Pressão da caserna faz Exército estudar nota oficial após operação mirando Bolsonaro

Críticas do general-senador Mourão expressam desconforto dos militares com operação que atingiu altos oficiais

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São Paulo

A manifestação do senador e general Hamilton Mourão (Republicanos-RS) sobre a operação da Polícia Federal que atingiu altos oficiais das Forças Armadas expressou um sentimento corrente na caserna nesta quinta (8).

O comandante do Exército, Tomás Paiva, tem sido pressionado, sobretudo por colegas da reserva como Mourão, a tomar uma posição que defenda a corporação –cuja imagem sofreu o maior desgaste em muito tempo.

O comandante do Exército, general Tomás Paiva, e outras autoridades em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em Brasília
O comandante do Exército, general Tomás Paiva, e outras autoridades em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em Brasília - Pedro Ladeira - 17.mai.23/Folhapress

Em discurso na tribuna do Senado, o ex-vice-presidente da República exortou os comandantes militares a tomar alguma atitude de reação à operação da PF.

"No caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem seus integrantes ao largo da Justiça Militar. Existem oficiais da ativa sendo atingidos por supostos delitos, inclusive oficiais generais. Não há o que justifique a omissão da Justiça Militar", declarou Mourão.

Por causa da declaração, a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados acionou o STF (Supremo Tribunal Federal) para pedir a prisão preventiva e a quebra de sigilo telefônico de Mourão por supostamente atentar contra a democracia e o Estado de Direito.

Outra amostra do clima na caserna: um general da reserva do Exército com trânsito também na cúpula da ativa comentou que, com a operação de hoje, a PF e Alexandre de Moraes estariam "esticando a corda" e perseguindo os militares. E lançou uma metáfora em tom ameaçador-bravateiro: "Você pode encurralar um gato… ele vai te arranhar. Não é prudente encurralar onça".

Nesta quinta pela manhã, o Exército deu uma resposta protocolar a quem procurou o seu Centro de Comunicação Social, de que a corporação acompanhava a operação da PF e estava "prestando todas as informações necessárias às investigações conduzidas por aquele Órgão".

Ao longo do dia, diante das revelações da decisão de Alexandre de Moraes e das pressões decorrentes delas, houve no quartel-general do Exército seguidas avaliações sobre a pertinência de a corporação se manifestar por meio de uma nota oficial.

Decidiu-se por fim não soltar manifestação alguma. Não significa que isso não possa ocorrer nesta sexta (9). No estafe do general Tomás, a informação é de que essa avaliação é contínua. E, segundo um auxiliar do comandante, "em circunstâncias do tipo, as percepções da reserva sempre entram em consideração, para esclarecer e sair das ‘paixões’".

Desde a redemocratização, e principalmente no governo Bolsonaro, notas oficiais das Forças Armadas, de comandantes de uma delas ou do Ministério da Defesa representaram foco de ruídos e atritos nas relações civis-militares.

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