Rui Costa é escalado por Lula como elo do governo com Lira e ganha força após crises

Chefe da Casa Civil foi escolhido como elo do Planalto com Arthur Lira, mas é alvo nos casos da Abin, yanomamis e novo plano industrial

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, ganhou força após ser escolhido pelo presidente Lula (PT) como o novo elo do governo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas alguns reveses fizeram sua fama de "gerentão do governo" sofrer abalos neste início de 2024.

O gesto de Lula em indicá-lo como interlocutor de Lira ocorre em meio à elevação das críticas nos bastidores ao ministro que tem a atribuição de coordenar o trabalho de todas as pastas da Esplanada.

O ministro Rui Costa durante cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado - 5.jan.23/Reuters

Três episódios contribuíram para o fogo amigo.

A crise desencadeada pela operação da Polícia Federal contra a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que está sob sua guarda, a dificuldade do governo para retirar invasores da Terra Indígena Yanomami e o anúncio do plano de alavancagem da indústria do país.

Embora a ação policial na agência de inteligência tenha mirado aliados do ex-presidente, investigadores dizem que a atual gestão do órgão tentou atrapalhar as apurações.

A operação levou Lula a demitir o diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti, e deixou o presidente irritado pelo fato de o órgão ter como número 2 um homem que já chegou a ter cargo equivalente na Secretaria de Segurança do Distrito Federal na gestão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.

A demora na exoneração de Moretti é atribuída a ponderações do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, em favor da permanência de seu braço-direito, em uma articulação apoiada por Rui.

A dificuldade do governo em resolver a situação na Terra Indígena Yanomami também arranhou a imagem do governo, já que Lula assumiu o tema como uma questão central de sua gestão e fez duras críticas à situação daquela população indígena, que sofria com a desnutrição, a malária, a invasão de garimpeiros, entre outros problemas.

O mandatário abraçou a causa e ampliou a atenção da sociedade para o caso. Essa movimentação reforçou os ataques contra Bolsonaro, acusado nas redes sociais de promover um genocídio do povo indígena.

Na ocasião, foi montada uma força-tarefa no Executivo para resolver a situação, sob coordenação da Casa Civil.

Um ano após a ida de Lula ao local, no entanto, a população tradicional segue enfrentando sérios problemas, e o garimpo ilegal persiste em atividade na região. O barulho feito pelo chefe do Executivo sobre o tema no começo do mandato, então, se voltou contra o próprio governo.

Já o lançamento de um pacote de medidas voltadas à indústria foi classificado como "atabalhoado" por integrantes do governo.

Na reunião que antecedeu o lançamento que ocorreria no mesmo dia, Lula reclamou que o projeto não continha pontos concretos e dava margem para as críticas de que se tratava de uma reedição de medidas antigas.

Também apontou falhas no documento, como problemas nos prazos para cumprimento das "metas aspiracionais" estabelecidas.

Além disso, o pacote de medidas também esquentou novamente a disputa que existe entre Rui e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Ambos mantinham boa relação até o início de 2023, mas, após o início do governo, se desentenderam em diversas ocasiões e passaram a estabelecer uma animosidade com críticas mútuas nos bastidores.

Logo após a apresentação do plano, batizado de Nova Indústria Brasil, o chefe da pasta econômica lamentou a falta de detalhamento da proposta.

Em reunião com líderes partidários da Câmara dos Deputados um dia após o anúncio, o ministro da Fazenda apontou para um painel que registra indicadores econômicos —como bolsa e dólar— para afirmar que sofrem oscilações toda vez que medidas de impacto são anunciadas sem o devido esclarecimento.

Aos parlamentares Haddad disse ainda que não tinha sido informado até um dia antes sobre o lançamento do pacote. Membros do governo, no entanto, lembram que o Ministério da Fazenda faz parte do conselho que discutiu o plano.

Sob reservas, integrantes do Palácio do Planalto afirmam que Rui não é de fácil trato e, com frequência, se indispõe com outras pastas pela maneira e intensidade das cobranças por resultados nos programas do governo. No entanto, ele ainda é visto como um gestor competente inclusive por desafetos.

Seus defensores argumentam que às vezes é necessário pulso firme para garantir o andamento da administração petista. Além disso, dizem que as críticas são naturais porque cabe a ele blindar o presidente sobre problemas da Esplanada e rejeitar ideias de outros ministérios.

Aliados também dizem que o ministro saiu para o feriado de Carnaval mais empoderado do que nunca após Lula delegar a ele a tarefa de dialogar com Arthur Lira.

Isso se dá nem tanto pelas qualidades do ministro, mas pela desavença entre Lira e o responsável pela articulação política do governo, Alexandre Padilha.

Na sessão de abertura do ano no Legislativo, Lira cumprimentou Padilha de maneira protocolar. O presidente da Câmara e Rui, por sua vez, conversaram e tiveram momentos de descontração, com risadas —sem a participação de Padilha, que olhava para o plenário.

Na semana anterior, Rui havia feito uma visita a Lira, na residência oficial da presidência da Câmara.

Segundo integrantes do governo, a competência do chefe da Casa Civil será posta à prova também com a ameaça de eclosão da pandemia de dengue no país, uma vez que ações conjuntas de combate à doença dependem da coordenação do ministro, e a execução do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.