Descrição de chapéu Governo Lula

Ministros de Lula minimizam concessões ao centrão, mas Tebet reivindica espaço para mulheres

Ana Moser, com cargo cobiçado, recebeu apoio de militância em evento em SP com auxiliares do presidente

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São Paulo

Os ministros Simone Tebet (Planejamento) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) tratam com naturalidade as pressões do centrão por cargos no governo Lula (PT) e defendem a abertura de diálogo para melhorar a governabilidade, minimizando o risco de descontrole de políticas públicas.

Ambos justificaram as negociações citando o modelo do presidencialismo de coalizão durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (14), na capital paulista, antes da última plenária da plataforma Brasil Participativo para colher sugestões para o Orçamento participativo e o plano plurianual (PPA) 2024-2027.

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As ministras Simone Tebet, Sônia Guajajara e Marina Silva durante entrevista coletiva em SP nesta sexta - Ronny Santos/Folhapress

Tebet reforçou a defesa da presença de mulheres no governo, diante da sequência de ministras que têm tido os cargos ameaçados pelo apetite de partidos de centro-direita por cargos. A titular do Orçamento, no entanto, disse que não necessariamente uma mulher precisa ser substituída por outra.

"Temos o ministério mais feminino de toda a história. É claro que às vezes algum ajuste ou outro precisa ser feito, [como] precisou ser feito no Ministério do Turismo [com a troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino]", disse ela, concordando que mudanças são necessárias para a composição política.

"Mas eu não tenho dúvida de que, seja qual for a alteração que for feita, as mulheres continuarão ou irão para outros ministérios, outros espaços de poder extremamente relevantes e continuarão proporcionalmente com a representatividade que têm hoje", completou.

Ana Moser (Esporte), uma das mulheres que têm a permanência ameaçada, participou da entrevista, mas não respondeu a perguntas.

O evento reuniu ao todo dez ministros, incluindo Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas), além do vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Moser foi muito aplaudida ao discursar para o público no auditório do Memorial da América Latino, cheio de representantes de movimentos sociais de áreas como moradia, educação, cultura, reforma agrária e inclusão de minorias. Ela se disse empenhada em cumprir a missão que lhe foi dada por Lula.

"Ana fica, Ana fica", gritaram pessoas em coro na plateia para apoiar a ministra, que acenou de volta. Indagada pela Folha na saída do ato, Moser disse que não comentaria sua situação.

Macêdo aproveitou o tema das trocas ministeriais para criticar indiretamente Jair Bolsonaro (PL), afirmando que "o presidente anterior" fez uma inovação negativa ao entregar o Orçamento para o Congresso, abrindo mão de governar.

"O presidente Lula não fez isso e não vai fazer. Não vai abrir mão de seu papel constitucional", disse.

"É natural que os partidos que querem dar sustentação na Câmara e no Senado reivindiquem participação no ministério e reivindiquem ministérios", continuou, acrescentando que tanto ele quanto os outros ministros presentes estão sujeitos a terem que ceder suas cadeiras.

"A decisão é do presidente da República. Os cargos são dele, assim o povo determinou nas urnas. Ele vai definir e dialogar", afirmou o titular da Secretaria-Geral. Ele lembrou a proporção inédita de mulheres no ministério inicial de Lula (11 de 37). Sem Daniela, agora elas são 10.

Ministros do governo Lula durante plenária para debater Orçamento participativo, no Auditório Simón Bolívar, em SP - Ronny Santos/Folhapress

Macêdo falou em "mulheres empoderadas em toda a administração, cumprindo seu papel", inclusive à frente da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.

"Na cultura política do presidente Lula e dos nossos partidos, é natural que as mulheres possam ter o seu protagonismo. Então o presidente, na hora certa, vai dialogar e vai ver quais as alterações que ele deseja fazer", disse o ministro.

"Diálogo a gente faz com os diferentes, não com os iguais. [Um] exemplo disso sou eu", afirmou ainda Tebet, que concorreu contra Lula no primeiro turno e foi convidada para o cargo após apoiá-lo no segundo.

"Embora tenhamos visões econômicas muitas vezes diferentes, é assim que se governa numa frente ampla. O governo do presidente Lula, desde o primeiro dia, foi um governo de frente ampla."

Tebet reiterou a necessidade de construir maioria no Congresso, inclusive para aprovar políticas públicas que estão sendo sugeridas pela população no Orçamento participativo. "Queremos maioria para os programas relevantes e sociais do Brasil. Sabemos aonde queremos chegar", afirmou.

A ministra disse ser natural que quem pense diferente queira fazer parte do governo. "Se quiserem vir para se somarem e fazerem a política com 'p' maiúsculo, é natural que venham e que peçam espaços", completou ela, declarando confiar em Lula para fazer os ajustes.

"Vivemos num presidencialismo de coalizão, em que o governo que ganha não tem maioria no Congresso Nacional e tem que dialogar. Um exemplo disso foi o que aconteceu na Reforma Tributária", pontuou.

Os ministros entraram no palco do auditório ao som do refrão "meu coração é vermelho", da música "Vermelho", famosa na voz de Fafá de Belém e cantada no palco por uma banda. O governo diz que os encontros são uma oportunidade para ouvir diretamente as demandas da população.

Minutos antes, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) fez valer uma tradição pessoal e cantou "Blowin' in the Wind", de Bob Dylan.

Outros parlamentares estaduais e federais da base de Lula compareceram. Um deles foi Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a prefeito de São Paulo em 2024 com o possível apoio do PT. Quando ele foi anunciado, ouviram-se no auditório gritos de "Boulos prefeito".

Em entrevista à Folha, Macêdo negou que os encontros para debater Orçamento participativo e prioridades do governo se restrinjam a uma bolha. Ele disse que há portas abertas para propostas de todas as forças da sociedade, inclusive as que apoiaram Bolsonaro.

Segundo ele, a presença mais significativa de militantes pró-Lula era previsível, porque os movimentos sociais "estavam amordaçados e agora têm a chance de falar", mas setores religiosos, empresariais e rurais que se distanciaram do PT na eleição foram chamados e participaram de encontros.

Tebet afirmou a jornalistas no evento desta sexta que os resultados das plenárias serão complementados pelo Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), previso pelo governo. A plataforma Brasil Participativo recebeu até esta sexta mais de 1,3 milhão de votos para 7.272 propostas.

As falas durante o ato em São Paulo foram recheadas de críticas à taxa de juros e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Todos os ministros cobraram a queda da Selic para retomar o crescimento do país. A plateia concordou com a pressão, com gritos de "fora, Campos Neto".

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