Descrição de chapéu ataque à democracia Folhajus

Bolsonaristas falam em 'guerra civil' e se preparam para ato com pacto de não agressão

Mensagens em grupos de conversa, sem citar protesto na Paulista, incitam revolta em caso de prisão de Bolsonaro

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São Paulo

Ao mesmo tempo em que convocações para o ato deste domingo (25) em São Paulo repetem o pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que não haja cartazes ou alvos específicos na manifestação, mensagens de tom violento e teorias da conspiração seguem sendo compartilhadas em grupos públicos bolsonaristas, ainda que sem citar o protesto.

Ato de apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro no dia de comemoração da Independência do Brasil, na avenida Paulista, em 2022 - Mathilde Missioneiro - 15.set.22/Folhapress - Folhapress

O levantamento feito pela empresa de tecnologia Palver buscou capturar o que estava sendo dito após a operação da Polícia Federal de 8 de fevereiro que mirou Bolsonaro e aliados acerca de trama golpista engendrada em sua gestão. Além disso, analisou também como reverberou a convocação do ex-presidente, feita no dia 12, para ato na avenida Paulista.

Mensagens citando Bolsonaro e falando em "guerra civil" ou "revolução" tiveram certo aumento após a ordem de apreensão de passaporte contra o ex-presidente. Este tipo de conteúdo mais inflamado, porém, não cita a manifestação de 25 de fevereiro e já vinha aparecendo anteriormente nos grupos.

Uma mensagem diz, por exemplo, que "estão inventando uma prisão a qualquer custo para Bolsonaro" e fala que "vai ter guerra civil". O texto, que é longo, diz ainda que "ninguém sairá de dentro do Congresso até que todos sejam presos" e que "ninguém nos deterá". Ao final, demanda "providências contra esses abusos de autoridades do STF" e diz que "isso não vai continuar assim".

"Guerra civil à vista", diz outro conteúdo compartilhado, acompanhado de uma teoria da conspiração: "PT mandou o TSE cassar os mandatos e tornar inelegíveis todos os deputados do PL. É imprescindível fazer este vídeo chegar a cada brasileiro".

Um outro caso traz o rosto de Bolsonaro junto do aviso: "Estamos atentos, não encostem nele!". Na sequência, diz que, se o ex-presidente for preso, todos devem sair às ruas. "Vamos parar o país. Revolução civil em todo o Brasil. Encostem no Bolsonaro e é isso que terão", diz o conteúdo.

Um outro vídeo traz áudios supostamente de pessoas ligadas ao Exército falando também em guerra civil junto dos termos de que o Brasil estaria em alerta e de que faltariam poucos dias.

Todos estes exemplos estavam marcados como encaminhados com frequência no WhatsApp, segundo a Palver. Essas mensagens não citam o ato do dia 25 de fevereiro, mas seguem sendo encaminhadas nos grupos.

Há ainda outras mensagens dizendo que houve fraude em 2022, além de textos aventando novas teorias da conspiração das instituições contra Bolsonaro e incutindo ainda a ideia de que as Forças Armadas podem vir a agir nestes casos.

Os novos indícios que vieram à tona com a recente decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF) não são destaque nas conversas tampouco alteraram a narrativa de que Bolsonaro estaria sendo perseguido.

As minutas de golpe, por exemplo, foram pouco mencionadas, o que ficou restrito a poucas ocorrências de um vídeo do advogado de Bolsonaro justificando o documento encontrado na sede do PL e a um texto de Ives Gandra dizendo que um dos arquivos encontrados no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente, era de 2017.

Nos segmentos bolsonaristas, a principal crítica segue sendo a órgãos de Justiça, como o Supremo e ao atual governo.

O vídeo divulgado por Bolsonaro convocando para um ato na avenida Paulista, por sua vez, repercutiu positivamente nos grupos de WhatsApp, segundo a Palver.

No gráfico, aparecem algumas ocorrências pontuais anteriores ao dia 12, isso se deve ao fato de a busca capturar termos gerais —além disso, foram consideradas apenas mensagens em português.

Ao analisar a quantidade de mensagens destacando a fala do ex-presidente para que não houvesse cartazes ou para que o ato fosse pacífico e se evitasse xingamento a opositores, as menções são menos relevantes.

No vídeo, Bolsonaro pediu a apoiadores que não levem faixas e cartazes contra ninguém e fala em ato de apoio ao que chama de "Estado democrático de Direito". "Nesse evento eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses", afirmou.

Os textos em geral recomendam que as pessoas vistam verde e amarelo, e há também recomendação para que levem seus familiares e fazer lives e fotos. "A nação brasileira precisa colocar a cara do lado de fora e deixar claro que já não tolera mais nenhuma espécie de ditadura."

Há também mensagens sobre ônibus partindo para a capital paulista, como uma que diz que o ônibus sairá do Leme no Rio de Janeiro no domingo de manhã por R$ 200 —adicionando que não será permitida a entrada com faixas e cartazes bem como com objetos como facas e armas.

Segundo Maria Cruz, analista da Palver, será preciso avaliar o quanto as convocações encaminhadas nos grupos resultarão em aderência aos atos, considerando o fato do chamamento do Bolsonaro.

Ela ressalta que, em mobilizações mais recentes, a aderência teria sido abaixo do que os grupos esperavam, resultando em discussões sobre possíveis falhas.

Uma mensagem que foi bastante encaminhada divulga uma concentração em Manaus no domingo. O perfil do movimento conservador da cidade, porém, já divulgou que o ato foi cancelado, devido à instrução de Bolsonaro para que tudo fosse centralizado em São Paulo.

Nos grupos aparecem ainda fake news como a de que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente argentino, Javier Milei, compareceriam aos atos.

O PT, partidos do campo governista e movimentos ligados ao presidente Lula decidiram preparar um manifesto em reação ao ato —o grupo quer denunciar o golpismo do ex-presidente e reiterar o apoio à democracia.

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