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Tabata intensifica agenda de prefeitável, mira Nunes e Boulos e recusa 3ª via

Deputada adota rotina antecipada de jantares e costuras políticas sob as bênçãos de Alckmin e França

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São Paulo

Nome do PSB à Prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral tem resposta pronta para quem a descreve como uma terceira via na disputa hoje liderada por Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB).

A deputada federal trata logo de afastar o rótulo, dizendo que ele tem sido destinado aos que chegam em terceiro lugar. Essa foi a colocação ocupada por ela em pesquisa Datafolha de agosto, na qual marcou 11%, atrás do colega de Câmara (32%) e do atual prefeito (24%).

Tabata trocou o tom vacilante sobre a pré-candidatura que exibia até meados do ano por uma agenda de prefeitável. Dividindo-se entre Brasília e São Paulo, ela intensificou nas últimas semanas o ritmo de jantares com potenciais apoiadores e doadores, entrevistas em que critica Nunes e Boulos, conversas com líderes partidários e reuniões com a equipe.

No último fim de semana, ganhou evidência ao divulgar em suas redes sociais vídeo no qual relata ter sido ferida ao sofrer tentativa de assalto na região central de São Paulo. Tabata disse que a violência tomou conta da capital paulista. "Nunca me senti tão insegura na minha cidade."

A deputada Tabata Amaral (PSB), pré-candidata a prefeita de São Paulo pelo PSB - Marlene Bergamo - 22.set.23/Folhapress

Desde que se declarou pré-candidata em uma entrevista à Folha em setembro, a parlamentar tem trabalhado para desfazer impressões como a de que estaria fadada a ser vice de Boulos ou a de que sua candidatura não será para valer, podendo ser derrubada a qualquer hora pela cúpula do PSB.

Aliados relatam que Tabata procurou se cercar de garantias antes de pôr o nome na praça. Primeiro, assegurou a bênção dos dois principais líderes do PSB no estado, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Márcio França, que subirão em palanque oposto ao de Lula (PT), cabo eleitoral de Boulos.

Alckmin e França já tinham avalizado a articulação que em 2022 tornou a deputada presidente municipal do PSB. Além de reduzir os riscos à candidatura, a chegada à direção deu a ela o poder de decidir prioridades, como fazer cursos de formação para candidatos a vereador, especialmente mulheres.

Em meados de agosto, Tabata marcou uma reunião na capital paulista com um grupo para ajudá-la a levantar a candidatura. Eram auxiliares diretos, voluntários de suas campanhas anteriores e profissionais de áreas como pesquisas de opinião, comunicação digital e captação de recursos.

Ela também abriu a busca por marqueteiro, fechando depois com Pablo Nobel, argentino responsável pela campanha vitoriosa de Tarcísio de Freitas (Republicanos) a governador.

Inicialmente, a deputada pensava que essa fase ocorreria mais adiante, mas a antecipação dos embates entre Boulos e Nunes, com a participação indireta de Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e a pressão para se colocar no debate da sucessão na capital a obrigaram a se mexer.

Foi preciso, na definição do entorno de Tabata, virar a chave para conciliar as atividades da vida parlamentar —vistas como cruciais para rebater a pecha de inexperiente— com a pré-campanha.

Vieram adaptações de forma e conteúdo, com seus perfis em redes sociais repercutindo mais assuntos da cidade. As pautas do mandato, como educação e direitos das mulheres, começaram a ser intercaladas com questões locais, como as obras da atual administração e o apagão da Enel.

A deputada também foi orientada a aumentar sua presença na imprensa como pré-candidata e usar todas as oportunidades de se mostrar à população. Segundo o Datafolha, 50% dos moradores de São Paulo dizem não conhecer Tabata. Dos 50% que a identificam, só 13% afirmam conhecê-la bem.

A rotina de jantares —que sacrifica as noites da deputada, habituada a acordar às 6h para se exercitar— também cumpre o papel de aproximá-la de formadores de opinião. Ela tem usado os encontros fechados para testar o discurso sobre temas espinhosos como segurança pública e cracolândia.

