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Tucanos declaram apoio a Nunes com aval de Tomás Covas, mas presidente do PSDB-SP rejeita

José Aníbal, que comanda o partido na capital, diz que sem a vice e com Bolsonaro não há apoio ao prefeito

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São Paulo

Militantes do PSDB em São Paulo se reuniram nesta terça-feira (19) para divulgar um manifesto de apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que era vice de Bruno Covas (PSDB). Nunes já tem o apoio da bancada de vereadores e de deputados estaduais do PSDB.

O partido, no entanto, envolto em crises e divisões, não tomou uma decisão a respeito do seu rumo na eleição municipal a pouco mais de seis meses do pleito. Hoje, os oito vereadores da sigla ameaçam deixar o PSDB na janela partidária.

Tomás Covas discursa em evento de militantes do PSDB a favor do apoio a Ricardo Nunes na eleição
Tomás Covas discursa em evento de militantes do PSDB a favor do apoio a Ricardo Nunes na eleição - Carolina Linhares/Folhapress

Desde o fim de fevereiro, o diretório municipal do PSDB é comandado pelo ex-senador José Aníbal por uma decisão da executiva nacional, presidida por Marconi Perillo. Já o ex-presidente municipal Fernando Alfredo, que realizou uma convenção para se reeleger, mas a votação não foi reconhecida pelo partido, foi quem organizou o evento desta terça em apoio a Nunes.

O ato teve a presença de secretários tucanos da gestão Nunes, como Fernando Padula (Educação), Fabrício Cobra (Casa Civil), Carlos Bezerra (Desenvolvimento Social) e Marcos Gadelho (Urbanismo e Licenciamento), além de vereadores, do deputado estadual Barros Munhoz e do secretário-executivo estadual Marcos Penido. O filho de Bruno Covas, Tomás Covas, também compareceu.

Aníbal declarou ao jornal O Globo que o PSDB pleiteia a vice de Nunes em troca do apoio e que a aliança do prefeito com Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de golpista, constrange o partido. Segundo ele, a possibilidade de o PSDB se coligar com Bolsonaro está descartada.

Em nota, Aníbal afirmou que buscou líderes do MDB para apresentar a proposta de que o PSDB indicasse o vice na chapa de Nunes. "No primeiro encontro com o prefeito Ricardo Nunes e o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi, no dia 4 de março, ficou claro que o PSDB não indicaria o vice", declarou.

"Sem esta condição e com a notória negociação que o MDB está encaminhando com Bolsonaro para a indicação do vice, o PSDB não tem como estar na composição da candidatura majoritária", continua.

"Sobre a reunião de hoje [terça], esperamos que os militantes do PSDB reforcem a proposta da executiva provisória, respaldada pela direção nacional, com propósito de manter o PSDB em posição de destaque no cenário político municipal", completou Aníbal.

Fernando Alfredo, porém, diz que o partido perdeu o timing de participar do processo de decisão da vice de Nunes, dadas as reviravoltas na direção.

Para a ala ligada a Aníbal, tucanos defendem o apoio a Nunes por causa dos cargos do partido na gestão. Na reunião desta terça, uma série de funcionários da prefeitura estavam presentes.

Já tucanos pró-Nunes acusam a atual direção do PSDB de inclinação a favor da deputada Tabata Amaral (PSB), que busca a aliança com o partido. Orlando Faria, que foi presidente do PSDB na capital antes de Aníbal, migrou para a pré-campanha da deputada.

Parte do tucanato em São Paulo admite que o PSDB não tem mais tamanho para exigir a vice de Nunes, que deve acabar com o PL de Bolsonaro –partido com maior fundo eleitoral e tempo de TV.

A orientação de Perillo é que o PSDB tenha candidato próprio nas principais cidades do país, o que inclui São Paulo, como forma de promover o partido, que planeja lançar o governador Eduardo Leite (RS) para a Presidência da República em 2026. Na capital paulista, porém, a legenda não tem nomes competitivos para levar às urnas.

Nesta terça, diante de um auditório lotado de tucanos no centro de São Paulo, Fernando Alfredo afirmou que "compromisso na política se cumpre doa a quem doer" e criticou o que chamou de "política personalista" de alguns.

Tomás Covas afirmou que Nunes deu continuidade à gestão do pai e que foi "muito leal". "Não teria outra opção do PSDB e da militância a não ser esse ano estarmos com Ricardo Nunes na sua reeleição", disse. "Não podemos deixar PSDB de outro estado, que vem de fora, dar pitaco aqui em São Paulo", criticou.

"Meu pai teve a esperta decisão de ter escolhido pessoalmente o prefeito Ricardo Nunes como seu vice, isso se demonstrou uma escolha certa logo depois do falecimento dele. [...] É claro que houve mudanças no secretariado, mas, se meu pai estivesse como prefeito, também teria, mudanças são naturais."

O manifesto pró-Nunes diz que o prefeito tem parte do DNA do PSDB e que o partido "sempre combateu a esquerda, principalmente a esquerda radical, extremista". O texto admite que o partido sofre de "falta de competitividade momentânea".

"Enquanto o PSOL, por origem, tem laços com a extrema esquerda radical, nós do PSDB que acreditamos na força da democracia vamos seguir com Ricardo Nunes, um político de centro que honra compromissos", afirma.

Em seu discurso, Padula listou os feitos da gestão Nunes e ressaltou que ele cumpre o plano de governo de Covas. "Não podemos aceitar ordem de Brasília para ser cumprida em São Paulo", disse o vereador Gilson Barreto.

Wilson Pedroso, que foi coordenador da campanha de Covas em 2020, afirmou que queria passar um recado para os tucanos que não apoiam Nunes. "Não me venha com falsas narrativas, não se esconda atrás de aproximação com Bolsonaro e da candidatura do PSB", disse ele, lembrando que o adversário do PSDB sempre foi o PT.

Pedroso afirmou que, em 2018, quando João Doria se aliou a Bolsonaro, "Bruno Covas não aplaudiu, mas respeitou, porque entendeu o momento político que era necessário para vencer". Ele disse ainda que o PL apoia o PSDB há anos na prefeitura, enquanto Tabata "virou as costas para Covas em 2020 e apoiou Boulos".

Jorge Damião, fundador do PSDB e um dos organizadores do evento, afirmou, na abertura, que o objetivo da militância era reivindicar "respeito à democracia interna" que sofreu "sucessivos golpes".

"Estamos no fundo do poço", discursou Barros Munhoz, arrancando risos da plateia. "Não podemos por isso dizer que temos que ter candidatura própria, temos que ter humildade. [...] Vamos fazer o PSDB voltar a ser o que era."

O imbróglio no PSDB se estende ao nível estadual, em que Perillo também interveio para nomear o prefeito de Santo André, Paulo Serra, como presidente do diretório paulista no último dia 13. As crises no partido levaram à desfiliação do ex-governador Rodrigo Garcia neste mês.

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