Ministério Público de SP denuncia jornalista da Folha que revelou áudio de equipe de Tarcísio

Promotor Fabiano Petean cita suspeita de divulgação de fato inverídico sobre tiroteio em Paraisópolis, em 2022

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São Paulo

O Ministério Público de São Paulo denunciou os jornalistas Artur Rodrigues, da Folha, e Joaquim de Carvalho, do portal Brasil 247, pela publicação de reportagens relacionadas a tiroteio ocorrido em Paraisópolis durante a campanha eleitoral de 2022. O repórter e o jornal não foram notificados da medida.

Na época, a Folha revelou que a equipe de Tarcísio de Freitas (Republicanos) mandou que um cinegrafista apagasse vídeo do tiroteio, ocorrido durante agenda de campanha do hoje governador e então candidato ao Governo de São Paulo.

A denúncia, assinada pelo promotor Fabiano Augusto Petean, da 1ª Zona Eleitoral em São Paulo, sustenta que os jornalistas "divulgaram, durante o período de campanha eleitoral, fatos que sabiam inverídicos em relação a Tarcísio de Freitas" e que esses fatos eram "capazes de exercer influência perante o eleitorado".

A Folha procurou o Ministério Público nesta terça-feira (12) para comentar o caso, mas a instituição não respondeu até a publicação desta reportagem.

O então candidato Tarcísio de Freitas durante tiroteio em Paraisópolis, durante agenda de campanha em 2022 - Reprodução GloboNews

Na campanha do segundo turno da eleição, um profissional da Jovem Pan filmava a agenda de Tarcísio em Paraisópolis, na zona oeste de São Paulo, quando uma troca de tiros com a polícia terminou com um homem morto na comunidade.

Na ocasião, houve perguntas ao profissional sobre o que ele havia filmado e a ordem para que ele apagasse as imagens, conforme áudio publicado pela Folha.

"Você filmou os policiais atirando?", questiona um integrante da campanha. "Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras", responde o cinegrafista. Na mesma conversa, o integrante da equipe afirma: "Você tem que apagar".

O cinegrafista relatou à reportagem que achou o pedido da segurança de Tarcísio "muito estranho" e que acabou não apagando as imagens gravadas.

Para sustentar a denúncia, o promotor Petean apresenta trecho de uma reportagem do portal Brasil 247 que afirmou que Tarcísio "preparou uma farsa em Paraisópolis para que o candidato vendesse a falsa narrativa de que teria sido vítima de um atentado quando fez campanha na região".

Não há trechos de reportagens da Folha para sustentar a argumentação do promotor.

O Ministério Público sustenta que há dolo na ação dos jornalistas porque o cinegrafista Marcos Andrade, que filmou o ocorrido, disse nunca ter afirmado que o tiroteio em Paraisópolis tinha sido "uma farsa da campanha eleitoral de Tarcísio".

Essa informação também não aparece em nenhuma das reportagens da Folha sobre o tema.

Na época em que Petean pediu a investigação do caso, em dezembro de 2023, entidades de jornalismo, como a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) criticaram a ação contra os jornalistas.

A denúncia do promotor eleitoral contra os jornalistas agora irá para a análise do juiz responsável pela 1ª Zona Eleitoral do município de São Paulo, Antonio Maria Patiño Zorz.

Quem pediu que as imagens do tiroteio fossem apagadas foi Fabrício Cardoso de Paiva, que trabalha na Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Em depoimento, ele disse conhecer Tarcísio há cerca de 30 anos e que, por estar licenciado e ser admirador do trabalho do candidato, participava do evento de campanha.

Na época, conforme testemunhas, Paiva agia como segurança e andava armado.

Após o tiroteio, a própria campanha de Tarcísio afirmou que "um integrante da equipe perguntou ao cinegrafista da Jovem Pan se ele havia filmado aqueles que estavam no local e se seria possível não enviar essa parte do vídeo para não expor as pessoas que estavam lá".

Naquela época, não houve nenhum questionamento ao teor das reportagens pelos envolvidos.

Tarcísio, em debate na TV dias depois do tiroteio, disse: "Ele [integrante da equipe] pediu o seguinte: 'apaga isso, apaga aquilo'. Sabe por quê? Preocupação com as pessoas".

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