, Lula acabou deixando em segundo plano uma série de pautas progressistas. Ao longo do ano, acabou reduzindo a quantidade de mulheres no primeiro escalão e indicou dois homens para vagas no STF (Supremo Tribunal Federal), diminuindo ainda mais a presença feminina na corte (havia 2 mulheres entre os 11 magistrados e em 2024 haverá apenas uma).

Para Macêdo, os avanços da Secretaria-Geral passam pela criação ou reativação de conselhos com representantes da população, como o de Participação Social, o de Segurança Alimentar (Consea) e o de Juventude, além da recriação da Comissão de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Segundo a pasta, 34 mil pessoas em todos os estados compareceram às plenárias do Plano Plurianual (PPA) 2024-2027. O documento incorporou 85% das 508 propostas mais votadas no processo participativo, que indicou prioridades para as ações e o orçamento do governo federal.

"Promovemos a reabertura de todos os canais de participação social que foram obstruídos e mutilados no governo passado", disse Macêdo, que é apontado como possível nome para concorrer pelo PT à Prefeitura de Aracaju em 2024.

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