Descrição de chapéu ataque à democracia

PT e movimentos fazem manifesto contra ato de Bolsonaro na Paulista e atacam golpismo

Grupos de esquerda buscam contraponto à manifestação bolsonarista com exaltação à democracia e pedido de punição

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São Paulo

O PT, partidos do campo governista e movimentos ligados ao presidente Lula decidiram preparar um manifesto em reação ao ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) para domingo (25) na avenida Paulista. O grupo quer denunciar o golpismo do ex-presidente e reiterar o apoio à democracia.

A resposta à manifestação bolsonarista foi discutida nesta segunda (19) e terça-feira (20) em fóruns com a participação da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e de coordenadores das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. O grupo jurídico Prerrogativas também está envolvido.

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Jair Bolsonaro com apoiadores em carro de som na avenida Paulista durante protesto no 7 de Setembro de 2021 - Danilo Verpa - 7.set.2021/Folhapress

As duas frentes englobam entidades como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), CUT (Central Única dos Trabalhadores), CMP (Central de Movimentos Populares), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e UNE (União Nacional dos Estudantes).

Após descartarem a realização no domingo de atos de rua ou em locais fechados, por temores como os de comparação de tamanho do público e risco à segurança dos participantes, os articuladores decidiram escrever um manifesto e buscar o apoio de outros segmentos da sociedade civil.

O texto, que está sendo redigido, deve apontar Bolsonaro como líder de uma trama para dar um golpe de Estado no país após a eleição de Lula. Também vai repudiar a tentativa do ex-presidente de questionar as investigações para, na visão dos detratores, manipular a opinião pública.

"Estamos fazendo um alerta sobre um ato que atenta contra a Constituição, a democracia, o devido processo legal", afirma Gleisi à reportagem.

"Que autoridade, que moral tem Bolsonaro para invocar o Estado democrático de Direito? O último ato dessa gente acabou na depredação da praça dos Três Poderes. Agora o golpista quer ocupar a Paulista", diz a dirigente.

Ao chamar seus apoiadores para a avenida, Bolsonaro disse em vídeo que será "um ato pacífico, em defesa do nosso estado democrático de direito". Ele afirmou que usará o evento para se defender de todas as acusações que têm sido imputadas a ele nos últimos meses.

A ofensiva da esquerda deve avançar também sobre a participação de autoridades na manifestação. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) não deverão ser citados no manifesto, mas a ideia é que sejam cobrados pelo apoio a Bolsonaro diante do que já foi revelado.

Os dois anunciaram que irão à mobilização e devem ficar no caminhão de som com o ex-mandatário.

Nos bastidores, líderes de partidos da base do governo e representantes de movimentos de esquerda vêm conversando desde a semana passada para fazer um balanço do quadro e monitorar a necessidade de uma reação do que chamam de campo democrático.

Uma das preocupações é a de que não se pode subestimar o poder de convocação de Bolsonaro. A avaliação é que uma manifestação puxada pelo ex-presidente para se contrapor às investigações da Polícia Federal pode ter desdobramentos que voltem a colocar a democracia em xeque.

Também foi acordado que é preciso reafirmar a confiança nas instituições e nas informações levantadas pela PF. A principal mensagem a ser trabalhada é de punição para os que forem responsabilizados pela tentativa de golpe, relembrando o papel de Bolsonaro nas contestações às urnas eletrônicas e nos ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O presidente estadual do PT em São Paulo, Kiko Celeguim, acionou o Ministério Público Eleitoral do estado e pediu acompanhamento para que o ato não vire uma reedição do 8 de janeiro, conforme noticiou o Painel. O dirigente reiterou o direito à livre manifestação, mas cobrou providências.

O documento menciona que Tarcísio é o chefe da PM e afirma que no 8 de janeiro "foi necessária força policial para a contenção dos manifestantes" em Brasília. "E não se sabe, ainda, quais os protocolos e recomendações que a Polícia Militar do Estado de São Paulo seguirá em 25 de fevereiro de 2024."

Segundo o coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, o manifesto pretende ratificar o compromisso do Brasil com a democracia e impedir que o levante de janeiro de 2023 seja esquecido.

"O Bolsonaro que ocupou a Paulista no passado [com ameaça de golpe e de desobediência à Justiça] é o mesmo de agora", diz o advogado. O Prerrogativas cogitou uma reação própria ao ato do dia 25, mas se juntou à articulação ampla.

O grupo de advogados também levou para discussão a realização de um evento fechado, com lideranças políticas e sociais, em contraponto à mobilização bolsonarista, mas a proposta não avançou. A avaliação foi a de que o ambiente polarizado e o risco de confrontos nas ruas deveriam ser levados em conta.

Carvalho afirma ainda "ser vergonhosa" a presença de Tarcísio e Nunes e aponta contradição na presença deles na manifestação deste domingo depois da ausência em solenidades que exaltaram a democracia, tanto antes quanto depois do 8 de janeiro. Nunes tem o apoio de Bolsonaro para a reeleição.

"Me estranha e preocupa, embora não me surpreenda, a participação do governador e do prefeito. É uma oportunidade singular para mostrar quem são eles e quem somos nós. Nós sabemos o que eles fizeram no verão passado", diz o advogado do Prerrogativas, que é filiado ao PT.

Os organizadores do manifesto têm a intenção de angariar apoios para além da esquerda, nos moldes do que foi feito com a "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito", lida na Faculdade de Direito da USP, em 2022, em meio às ameaças do então presidente Bolsonaro.

As frentes Brasil Popular e Povo sem Medo também definiram motes que devem ser usados pela militância a partir de quinta-feira (22), quando Bolsonaro tem depoimento marcado à PF. As hashtags "SemAnistia" e "GolpistasNaPaulista" serão difundidas nas redes sociais.

Outra decisão foi a de promover uma série de atos de rua em março, culminando com uma manifestação nacional no dia 24 alusiva aos 60 anos do golpe militar de 1964 e com o pedido de prisão de Bolsonaro.

"A partir de agora, as ruas voltam a ser novamente a arena da disputa política. De um lado os que defendem a democracia e punição para os golpistas do 8 de janeiro, do outro os que defendem golpe e ditadura", diz o coordenador nacional da CMP, Raimundo Bonfim.

Segundo Simone Nascimento, do MNU (Movimento Negro Unificado), a decisão é "construir um março de lutas em defesa da democracia", começando pelas marchas do Dia da Mulher. "O combate à extrema direita e ao golpismo se faz com mobilização permanente", afirma a ativista.

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