Saiba mais sobre generais de quatro estrelas atingidos por operação da PF

Cinco representantes do topo da carreira militar, quatro do Exército e um da Marinha, foram alvos de mandados

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São Paulo

Cinco oficiais-generais de quatro estrelas –o topo da carreira militar– foram atingidos pela operação da Polícia Federal nesta quinta (8): os generais de Exército Braga Netto (candidato a vice-presidente de Bolsonaro em 2022), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Estevam Teophilo (ex-chefe do Coter, Comando de Operações Terrestres) e Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e o almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha).

Policiais vestidos de uniforme preto caminham por estacionamento de prédio com malas e malotes
Policiais deixam casa onde mora o general Heleno após operação de busca e apreeensão - Pedro Ladeira/Folhapress

Todos estão na reserva. Theophilo foi o último a deixar a ativa –comandou o Coter até 1º de dezembro de 2023.

Saiba mais sobre os oficiais-generais atingidos pela operação da PF:

PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA

Alvo da operação deflagrada nesta quinta (8) pela Polícia Federal, Paulo Sérgio é um exemplo cristalino de como altos oficiais das Forças Armadas atuaram politicamente pelo bolsonarismo.

Homem branco por volta de 60 anos com cabelo preto e lábios franzidos
Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa de Bolsonaro, durante conferêcia em Brasília em 2022 - Evaristo Sá - 8.fev.2024/AFP

Quando passou a agir como militante, o general estava na reserva, mas seu cargo imediatamente anterior foi o de comandante do Exército –foi nesta condição, aliás, que isentou o general Eduardo Pazuello de punição por ter subido a um palanque junto com Bolsonaro. A omissão é tida como a maior afronta à hierarquia e à disciplina da história recente do Exército.

Como ministro da Defesa, Paulo Sérgio foi um dos líderes da cruzada bolsonarista contra o sistema eletrônico de votação, formulando questionamentos por vezes disparatados e colocando em dúvida reiteradas vezes a segurança das urnas eletrônicas.

O general da reserva do Exército Luiz Eduardo Rocha Paiva –colega de turma e amigo do ex-comandante Villas Bôas e tido como uma espécie de formulador intelectual entre seus pares– publicou no Facebook, em julho de 2022, um artigo prevendo "a ruína moral da nação e das instituições" em caso de vitória de Lula (PT) nas eleições de outubro seguinte.

O texto foi compartilhado por Paulo Sérgio. Indagado a respeito, o general afirmou: "O texto é muito bom", e seu autor "é uma das maiores inteligências da história do Exército".

AUGUSTO HELENO

Augusto Heleno é o general de quatro estrelas que esteve ao lado de Bolsonaro desde o começo do seu projeto de se candidatar a presidente em 2018. Eleito, o capitão reformado o nomeou ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). No cargo, Heleno foi um militante fervoroso, emitindo notas com ameaças de golpe e pondo lenha nos ataques contra as instituições.

General Augusto Heleno presta depoimento à CPI do 8 de janeiro - Evaristo Sá - 26.set.23/AFP

A equipe do GSI que fracassou em impedir a invasão do Palácio do Planalto era composta por vários remanescentes da gestão de Heleno. Este foi, aliás, um dos pontos apresentados pela CPMI do 8 de Janeiro no Congresso para pedir seu indiciamento.

WALTER BRAGA NETTO

Braga Netto foi comandante da intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro e chefe do Estado-Maior do Exército antes de ir para a reserva e se juntar ao governo Bolsonaro, no qual ocupou os cargos de ministro da Casa Civil (quando centralizou a reação desastrosa do governo no combate à pandemia) e da Defesa.

Homem grisalho de colete verde oliva gesticula na frente de militares
Braga Netto fala a soldados durante treinamento militar em Goiás, em 2021 - Evaristo Sá - 16.ago.2021/AFP

Escolhido por Bolsonaro como seu candidato a vice nas eleições de 2022, estimulou manifestantes que contestavam o resultado das eleições, atitude criticada publicamente pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

"Certamente há autoridades [das Forças Armadas] que de alguma forma incentivaram [o 8 de Janeiro]. Eu me lembro de uma frase do general Braga [Netto] dizendo para aqueles manifestantes que eles tivessem fé e portanto prometendo algum tipo de evolução, isso poucos dias antes desses desdobramentos", disse. Gilmar à Folha.

Mensagens obtidas pela PF que embasaram prisões e buscas nesta quinta mostram que Braga Netto chamou o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, de "cagão" por não aderir à tentativa de golpe.

ESTEVAM CALS THEÓPHILO

Recém-passado à reserva, o general Estevam Cals Theóphilo é ex-chefe do Comando Militar da Amazônia e do Coter (Comando de Operações Terrestres do Exército). É apontado nos bastidores do Exército como um dos mais bolsonaristas entre os integrantes do Alto Comando da corporação nos últimos anos do governo Bolsonaro –portanto durante o 8 de Janeiro.

General Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, que teve reunião com Bolsonaro - Comando Militar da Amazônia/Exército

A Polícia Federal concluiu a partir de mensagens do tenente-coronel Mauro Cid que Teophilo se reuniu com Bolsonaro e teria concordado em executar as medidas que culminariam na consumação do golpe de Estado.

De uma tradicional família militar, Teophilo é irmão do também general de quatro estrelas (da reserva) Guilherme Teophilo, candidato a governador do Ceará pelo PSDB em 2018 e secretário nacional de Segurança Pública durante a gestão de Sergio Moro no Ministério da Justiça.

ALMIR GARNIER

O almirante Almir Garnier é apontado como o que mais atuou politicamente em favor de Bolsonaro entre os últimos comandantes militares das Forças Armadas do governo passado. Foi ele quem organizou um desfile militar na Esplanada no dia em que o Congresso votou um projeto para tornar o voto impresso –bandeira bolsonarista.

Almirante de Esquadra Almir Garnier, um dos militares mais ligados ao bolsonarismo - Valter Campanato - 31.mar.2021/Agência Brasil

Segundo a delação de Mauro Cid, Garnier se manifestou favoravelmente à minuta de golpe formulada após a derrota de Bolsonaro para Lula –um decreto para convocar novas eleições que incluía a prisão de adversários.

A CPI do 8 de Janeiro no Congresso pediu o indiciamento de quatro dos cinco generais de quatro estrelas atingidos pela operação desta quinta da PF –a exceção é Teophilo.

A operação desta quinta-feira é a que mais se aproximou de militares de alta patente desde o início das investigações sobre o 8 de Janeiro.

Enquanto na cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal vários comandantes foram presos, nenhum oficial graúdo das Forças Armadas sofreu responsabilização —em que pese a conivência ou incentivo em relação aos acampamentos golpistas em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília ou a omissão em relação à proteção do Palácio do Planalto.

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