Lula entra em campo para resolver crise com Câmara e promete canal direto com Lira

Petista convida presidente da Câmara para café da manhã no Alvorada; Lira tem cobrado cumprimento de acordos

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Brasília

Em reunião na manhã desta sexta-feira (9) no Palácio da Alvorada, o presidente Lula (PT) prometeu ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que a partir de agora terá um canal direto com ele, por meio do telefone de um de seus auxiliares.

Lula também combinou com Lira que será o ministro Rui Costa (Casa Civil) o ponto de comunicação institucional entre o governo e a Câmara dos Deputados.

As duas medidas ocorrem em meio a um início de ano em clima de tensão com deputados e representam uma disposição de Lula de atuar mais diretamente na articulação política de seu governo.

O presidente Lula e o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL)
O presidente Lula e o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), em novembro de 2023 - Pedro Ladeira - 23.nov.23/Folhapress

O contato Lula-Lira se dará por meio do telefone de Valmir Moraes da Silva, chefe da Ajudância de Ordens da Presidência.

O centrão, comandado por Lira, vem dizendo desde o fim do ano passado que nenhuma pauta do interesse do governo será aprovada enquanto não houver a demissão de Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

O parlamentar culpa Padilha por descumprir acordos, sendo o principal deles a liberação das verbas de emendas parlamentares negociadas com os deputados —sobretudo recursos do Ministério da Saúde.

Após a reunião com o presidente da Câmara, Lula chamou Padilha e o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), ao Alvorada.

Após o encontro, Padilha, por sua vez, afirmou que o governo mantém boa relação com o Congresso Nacional. Questionado se tem falado com Lira e se é o canal de diálogo do Executivo com ele, o ministro da articulação política minimizou o mal-estar.

"Gente, vocês já sabem sobre isso. A questão central é: o governo tem diálogo, o governo nunca rompeu qualquer diálogo e nunca romperá", afirmou.

O ministro negou que Lula tenha determinado que, a partir de agora, o canal de Lira no governo seja Rui Costa.

"Não, pelo contrário. O presidente, no diálogo conosco, reafirmou o papel daquilo que ele tem dito desde o começo, do papel do ministério das Relações Institucionais, do trio de líderes, da Câmara, Senado e Congresso. Reafirmou a confiança e a diretriz da atuação."

Ele também afirmou que a relação com o Legislativo ocorre "sob a coordenação" da Secretaria de Relações Institucionais. "Eu tenho dito sempre, quanto mais ministros dialogando sob a coordenação do ministério e sob a liderança do presidente Lula é cada vez melhor."

Durante a abertura do ano legislativo, na segunda-feira (5), Lira expôs ainda mais o mal-estar com Padilha. Já na chegada, o deputado acompanhou Costa no acesso ao plenário da Câmara, e deixou Padilha para trás.

Em meio a essas reclamações, o presidente da Câmara vinha tentando conversar com Lula, mas sem sucesso. Teve de esperar por duas semanas até ser chamado, na manhã desta sexta. O petista não tem telefone próprio e não usa aplicativos de mensagens.

Segundo relatos, Lira fez uma apresentação ao presidente sobre as entregas de votações ao longo do ano de 2023, lembrando também da PEC da Transição, em 2022, e do reconhecimento imediato do resultado da eleição presidencial, quando Jair Bolsonaro (PL) foi derrotado.

Na conversa, o deputado pontuou todos os acordos não cumpridos, tanto em relação a textos combinados e depois vetados, quanto a emendas que estão paradas.

Na segunda-feira, uma das críticas de Lira foi justamente sobre o veto de Lula a R$ 5,6 bilhões de emendas parlamentares no orçamento. Integrantes das duas Casas ameaçam a derrubada. Nos bastidores, Lira tem garantido.

Ainda na reunião, Lula questionou o presidente da Câmara sobre o tom do seu discurso na segunda, tendo como resposta a dificuldade de comunicação entre eles. Lira também disse que é representante dos deputados e que a maioria na Casa, mais de 300 deputados, é conservadora.

Partiu de Lula o convite a Lira para o café da manhã. Segundo auxiliares, o petista fazia questão de se encontrar com Lira antes do feriado para que a reunião não ficasse para depois do Carnaval.

Em meio às reclamações da Câmara, o presidente da República também tem estreitado a relação com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Os dois estiveram juntos nesta quinta (8) na primeira ida de Lula a Minas Gerais desde que foi eleito.

Pacheco e Lula vem se aproximando desde o ano passado, mas as ameaças de Lira têm feito o Palácio do Planalto reforçar o movimento para tentar equilibrar a correlação de forças no parlamento. Como presidente do Congresso, cabe ao mineiro, por exemplo, convocar ou não sessão para analisar vetos presidenciais.

Segundo aliados do petista, Lula espera contar com o apoio de Pacheco para postergar até a segunda quinzena de março a convocação da sessão do Congresso em que deverão ser votados os vetos presidenciais ao Orçamento de 2024.

Até lá, a equipe econômica ganharia tempo para negociar com o Congresso as medidas de interesse do governo. A avaliação do Palácio do Planalto é que parlamentares, liderados por Lira, ainda se lamentam pela perda do controle maior do orçamento durante o governo Bolsonaro.

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