Descrição de chapéu Eleições 2024 chuva

Apagão em SP une rivais de olho em 2024 e gera reação de Nunes

Prefeito vira alvo de Boulos, Kim e Salles por tropeços na crise elétrica e proposta desastrada de criar taxa

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São Paulo

A queda de energia provocada pelo temporal em São Paulo se tornou um revés na campanha à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que viu rivais se unirem nas críticas a ele desde o fim de semana.

Acuado por pré-candidatos como os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL), Kim Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL), Nunes ensaiou uma reação para conter os danos de imagem, mas acabou engolido por outra crise ao falar na cobrança de eventual taxa para custear o enterramento de fios.

O prefeito Ricardo Nunes em entrevista à Folha
O prefeito Ricardo Nunes em entrevista à Folha - Marlene Bergamo/Folhapress

Os transtornos causados pelo apagão e os tropeços na resposta impulsionaram a ofensiva de adversários que buscam apontar ineficiência do prefeito em diferentes áreas. Boulos, que lidera as pesquisas de intenção de voto, foi o que mais explorou o episódio.

Tabata Amaral (PSB) também se envolveu no tema e adotou providências como parlamentar, mas evitou responsabilizar Nunes diretamente. A deputada federal cobrou medidas do "poder público" e atacou a "demora assustadora" no restabelecimento da energia, sem citar o emedebista.

Chamado por Boulos de "rei do camarote" por ter comparecido à Fórmula 1 e à etapa paulista do UFC no fim de semana de caos, Nunes tentou se contrapor reafirmando em redes sociais e entrevistas estar empenhado em buscar soluções, além de partilhar responsabilidades.

A estratégia de defesa foi alinhada com auxiliares da pré-campanha, que detectaram a disposição dos adversários de usarem o tema no contexto eleitoral. O discurso foi o de que o prefeito deu prioridade ao problema da chuva e chegou a varar a madrugada acompanhando medidas.

Na frente digital, a assessoria do governante passou a responder às mensagens de cidadãos que foram aos perfis dele em redes sociais reclamar da falta de luz e da ausência de previsão por parte da Enel, companhia privada responsável pela distribuição na capital.

Uma mensagem padrão foi postada no Instagram para usuários que fizeram queixas e pediram socorro. O texto atribui a lentidão "à grande demanda" e diz que ele está liderando o trabalho de limpeza de árvores caídas e reparo de semáforos e redes de energia "para não deixar ninguém desamparado".

A reação, no entanto, foi mal avaliada tanto por detratores quanto por uma parte dos aliados, que desejavam uma atitude mais dura de Nunes contra a Enel e consideraram desastroso ventilar uma "contribuição de melhoria" da população para enterrar os fios hoje suspensos em postes. Depois, ele disse que foi mal-interpretado e descartou a criação de taxa para ajudar a pagar o serviço.

O prefeito tenta assegurar o apoio de Jair Bolsonaro (PL), mas o ex-presidente tem dado sinais conflitantes sobre a parceria, o que abriu caminho para Salles voltar a articular uma candidatura sua, mesmo que por outro partido, já que o PL é da base de Nunes e defende a manutenção da aliança.

Bolsonaristas se mobilizaram para tentar jogar o problema no colo do governo Lula (PT), ao apontarem suposta falha de controle da Aneel, a agência federal que faz a regulação do serviço. Nunes foi aconselhado a endossar a narrativa, já abraçada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A desorientação beneficiou duplamente Boulos, que vinha de uma sequência de notícias ruins. No mês passado, ele virou alvo da direita por endossar a greve contra as privatizações em São Paulo e por sua visão pró-Palestina, que rivais converteram em suposto apoio ao grupo terrorista Hamas.

Após ser chamado de "rei do camarote", Nunes devolveu a provocação de Boulos e, indagado pela CNN Brasil, afirmou que é melhor isso "do que ser rei do terrorismo". O emedebista disse que prestigiou os eventos do calendário turístico porque geram emprego e renda à cidade.

Para o psolista, candidato de Lula na cidade, o apagão foi uma oportunidade para expor erros do atual prefeito, reforçando críticas da parcela da população insatisfeita com o governo, e para atacar Nunes e Tarcísio na briga sobre as privatizações dos transportes e da Sabesp.

Sob o argumento de que a venda da estatal de saneamento prejudicará os serviços de água e esgoto, Boulos culpou a Enel e disse que a população "não pode ficar à mercê de uma empresa que, além de cobrar tarifas absurdas, não garante o mínimo de qualidade no atendimento".

Tarcísio, que tem a questão da Sabesp como meta e deve apoiar a reeleição de Nunes, foi a público rebater a mensagem antiprivatização. Afirmou que o contrato da empresa não vai ser "frouxo" e será "absolutamente diferente" do acordo de concessão federal do serviço de energia elétrica.

O pré-candidato do PSOL também apontou nas redes o que chamou de "jogo de empurra" entre Tarcísio e Nunes. Ele postou vídeos em que o governador diz que a poda das árvores é papel municipal, e o prefeito ressalta a regulação do contrato —segundo Boulos, tarefa que cabe à Arsesp, agência estadual.

Ligado ao deputado, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) fez nesta terça-feira (7) um protesto na sede da Enel para reivindicar a retomada imediata do serviço e o ressarcimento aos consumidores prejudicados.

O parlamentar se valeu do mandato para marcar uma audiência pública com a Enel na Câmara dos Deputados e anunciar que fará nesta quinta (9) uma visita a subestações danificadas pela chuva.

Uma das principais aliadas de Boulos na Câmara Municipal, a vereadora Luna Zarattini (PT) abriu outra frente de desgaste para Nunes ao propor a criação de uma CPI para investigar a empresa.

A via parlamentar também foi usada por Tabata, que poupou prefeito e governador de críticas públicas. Ela enviou requerimentos de informações à Aneel e ao Ministério de Minas e Energia, além de ter feito denúncias à Arsesp e ao Procon em nome de consumidores atingidos pelo blecaute.

Tabata já tinha evitado entrar no embate eleitoral mais acalorado durante a greve contra as privatizações, justificando na época que o debate nas redes sociais estava raso e polarizado.

Postulantes que disputam com Nunes o eleitorado à direita também aproveitaram o caos elétrico para fustigá-lo.

Kim, que foi lançado pelo MBL (Movimento Brasil Livre), mas não tem legenda garantida, criticou a falta de prevenção e planejamento. A União Brasil, hoje, apoia a reeleição do emedebista.

Salles, que diz querer combater as máfias que atuam na cidade, atacou o aparelhamento de subprefeituras e sugeriu conivência da atual gestão com loteamento de cargos e corrupção, que prejudicam os serviços públicos.

O ex-ministro do Meio Ambiente na gestão Bolsonaro, assim como Kim, repudiou a proposta de estabelecer uma taxa para moradores que quiserem o enterramento de fios —a qual Nunes desmentiu. "Que vergonha, isso é planejamento de vendedor de queijadinha", postou Salles.

Colaborou Carolina Linhares, de São Paulo

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