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Maior milícia do Rio se expande na Baixada e investe em política

Traficantes de drogas sequestraram o comerciante e candidato a vereador Alex Martins da Silva, o "Alex do Gás" (PMDB), no dia 28 de agosto, quando ele saía de um churrasco com outras três pessoas, em Belford Roxo, município da Baixada Fluminense, na região metropolitana do Rio.

O grupo foi torturado porque os criminosos acreditavam tratar-se de milicianos. A mulher de Alex e um amigo acabaram sendo liberados. O candidato contou ter escapado após se jogar de uma ribanceira.

Alan Moreira (30) não teve a mesma sorte. Seu corpo foi encontrado três dias depois perfurado a bala.

O crime se inscreve no contexto de disputa de território entre traficantes da Baixada e milícias que se fortalecem na região. Uma delas é a Liga da Justiça, que nasceu na zona oeste do Rio há cerca de 20 anos e agora expande seus domínios.

Segundo a Polícia Civil, a organização criminosa já chegou a municípios da Costa Verde (Itaguaí, Mangaratiba e Angra dos Reis) e tenta se afirmar na Baixada, irradiando-se a partir do município de Seropédica, onde exerceria forte influência sobre a Câmara Municipal.

As investigações mostram que seis das 12 execuções de pessoas ligadas à política na Baixada, desde novembro, foram cometidos por milicianos. Três mortes, pelo menos, têm a marca da Liga da Justiça, a maior milícia do Estado.

O caso mais recente foi o do policial militar e pré-candidato a vereador Júlio Reis (PCdoB). Ele foi baleado na saída de uma festa no último dia 20 de agosto. A polícia investiga suas relações com a Liga da Justiça.

Segundo o promotor de Justiça Luiz Ayres, que investiga a milícia na capital, é impossível para outras facções conter o avanço da Liga.

A organização comandada pelo ex-traficante Carlos Alexandre Braga, 30, o "Carlinhos Três Pontes", contaria com cerca de 2.000 colaboradores diretos ou indiretos em todo o Estado.

Após ajudar a milícia a tomar territórios do Comando Vermelho, sua antiga facção, na capital, Três Pontes ganhou a confiança do ex-policial militar e líder do grupo Toni Ângelo, hoje preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN).

"Ainda existe quem tente [resistir]. Então, a milícia do Toni voltou à sua assinatura peculiar depois de anos de discrição", diz Ayres, referindo-se à tática de assassinatos de opositores, inclusive políticos.

Ao que tudo indica, foi o caso do subtenente e pré-candidato a vereador de Nova Iguaçu Manoel Primo Lisboa, 52, baleado enquanto andava de carro com a mulher no dia 17 de julho. Segundo a polícia, Primo tentava enfrentar o grupo no Cabuçu, bairro que é a porta de entrada da milícia no município.

Famosos no passado por deixarem os corpos de suas vítimas na rua para de intimidar comerciantes e moradores, há alguns anos os milicianos passaram a esconder os cadáveres e "terceirizar" o serviço sujo para traficantes cooptados. A ideia era dificultar as investigações e evitar investidas policiais.

"Agora, fazem isso de forma até mais ostensiva para demonstrar força num momento de expansão e eleição simultâneas", aponta Ayres.

A tendência, dizem os investigadores é que a Liga da Justiça avance rápido, fechando acordos com grupos semelhantes e facções do tráfico de drogas.

PONTO ESTRATÉGICO

O pré-candidato a vereador Júlio Reis (PCdoB) não foi o primeiro alvo político da Liga da Justiça em Seropédica.

Em 15 de novembro do ano passado, o vereador Leonardo Nascimento Batista, 38, foi executado na saída da boate onde trabalhava.

De acordo com as investigações da Delegacia de Homicídios da região (DHBF), o vereador, conhecido como Luciano DJ, teria sido assassinado por ter faltado a uma votação que cassaria o prefeito Alcir Martinazzo (sem partido) na Câmara Municipal.

O flerte com a situação teria desagradado a Liga da Justiça, que hoje apoia parte dos dez vereadores de Seropédica.

Segundo os investigadores, os criminosos começaram a migração para a Baixada Fluminense pela cidade de 80 mil habitantes – sede da Universidade Federal Rural do RIo (UFRRJ).

O objetivo dos milicianos era se posicionar para explorar as oportunidades econômicas trazidas pelo Arco Metropolitano, rodovia que interliga diversos municípios a região metropolitana do Rio e que tem aquecido a economia local, sobretudo a construção civil.

A Liga da Justiça é conhecida pela distribuição ilegal de TV a cabo e gás, agiotagem e exploração de transporte alternativo, entre outros crimes.

Mas com a expansão, duas novidades que surgiram na carta de negócios do grupo são o serviço de terraplenagem e a extração e venda de areia.

"Isso acontece em grandes lotes de terra abandonados, fiscalizadas pelo poder municipal", explica o promotor Luiz Ayres, que participa das investigações ao grupo na capital.

"Essa presença se reflete na cooptação de candidatos e isso vira uma bomba relógio", diz o delegado Giniton Lages, titular da DHBF. "Não resta dúvida de que a Liga da Justiça está embrenhada na política local", afirma.

De acordo com o líder do PCdoB em Seropédica, o vereador e candidato à reeleição Max Goulart, pelo menos seis pessoas já desistiram do pleito por medo.

O partido ainda conta com três candidatos à Câmara local e a recomendação aos candidatos é não circular em áreas dominadas por organizações criminosas.

"Durante o último mandato, eu mesmo recebi ameaças e cheguei a engordar 20 quilos por ansiedade. Minha família pediu que eu desistisse", diz Goulart. Ele afirma, no entanto, nunca ter visto milicianos na cidade.

A chegada da milícia a Seropédica complica ainda mais um quadro já conturbado. Desde que se emancipou de Itaguaí, em 1995, a cidade teve quatro prefeitos e só o primeiro cumpriu mandato sem interrupções.

Dois foram cassados por compra de votos. Já o atual prefeito, Alcir Martinazzo, foi afastado do cargo pelos vereadores duas vezes em 2015. Ele sempre negou as acusações de contratação de funcionários fantasmas e conseguiu reaver o cargo na Justiça.

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