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Percentual de votos nulos, brancos e abstenções aumenta e desperta debate

No último domingo (2), 1.155.850 eleitores da capital paulista, 16,6% dos que foram votar, estiveram diante da urna eletrônica, mas não optaram por nenhum dos 11 candidatos à prefeitura.

O número representa aumento de 30% em relação a 2012, que teve 12,8% de brancos e nulos e é o mais alto desde a redemocratização.

É um contingente maior que a votação do segundo colocado na eleição, o prefeito Fernando Haddad, do PT, que recebeu 967.160 votos -João Doria (PSDB) foi eleito com mais de 3 milhões de votos.

O exemplo de São Paulo se repetiu em outras capitais (ver quadro ao lado) e, segundo especialistas, é sintoma do descontentamento do eleitor com a classe política.

Para o cientista político Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a combinação de duas crises resultou no alto número de votos inválidos. "Nem os políticos nem os partidos deram respostas aos cidadãos sobre a crise da corrupção e nem sobre a crise do estado que não funciona", diz Fornazieri.

"O desgaste era previsível, já que a maioria da população considera que os políticos são corruptos e também não conseguem promover os benefícios e os direitos que os cidadãos necessitam", diz.

"Ficou evidente a dificuldade do sistema político em oferecer alternativas. As pessoas estão desconfiadas dos políticos de carreira que volta e meia estão envolvidos em problemas", disse Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da FGV/EAESP.

"A impressão do eleitor é de que a política não pode mais ser consertada por políticos. O eleitor quer um tipo de moralidade que eles julgam só encontrar fora da política", diz.

O cientista político da USP José Álvaro Moisés diz que a Lava Jato e o mensalão foram determinantes para esse desalento dos eleitores, mas também aponta para problema estruturais. "Essas críticas se acentuaram recentemente depois dos escândalos de corrupção, mas o mau funcionamento das instituições também exerce influência sobre isso", diz.

Moisés cita como exemplo o sistema de lista aberta usado em eleições proporcionais que, na prática, possibilita que "puxadores de votos" elejam outros nomes de seus partidos, muitas vezes desconhecidos dos eleitores.

"Os eleitores não se sentem estimulados a acompanhar o trabalho de quem elegeu. Tanto que muitas pessoas esquecem em quem votaram pouco tempo depois. O sistema político não ajuda a fazer esse nexo de representação", diz Moisés.

O alto descontentamento, segundo os especialistas, é parte de um processo que começou nos protestos de julho de 2013. "Naquela ocasião o movimento pedia a política sem partidos. Hoje, com o aumento da descrença, o recado é a política sem políticos", diz Teixeira.

A derrocada do PT, segundo Aldo Fornazieri, também contribuiu para o clima de descrença. "O PT sempre foi o partido mais enraizado socialmente, implantado em movimentos sociais e o desencanto com o partido certamente provocou frustração em parte dos eleitores", diz Fornazieri.

Editoria de Arte/Folhapress
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