No fim de novembro, foi recebida na casa do cineasta Bruno Barreto, em Higienópolis (região central), para uma dessas rodadas de apresentação.

Falou de sua trajetória e de suas aspirações a uma plateia de cerca de 20 pessoas. Eram produtores culturais, empresários e outros interessados em política, que naquela noite ouviram Tabata fazer o trocadilho sobre terceira via, sinalizando seu desconforto em ser associada à expressão.

"Eu não a conhecia pessoalmente, mas sempre a admirei", diz Barreto à Folha. "Político em geral monologa, mas ela tem capacidade de ouvir e faz um discurso que não é teórico-utópico, mas prático, de quem cresceu na periferia, conheceu e vivenciou os problemas", segue o anfitrião.

Nessas ocasiões, a deputada costuma pedir doações ao partido, uma forma de financiar a pré-candidatura enquanto não chega o fundo eleitoral, e colhe sugestões para a mobilização e o plano de governo.

Barreto afirma que já decidiu seu voto. "A minha percepção e a de todo mundo [no jantar] é que ela é, de longe, a melhor. Tem experiência [no Executivo]? Não. Mas ela vai formar um quadro [de colaboradores]. Ela tem experiência na política, já está no segundo mandato no Congresso."

Tabata atraiu para o grupo que formulará suas propostas integrantes das gestões Bruno Covas (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Gilberto Kassab (que transitou entre o DEM e o PSD quando foi prefeito). Também conta com o apoio de auxiliares de Alckmin no período em que foi governador.

Confrontada com ressalvas à sua inexperiência, ela chega a sugerir uma comparação entre sua atuação parlamentar, iniciada em 2019, e a de Boulos, que assumiu mandato neste ano. A pessebista cita como defeito do adversário a dificuldade de diálogo —imagem que ele vem tentando desconstruir.

Com posição híbrida, que combina visões à esquerda e à direita, Tabata se diz aberta a conversar com todos. Trata de demandas do mandato e de costuras da pré-campanha com uma lista diversa, que inclui o ministro Fernando Haddad (Fazenda), Tarcísio, Kassab e o presidente da União Brasil, Luciano Bivar.

A deputada também fala com líderes do PSDB para discutir uma aliança. Ela trabalha para forçar a saída do partido da coligação de Nunes e acena com a vaga de vice. O posto também poderá ser oferecido ao apresentador José Luiz Datena, que cogita se filiar ao PSB a convite dela.

O ministro Márcio França (PSB), a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) e o apresentador José Luiz Datena
O ministro Márcio França (PSB), Tabata e o apresentador José Luiz Datena após jantar na segunda-feira (4) - Reprodução/Twitter @marciofrancasp

Tendo hoje como palanque suas redes sociais (seguidas por mais de 2,4 milhões de perfis), a tribuna da Câmara e as entrevistas, Tabata perdeu o pudor de se declarar pré-candidata e aproveita as chances para fixar mensagens e tentar se diferenciar dos rivais, sobretudo Boulos e Nunes.

"A gente está realmente precisando de mudança, de coisa nova, diferente. A população está olhando e falando: 'Tá, já deu. Quando é que a gente vai romper com essa mesmice?'", disse ela ao podcast Flow News, repisando o discurso contra a polarização que é sua tônica até aqui.

"Quem decide, no final, é o povo. Vou apresentar o melhor time, porque tenho coragem de dialogar com esquerda e direita, e reunir com esse time as melhores ideias", afirmou ao site Poder 360. "A disputa não é entre Lula e Bolsonaro. A disputa é entre Boulos, Nunes e Tabata Amaral."


Pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo em 2024

  • Guilherme Boulos (PSOL)
  • Ricardo Nunes (MDB)
  • Tabata Amaral (PSB)
  • Kim Kataguiri (União Brasil)
  • Marina Helena (Novo)
  • Ricardo Salles (PL)
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