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Mudanças de prefeitos levam a arquivamentos de megaprojetos em São Paulo

Diversos prefeitos paulistanos já encomendaram a alguns dos melhores arquitetos da cidade reformas de parques, conjuntos habitacionais criativos, novos bairros, uma nova relação com seus rios e até uma nova cara para o Minhocão. Vários deles após concursos entre projetistas. Porém, a tradição é que eles sejam engavetados na mudança seguinte de gestão.

Na atual campanha, novos projetos genéricos são apresentados, mas pouco se sabe sobre quais dos já prontos serão continuados, desengavetados ou, de fato, detalhados.

"Ganhamos concurso do HabitaSP, um projeto de locação social da então prefeita Marta, que foi engavetada pelo Serra. Já Haddad engavetou bons projetos do Kassab", disse à Folha o vice-presidente da seção paulistana do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-SP), Vinicius Andrade, do escritório Andrade Morettin. "Nosso modelo de disputa política valoriza quem é o autor, o pai da obra, não o benefício social do projeto."

Urbanistas debatem como dar continuidade a planos que consumiram tempo, trabalho e dinheiro público. "Há algumas concessões feitas por PPPs (parcerias publico-privadas) que são um avanço", diz Andrade, explicando que, nesses casos, há um contrato entre a prefeitura e um concessionário, e um projeto vencedor a ser executado.

"Para a esquerda mais radical, há um senso de 'privatização' nas PPPs, mas o poder público participa e coloca as regras. É melhor do que não fazer nada", diz o arquiteto. "É um processo que precisamos tentar e testar mais."

Ele ainda cita o exemplo dos casos descobertos pela Operação Lava Jato, "onde contratos eram feitos sem o menor projeto, deu no que deu".

Para o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU-SP), Gilberto Belleza, prefeitos deveriam apresentar "um relatório claro de projetos em andamento, antes de sair do cargo, para que a sociedade saiba do trabalho realizado e dos valores pagos.

No passado, já se tentou estabelecer um Conselho Permanente Metropolitano, independente da gestão da vez, mas que não saiu do papel.

MELHORAR PROJETOS

Os concursos de arquitetura e planejamento de grandes projetos deveriam "levar mais em conta medidas quantitativas de custo, de implementação à operação, e de impacto econômico, social e ambiental, antes de serem aprovados", diz o urbanista Antony Ling. "Já fizemos muitos megaprojetos ineficientes".

No passado, critérios como custos e viabilidade não eram analisados nos júris. Hoje, os clientes das obras são convidados a participar da seleção.

Para Philip Yang, fundador do Instituto Urbem, que planeja projetos urbanísticos, falta mais "costura" de consensos para que o mercado se interesse, a comunidade participe e aprove e o poder público drible a burocracia.

"O ciclo de quatro anos é infernal. Não temos escola para prefeitos e o tempo é um fator tenebroso para conseguir costurar interesses do mercado, amarras jurídicas brasileiras, oposição, consenso", afirma.

MEGAPROJETOS

Requalificação do Anhangabaú

Tenta aumentar o uso e a frequência do Vale, especialmente às noites e aos finais de semana

Quem criou: Gestão Haddad com projeto do Escritório Gehl Architects (Dinamarca), financiado pelo Itaú, por R$ 2 milhões, entregue à prefeitura em 2013. Apenas algumas intervenções pontuais nos largos do Paissandu e São Francisco foram implementadas

Quem engavetou: A obra ainda não começou

O que é: O projeto prevê a retirada do "buraco" no meio do Vale, onde ficam banheiros públicos fechados há anos; mudança do mobiliário urbano e quiosques para promover o uso e o movimento no lugar, além de chafarizes controlados eletronicamente e um espelho d'água

Recuperação do Parque D. Pedro 2º

Eliminar isolamento atual do parque, recuperar a várzea do Rio Tamanduateí, conectar os terminais de metrô, ônibus e do Expresso Tiradentes, com passarelas para pedestres

Quem criou: Projeto feito entre 2009 e 2011 por técnicos da prefeitura (gestão Kassab), professores da FAU-USP e três escritórios de arquitetura (Una, H+F, Metropole)

Quem engavetou: Gestão Haddad

O que é: Criaria uma nova praça diante do Mercado Municipal e conectaria o Pateo do Collegio à praça Fernando Costa com escadas rolantes. Faz o rebaixamento de parte da av. do Estado e criaria estacionamento subterrâneo

Bairro Novo

Planejamento de bairro em terrenos vazios Barra Funda e Água Branca

Quem criou: Gestão Marta Suplicy promoveu concurso, vencido por Euclides de Oliveira, Carolina de Carvalho e Dante Furlan

Quem engavetou: Gestão José Serra

O que é: Praças a cada quatro quarteirões com edifícios de até seis andares, lojas no térreo nas ruas principais e prédios multiuso

Nova Luz

Requalificação urbana de 45 quarteirões na área da Cracolândia

Quem criou: Gestão Kassab, por concurso internacional em 2009, vencido pelo consórcio entre a Cia. City, a FGV, a Concremat e o escritório americano Aecom

Quem engavetou: Gestão Haddad

O que é: Com aprovação de leis de Concessão Urbanística (2009), a prefeitura desenvolveu um projeto para a área e, por meio de licitação, um concessionário implementaria o projeto. Cinco mil apartamentos seriam criados, 2152 de moradia popular. Previa três novas praças, calçadas largas e 20 mil empregos

Novo Largo da Batata

Transformação da praça antes da chegada do metrô, com recursos vindos da verticalização da área (Operação Urbana)

Quem criou: Projeto escolhido por concurso em 2001 (gestão Marta Suplicy), vencido pelo arquiteto Tito Lívio.

Quem alterou: Só começou a ser implementado em 2007 na gestão Kassab. Previa uma praça "verde" no eixo da Cardeal Arcoverde, uma "praça das Araucárias", entre a Faria Lima e a Balthazar Carrasco, além de mais mobiliário urbano, uma feira de artes e um centro cultural no antigo terreno da Cooperativa Agrícola Cotia. O arquiteto criticou o serviço do piso que foi instalado.

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