Com escolas ocupadas, até supermercado vira local de votação no Paraná
Estelita Hass Carazzai/Folhapress | ||
Eleitores votam em estacionamento de supermercado em Curitiba |
Com quase 500 escolas estaduais ocupadas por alunos, eleitores do Paraná tiveram seus locais de votação remanejados e votaram em creches, igrejas, unidades de saúde e até em um supermercado.
Em Curitiba, parte do estacionamento de um supermercado foi ocupada por urnas de 11 seções eleitorais, que antes estavam num colégio estadual.
O espaço foi dividido com faixas de isolamento amarelas. Um carrinho de supermercado, em pé, ajudava a demarcar o caminho para o eleitor.
"Eleição é igual a parto: tem que sair, diz a servidora do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) Giovana Barbosa, que trabalha na coordenadoria de planejamento do órgão.
As urnas foram levadas de manhã bem cedo, para evitar furtos à noite. Numa parede aberta, uma lona foi estendida para evitar que chovesse nas urnas. "A gente já passou por alguns apuros, mas não igual a isso. Foi inusitado."
O TRE transferiu todos os eleitores que votavam em escolas estaduais no Paraná, por precaução, para evitar prejuízos à eleição.
Foram 700 mil eleitores deslocados, numa mudança que custou R$ 3 milhões. Em Curitiba, quase a metade dos eleitores teve alteração no local de votação.
OUTRAS CIDADES
No Recife, onde havia dois prédios ocupados por estudantes, foi feita a transferência de 7.913 eleitores.
Já em Belo Horizonte, o TRE fez acordo com os alunos e isolou com fitas a área ocupada no Colégio Estadual Central —onde votaram os dois candidatos à prefeitura e o senador Aécio Neves (PSDB).
Não houve manifestações durante a votação dos políticos, dentro ou fora da escola. Fiscais do TRE permaneceram no local para que os jovens não dessem entrevistas.
A mesma estratégia foi adotada em Maceió, no Instituto Federal de Alagoas, ocupado desde a última quarta (26). Militares fizeram a segurança do local e os alunos ficaram isolados no setor administrativo, longe das seções eleitorais, que ficam nas salas de aula.
Os estudantes protestam contra a reforma do ensino médio, proposta pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB), assim como contra a PEC do teto dos gastos públicos. Parte dos pais e alunos é contra as ocupações e pede a volta às aulas.
COOPERAÇÃO
"Foi tranquilo. Mas eu não apoio as ocupações. É uma falta de vergonha, já virou bagunça", opina o estudante Rodrigo Pereira, 21, eleitor da seção no supermercado.
A aluna secundarista Paula Oliveira, 18, que votou no mesmo local, tinha um pensamento oposto. "Eu sou a favor [das ocupações]. Tem que fazer algo para chamar a atenção do governo."
Segundo a servidora do TRE, a maioria das pessoas colaborou com a mudança. Cartas foram enviadas às casas dos eleitores, e um ônibus foi disponibilizado de graça para os locais de votação mais distantes.
Em frente aos colégios estaduais, três homens do Exército e um policial militar faziam a segurança e orientavam os eleitores que não sabiam sobre a mudança. Não foram registrados incidentes.
Até mesmo o local de votação do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), foi alterado. Ele criticou o transtorno e disse que "está na hora de parar com essa brincadeira", em referência às ocupações das escolas estaduais por alunos.