Promotoria desiste de investigação sobre jornalista da Folha

MP-SP fala em esgotamento de apuração que tratava de reportagens sobre tiroteio em Paraisópolis em 2022

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São Paulo

O Ministério Público de São Paulo pediu para encerrar nesta terça-feira (16) inquérito envolvendo os jornalistas Artur Rodrigues, da Folha, e Joaquim de Carvalho, do portal Brasil 247, pela publicação de reportagens relacionadas a tiroteio ocorrido durante a campanha eleitoral de 2022 em São Paulo.

Na época, a Folha revelou que a equipe de Tarcísio de Freitas (Republicanos) mandou que um cinegrafista apagasse vídeo de tiroteio em Paraisópolis (zona oeste), ocorrido durante agenda de campanha do hoje governador e então candidato ao Governo de São Paulo.

A iniciativa da Promotoria ocorreu após a Justiça Eleitoral do estado rejeitar denúncia oferecida em março deste ano. Segundo o promotor eleitoral Fabiano Augusto Petean, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, o esgotamento da investigação e a interpretação do Judiciário de que as reportagens não ultrapassam o direito da liberdade de expressão justificam a conclusão do caso.

Sede do Ministério Público de São Paulo, na capital paulista - Rubens Cavallari - 7.dez.23/Folhapress

"Com o esgotamento das atividades de investigação e com a interpretação já mencionada pelo TRE do mérito da demanda, não há justa causa para o início de novas investigações (diante da ausência de fato novo) quanto aos presentes fatos", afirma o promotor.

A investigação foi inicialmente aberta contra o governador e, após arquivamento, o promotor decidiu investigar e depois denunciar os jornalistas.

Petean sustentava na denúncia, em março, que os jornalistas "divulgaram, durante o período de campanha eleitoral, fatos que sabiam inverídicos em relação a Tarcísio de Freitas" e que esses fatos eram "capazes de exercer influência perante o eleitorado".

O juiz Antonio Maria Patiño Zorz alegou erro de procedimento do MP-SP ao rejeitar as imputações aos jornalistas. Entre outros pontos, o magistrado apontou que era "equivocada a oferta da denúncia em expediente arquivado".

Na campanha do segundo turno da eleição, um profissional da rede Jovem Pan filmava a agenda de Tarcísio em Paraisópolis, quando uma troca de tiros com a polícia terminou com um homem morto.

Na ocasião, houve perguntas ao profissional sobre o que ele havia filmado e a ordem para que ele apagasse as imagens, conforme áudio publicado pela Folha.

"Você filmou os policiais atirando?", questiona um integrante da campanha. "Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras", responde o cinegrafista.

Na mesma conversa, o integrante da equipe afirma: "Você tem que apagar".

O cinegrafista relatou à reportagem que achou o pedido da segurança de Tarcísio "muito estranho" e que acabou não apagando as imagens gravadas.

Para sustentar a denúncia, o promotor Petean apresentou trecho de uma reportagem do portal Brasil 247 que afirmava que Tarcísio "preparou uma farsa em Paraisópolis para que o candidato vendesse a falsa narrativa de que teria sido vítima de um atentado quando fez campanha na região".

Não há trechos de reportagens da Folha para sustentar a argumentação do promotor.

O Ministério Público sustentou que há dolo na ação dos jornalistas porque o cinegrafista Marcos Andrade, que filmou o ocorrido, disse nunca ter afirmado que o tiroteio em Paraisópolis tinha sido "uma farsa da campanha eleitoral de Tarcísio".

Essa informação também não aparece em nenhuma das reportagens da Folha sobre o tema.

Após o tiroteio, a própria campanha de Tarcísio afirmou que "um integrante da equipe perguntou ao cinegrafista da Jovem Pan se ele havia filmado aqueles que estavam no local e se seria possível não enviar essa parte do vídeo para não expor as pessoas que estavam lá".

Naquela época, não houve nenhum questionamento ao teor das reportagens pelos envolvidos.

Tarcísio, em debate na TV dias depois do tiroteio, disse: "Ele [integrante da equipe] pediu o seguinte: 'apaga isso, apaga aquilo'. Sabe por quê? Preocupação com as pessoas".

O então candidato Tarcísio de Freitas durante tiroteio em Paraisópolis, durante agenda de campanha em 2022 - Reprodução GloboNews
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