PF prende empresários suspeitos em nova operação sobre ataque golpista de 8/1

Alvos no DF são suspeitos de financiar estrutura do acampamento em frente ao QG do Exército em 2022

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Brasília

A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta quinta-feira (29) três empresários na 25ª fase da Operação Lesa Pátria, que busca identificar pessoas que planejaram, financiaram e incitaram os ataques do 8 de janeiro às sedes dos três Poderes.

Duas prisões ocorreram no Distrito Federal e uma, em São Paulo. Eles são suspeitos de financiar atos antidemocráticos em Brasília.

Policiais Federais deixam após cumprirem mandado de busca e apreensão no início de fevereiro. - Pedro Ladeira-08.02.2023/Folhapress

Na capital federal foram presos dois empresários: Adauto Lucio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade.

A CPI do 8 de janeiro na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) recomendou, no ano passado, o indiciamento da dupla por incitação ao crime e associação criminosa.

O relatório final do colegiado apontou evidências de que teriam financiado estrutura do acampamento em frente ao QG do Exército, apesar da negativa dos empresários em seus depoimentos.

Na ocasião, eles contaram ser sócios em empresas do ramo atacadista. De acordo com a CPI, eles contribuíram para o financiamento de carro de som e tendas no local.

Empresário Joveci Andrade durante depoimento à CPI da Câmara Distrital do DF em 2023
Empresário Joveci Andrade durante depoimento à CPI da Câmara Distrital do DF em 2023 - Reprodução/TV Câmara Distrital no YouTube

Em depoimento à época, Mesquita disse que doou R$ 10 mil para a campanha de Bolsonaro. Já seu sócio negou ter doado recursos.

Os dois disseram que não fizeram doações ou contrataram trios elétricos, mas a quebra de sigilo de uma das empresas mostrou pagamento à representante do trio que foi contratado no QG.

Os dois também disseram que chegaram em 8 de janeiro na Esplanada dos Ministérios quando já havia ocorrido a invasão dos prédios públicos e afirmaram que não participaram da depredação dos prédios.

Adauto Lúcio de Mesquita durante depoimento à CPI da Câmara Distrital do DF em 2023
Adauto Lúcio de Mesquita durante depoimento à CPI da Câmara Distrital do DF em 2023 - Reprodução/TV Câmara Distrital no YouTube

O advogado de Mesquista e Andrade, Iure Castro, disse ter recebido com serenidade mas surpresa a decisão de Moraes e que seus clientes sempre tiveram postura colaborativa com as autoridades.

"Ninguém de boa fé que participou da manifestação saberia dizer que aquilo culminaria no futuro com depredação deplorável que nos machucou a todo mundo que tem espirito público democrático. Isso também é sentimento do Adauto, do Joveci, que jamais quebrariam um copo público", disse Castro.

"É importante que a gente separe o joio do trigo, quem realmente cometeu dano que responda. Não é porque eventualmente esteve na manifestação, até então pacífica, que você tem que ser condenado por isso. Tem que individualizar as condutas", completou.

Os empresários não prestaram depoimento porque a PF tentou fazer a oitiva antes de o advogado chegar. Mas ele disse que já solicitou a Moraes e à polícia que fossem remarcadas as oitivas, porque querem prestar esclarecimentos.

Já o grupo atacadista ao qual os dois pertencem também disse em nota ser contra o vandalismo e a intolerância política. "E acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. A diretoria do grupo respeita as instituições brasileiras, a democracia e o Estado de Direito."

O terceiro preso nesta quinta-feira é Diogo Arthur Galvão, empresário dono de um comércio varejista de madeira e artefatos. Galvão foi detido em Presidente Epitácio (SP) por estar em posse irregular de munição.

De acordo com a PF, ao total, foram 34 mandados judiciais nesta fase da operação. Além das prisões preventivas, houve sete alvos para monitoramento eletrônico e 24 mandados de busca e apreensão. As determinações são do ministro Alexandre de Moraes.

Os mandados foram cumpridos nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Espírito Santo, além do Distrito Federal.

A PF também informou que foi determinada por Moraes a indisponibilidade de bens, ativos e valores dos investigados. A estimativa da corporação é a de que os danos ao patrimônio público com os atos golpistas cheguem a R$ 40 milhões.

A operação tem origem nas quatro frentes de investigação abertas após os ataques aos três Poderes.

Uma delas mira os possíveis autores intelectuais, e é essa frente que apura ações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Outra visa mapear os financiadores e responsáveis pela logística do acampamento e transporte de bolsonaristas para Brasília.

O terceiro foco da investigação da PF são os vândalos. Os investigadores buscaram identificar e individualizar a conduta de cada um dos envolvidos na depredação dos prédios da capital federal, que acabaram denunciados pela Procuradoria-Geral da República.

A quarta linha de apuração avança sobre autoridades omissas durante o 8 de janeiro e que facilitaram a atuação dos golpistas.

Na última fase da operação, o líder da oposição na Câmara, deputado Carlos Jordy (PL-RJ), foi alvo de busca e apreensão da PF. As suspeitas relacionadas a ele incluem eventos de teor antidemocrático ocorridos no Rio de Janeiro, como acampamentos em frente a quartéis das Forças Armadas e bloqueios de rodovias, após as eleições de 2022.

Com a vitória de Lula (PT), apoiadores de Bolsonaro promoveram em todo o país uma série de protestos, bloqueando estradas, e passaram a se aglomerar em frente a unidades militares, onde manifestavam seu inconformismo com o resultado das urnas.

Para os investigadores, esses episódios serviram como uma espécie de preparação para o ataque que ocorreria em 8 de janeiro do ano passado.

Um dos principais aliados do ex-presidente Bolsonaro no Congresso, o parlamentar afirmou, em uma rede social na época, ser vítima de uma "medida autoritária, sem fundamento, sem indício algum, que somente visa perseguir, intimidar e criar narrativa às vésperas de eleição municipal".

Em outro post, ele disse: "A covardia feita hoje é sintomática. Estamos numa ditadura que distorce e manipula fatos para perseguir adversários. Que Deus olhe pelo Brasil!"

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